Ao longo dos últimos anos, a Koei Tecmo tem andado em uma pequena sequência de vitórias. Desde o conturbado lançamento de Dynasty Warriors 9, quase todos os jogos da empresa tem alcançado um bom nível de qualidade, sempre entregando experiências sólidas das quais os jogadores sabem bem o que podem esperar, mesmo que elas não alcancem os resultados financeiros que outras distribuidoras japonesas conseguem.
Parte dessa biblioteca tão consistente é fruto do ótimo trabalho da Gust STUDIOS. A desenvolvedora que foi adquirida pela KT em 2011 e é mais popular pelo seu trabalho com a série Atelier (do recente e fantástico Atelier Ryza: Ever Darkness & The Secret Hideout), além de algumas outras jóias vastamente subestimadas como Nights of Azure e Blue Reflection.
Então, quando o (surpreendente) anúncio de que a Gust estaria trabalhando em uma adaptação para os videogames da amada série Fairy Tail, era de se esperar um produto de qualidade. Não só dada a alta popularidade da série na qual o jogo é baseado, tendo se tornando um mangá muito bem vendido e um anime com mais de 300 episódios, mas pela própria temática se encaixar perfeitamente com aquilo que a Gust faz de melhor.
E é bom poder dizer então que o casamento saiu tão bom quanto esperado, ainda que possua algumas limitações. Primeiro de tudo, é importante deixar claro que Fairy Tail é um jogo feito para os fãs da série, recheado de fan service e capturando alguns dos melhores momentos vistos ali, ainda que conte com um orçamento claramente limitado, até mesmo em comparação com outros jogos da Gust.
O jogo começa após o timeskip de sete anos que ocorre ao fim do arco de Tenrou Island, englobando todos os acontecimentos do Grandes Jogos Mágicos até o final do arco do Tartaros (essencialmente englobando a sexta e sétima temporadas do anime) com o jogador assumindo o controle de toda a guilda enquanto tenta restaurá-la ao mesmo patamar e glória que ela tinha antes de quase todos os seus membros ficarem congelados no tempo.
Então cabe ao jogador ir realizando diversas ações para restabelecer o prestígio da Guilda, fazendo-a sair da parte de baixo da pirâmide até o topo do mundo mágico, cabendo a ele realizar todo tipo de missão para ir aos poucos trazendo o brilho de volta ao nome Fairy Tail, desde os combates mais mortais contra outros magos a simples missões de coleta e extermínio para auxiliar os moradores da região.
Algo que que precisa ser deixado clara desde o começo: mesmo que o jogo faça um pouco para explorar o background dos personagens, se você não conhece Fairy Tail você muito provavelmente vai se ver perdido em relação a quem são essas pessoas e quais as motivações delas. Talvez mais do que qualquer outra adaptação de anime ou mangá da Koei Tecmo, esse é um jogo feito para fãs do material original e que não pensa tanto assim em jogadores que sejam fãs de JRPGs e que queiram conhecer Fairy Tail por aqui, ainda que isso seja possível com um pouco de esforço.
Esse conceito básico de “restabelecer a glória da Guilda” é o que gera o looping básico de gameplay do jogo, com você constantemente retornando a sede para aceitar novas solicitações feitas no quadro que existe ali e recebendo recompensas em dinheiro, itens e reputação para ir avançando na história do jogo, passando por toda a preparação para os Grandes Jogos Mágicos, o próprio evento e além.
É claro, se você é fã da franquia, o jogo é um prato cheio. A Gust sempre teve um cuidado muito grande nos seus roteiros, em especial na forma como os personagens interagem entre si e visto que esse é um dos grandes pontos altos da obra de Hiro Mashima, não é surpresa alguma então que o jogo também tenha nisso um dos seus pontos mais fortes.
Felizmente, ele ainda consegue expandir um pouco mais nisso,uma vez que uma das inclusões específicas do jogo são novos Character Stories, missões secundárias nas quais o jogador poderá explorar mais sobre cada um dos membros da Guilda, liberando o uso deles na sua equipe ativa, além de Bond Events, pequenas cenas que mostram mais das relações entre dois personagens distintos.
Isso acaba tornando a experiência menos linear, visto que muita da qualidade e charme da experiência está no quão bem o jogo captura esses momentos e os constrói, tornando bastante natural a forma como o jogador vai avançando e subindo o nível da Guilda e fortalecendo os seus laços com os demais personagens.
A liberdade de poder realizar as missões com a equipe que você bem entender (salvo por algumas em que certos personagens são obrigatórios) também é uma boa adição e tornam a experiência mais customizável para cada jogador da forma como ele bem entender, queira ele montar um trio com Natsu, Gray e Erza por todo o jogo ou ir misturando os personagens a medida que eles vão sendo liberados (que é o indicado, aliás).
O único problema é que o jogo fica tão preso a fórmula de “vá a guilda, pegue uma missão, cumpra a missão, volte a guilda e pegue uma nova missão” que isso se torna extremamente repetitivo, em especial quando muitas das missões te colocam para explorar os mesmos lugares do mapa várias vezes e essas regiões, no geral, são bem pequenas quando comparadas a outros jogos (apesar de que se você já jogou um jogo da Gust, deve saber o que esperar).
Isso faz com que o design de missões do jogo se torne bastante pobre, algo que é especialmente importante em um JRPG, ficando claro que esse foi um dos pontos que precisou ser sacrificado com o baixo orçamento e tempo limitado de desenvolvimento que a equipe teve. Isso é um problema mais notório para fãs de JRPGs que tenham interesse em Fairy Tail, mas não deverá tirar muito do proveito para os fãs da série que só querem reviver aquela história por um novo ponto de vista.
