Durante o ápice comercial da série Neptunia, a Compile Heart criou a linha Galapagos RPG que consistiu de vários RPGs originais e, entre eles, foi lançado o Fairy Fencer f original que, pessoalmente, foi um dos meus títulos favoritos da linha Galapagos. O título utilizava de clichês clássicos e extremamente batidos para criar uma história divertida, mas que também sabia subverter expectativas conforme avançava sua trama. Posteriormente, foi lançado Fairy Fencer f Advent Dark Force, uma atualização do jogo original que continha todo o conteúdo da sua primeira versão e adicionava duas rotas de eventos alternativos e que detalham ainda mais o mundo e seus personagens. Juntas, as três rotas construíam indícios para uma possível sequência que, até o momento, não se realizou.
Refrain Chord, por sua vez, pode ser considerado como mais um conjunto de rotas alternativas, semelhante às que foram adicionadas em Advent Dark Force. O jogo inicia com o protagonista, Fang, sendo resgatado de uma prisão por sua fada Eryn, semelhante ao começo do original. No entanto, isso ocorre durante um período em que quase toda a equipe já está unida e, portanto, se passaria algum tempo após o começo do Fairy Fencer f original. Infelizmente, com essa abordagem, o jogo já parte do princípio que o jogador tem familiaridade com o original ou Advent Dark Force, sem introduzir adequadamente os personagens, vilões ou motivações de cada grupo. É altamente recomendado já ter uma certa familiaridade com a série antes de jogar Refrain Chord.
A história de Refrain Chord diverge das demais rotas quando Fang e sua equipe encontram Fleur e Al, dois dos novos personagens do título e que são centrais na trama. Fleur é uma cantora que perdeu suas memórias e Al, uma fada com poderes especiais relacionados à música. Ao contrário dos demais fencers e fadas, Fleur e Al utilizam da música para dar suporte aos integrantes que estão batalhando, ao invés de atuarem diretamente em um confronto. Esse conceito é demonstrado na jogabilidade, onde Fleur assume o papel de uma buffer em área.
A trama ainda segue a premissa básica do original: Fang e sua equipe tentam juntar o máximo número de furies (armas que contém fadas) para reviver a Deusa, enquanto que a companhia Dorfa tenta coletar as mesmas furies para reviver o Deus do Mal. De maneira paralela, a história de Fleur e Al também se desenvolve juntamente com a competição contra Dorfa e, assim como visto em Advent Dark Force, é interessante ver como eventos são drasticamente alterados pela influência de novos personagens.
A história em si (ou, pelo menos, uma das rotas) leva em torno de 40 horas e com um andamento bastante inconsistente. Muitos momentos com pouco avanço na história ou com muitos clichês, assim como nos títulos anteriores. Refrain Chord, no entanto, é um SRPG e isso faz com que suas batalhas e o próprio ritmo do jogo seja mais lento que o original ou ADF.
A Sting, produtora do título, é bastante proficiente em criar SRPGs com níveis de complexidade bastante variados, desde os mais simples (Hyperdevotion Noire, por exemplo) até os jogos com mecânicas mais complexas e excêntricas (qualquer jogo da série Department of Heaven: Riviera; Knights in the Nightmare; etc.) e RF se encontra mais próximo do lado da simplicidade nesse espectro, apesar de mostrar vislumbres de melhores usos para suas mecânicas.
A principal mecânica diferenciadora do título está na canção de Fleur que cria uma área onde os personagens obtém melhorias variadas: ataques mais fortes, menor espera entre turnos, maior defesa e por aí vai. Fleur é capaz de aumentar o alcance ou intensidade de sua canção fazendo com que os efeitos atinjam uma área maior ou que sejam mais fortes. O lado inimigo também tem uma cantora e que atua da mesma forma, trazendo melhorias para os inimigos. Quando a área das canções de ambas se sobrepõem, a ressonância faz com que os efeitos de melhoria sejam drasticamente aumentados, ou seja, o melhor posicionamento é sempre em uma área onde o personagem está sobre o efeito da canção das duas personagens.
As demais mecânicas do título foram, praticamente, retiradas diretamente dos jogos anteriores e adaptadas para o formato de um SRPG. Cada personagem tem um companheiro fada e que não pode ser trocado e que, por sua vez, define as principais características daquela unidade. A unidade pode equipar, livremente, uma segunda fada que confere bônus de status e mais algumas habilidades adicionais. A construção do personagem é então finalizada pelo equipamento utilizado (armadura e acessório) e um conjunto de 5 habilidades que podem ser alocadas à unidade. Não é uma construção complexa, mas uma que permite bastante variedade na possibilidade de cada unidade.
Os maiores contrapontos de Refrain Chord (e que também se repetem em vários jogos da Sting) é que sua jogabilidade é funcional e, momentaneamente, divertida, porém uma que também não se preocupa em evoluir durante a duração de sua aventura. Não há cenários de combate originais ou desafiadores, a AI varia entre funcional e estúpida, o balanceamento segue um padrão tão bem definido que mais da metade das habilidades cai em desuso rapidamente e a distribuição de experiência entre os personagens favorece drasticamente os que são jogáveis desde o início. É um SRPG funcional e bom, mas com a recente leva de excelentes jogos no gênero, bom simplesmente não é suficiente.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Idea Factory.
Veredito
Fairy Fencer F: Refrain Chord é recomendado para aqueles que, simplesmente, buscam mais Fairy Fencer F, anos após o último lançamento. A jogabilidade SRPG é uma novidade para a série, mas não é um destaque grande o suficiente para recomendar o título para aqueles que buscam algo focado em estratégia.
Fairy Fencer F: Refrain Chord
Fabricante: Compile Heart / Sting / Idea Factory
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: RPG / Estratégia
Distribuidora: Idea Factory
Lançamento: 23/04/2023
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Fairy Fencer F: Refrain Chord is recommended for those who simply want more Fairy Fencer F, years after the last release. The SRPG gameplay is new to the series, but it’s not a big enough novelty to recommend the title to those looking for something focused on strategy.