Onde o jogo não parece ter precisado fazer qualquer compromisso em sua qualidade foi nas batalhas. Como em vários outros jogos da desenvolvedora, Fairy Tail é um RPG por turnos com um foco um pouco distinto do que costumamos ver em outros jogos do gênero e, se Atelier costuma ter o uso de itens como seu pilar principal, aqui, como não poderia deixar de ser, temos o uso de magia.
Em combate, cada personagem possui cinco opções básicas distintas de ação: Ataque, Magia, Itens, Fugir ou Defender (sendo possível desbloquear o modo Awakened posteriormente). Os Ataques são golpes simples e mais fracos que gastam apenas 1 ponto de MP, defender irá diminuir o dano sofrido por ataques dos inimigos, Itens te permite usar itens de cura ou ofensivos e Fugir te permite correr da batalha.
A ação principal, entretanto, é o uso de Magia, através do qual é possível utilizar as poderosas técnicas dos seus personagens contra os inimigos. Cada um dos membros da sua equipe é especialista em magia de um determinado elemento (Natsu em fogo, Grey em gelo, Wendy em magia sagrada e por aí vai) e com certas fraquezas elementais, assim como seus inimigos, sendo importante sempre ter uma equipe balanceada para poder explorar essas fraquezas.
Um elemento diferente e curioso (e levemente remanescente da série Atelier) é que os inimigos ficam distribuídos por um tabuleiro de 3×3 e, apesar de não ser necessário mover os seus personagens por esse tabuleiro, cada técnica possui uma área de efeito dentro dele, sendo sempre importante considerar quantos inimigos serão afetados por cada uma das suas magias (além de efeitos secundários como empurrá-los para trás, causar break que os impede de atacar num turno, paralisia, queimaduras, etc etc).
Cause dano suficiente e o jogador carrega a Fairy Gauge, através da qual é possível utilizar a poderosa Magic Chain, através da qual todos os seus personagens vão atacando em sequência causando o máximo de dano possível a todos os inimigos presentes no campo de batalha (e as vezes até mesmo contando com a ajuda dos Mestres da Guilda), sendo especialmente indicados para lidar com chefes ou inimigos bastante dispersos no tabuleiro (e não é preciso economizá-la para momentos chave porque ela é preenchida bem rápido).
Pela natureza do jogo, todos os personagens começam com uma quantidade considerável de MP, sendo raro se ver sem pontos suficientes para atacar e, caso ainda assim isso aconteça, ao derrotar os inimigos o jogador vai recebendo partículas de Ethernano do elemento daquele inimigo, o que os permite recuperar MP gasto.
O combate é o ponto mais alto do jogo, não só pelo quão bem equilibrado ele é, com vários inimigos oferecendo desafios bem interessantes e que raramente vão te fazer usar o modo de autobattle disponível, mas sendo um espetáculo visual a parte, sendo bem claro que a Gust passou bastante tempo refinando as animações e efeitos de cada magia de cada personagem, capturando um dos principais aspectos do anime.
Isso também é refletido nos ambientes e nos modelos dos personagens uma vez que, apesar de serem pequenos, os mapas são todos muito bonitos e a retratação de todos os habitantes do mundo de Earth Land, por menos relevantes que sejam, ficou muito bem feita, sendo um dos seus grandes destaques técnicos.
Infelizmente, o jogo tem alguns pequenos problemas com o seu framerate/taxa de quadros por segundo, com algumas oscilações bem bruscas tanto pra baixo quanto cima que incomodam bastante, assim como um pouco de serrilhado nos modelos que podem ser percebidos quando se foca demais neles. Apesar de serem problemas pequenos e que não afetam em nada a experiência, é importante mencioná-los.
Nada disso consegue fazer com que o jogo saia dos trilhos. Apesar das limitações com o design das missões e a natureza repetitiva que o jogo acaba assumindo e que pode ser um problema pra alguns, Fairy Tail é um JRPG muito bom em sua estrutura, sistema de combate, essência, ritmo narrativo e interação entre os personagens, que, pelo menos pra mim, são os cinco pilares sobre os quais um jogo precisa ser construído.
Assim, ele acaba sendo exatamente aquilo que se esperaria do jogo quando ele foi anunciado: mais uma bela adaptação de uma série popular pela Koei Tecmo e que, assim como Attack on Titan, Berserk and the Band of the Hawk, Arslan: The Warriors of Legend e One Piece Pirate Warriors, é feito primariamente com os fãs do mangá/anime em mente, mas que faz várias coisas para agradar a fãs novatos ou pessoas que tenham interesse na franquia. Então, se você é fã de Atelier ou fã de Fairy Tail, esse é um jogo que precisa ficar no seu radar.
Jogo analisado no PS4 base com código fornecido pela Koei Tecmo.
Veredito
Apesar de algumas limitações, Fairy Tail é um JRPG muito bom, com um ótimo sistema de combate, belas animações e visual. Tudo isso faz um ótimo trabalho em recontar alguns dos principais arcos da série no qual é baseado, ainda que seu foco em agradar os fãs acabe limitando o seu apelo geral.
Veredict
Despite some limitations, Fairy Tail is a very good JRPG, with a great combat system, beautiful animations and visuals. All of this does a great job of retelling some of the main arcs of the series on which it is based, although its focus on pleasing fans ends up limiting its overall appeal.