E se, quando morrermos, não formos para um “Julgamento Final”, mas para uma torre de desafios? E se, para alcançarmos a salvação eterna, fosse necessário chegar ao último andar da torre, vencendo vários monstros e encontrando outras almas, perdendo aos poucos as lembranças de quem fomos quando vivos?
Essa é a essência básica do conceito por trás de Evertried, jogo brasileiro desenvolvido pela Lunic Games e publicado pela DANGEN Entertainment. E, surpreendentemente, não há muito além disso para o jogador saber antes (ou até mesmo durante) a experiência. Você só precisará tentar descobrir o que está acontecendo e como chegar ao final do jogo.
Isso pode parecer uma piada, mas é realmente a forma como Evertried aborda sua ambientação. Você é introduzido ao jogo com um aviso de que você é um guerreiro morto e cuja única chance de salvar a sua alma é chegar ao final da torre. E então, é direto para a ação. Se vire e descubra o que tá acontecendo à medida que sobe a torre e pronto.
Aos poucos, você encontrará outras almas perdidas nessa torre e descobrirá alguns dos detalhes e mitologia por trás d’A Torre, o lugar para onde as almas que não foram salvas ou condenadas eternamente vão e o desafio que precisam superar para alcançar a dádiva eterna. É tudo bem divertido e interessante, mas você só precisa saber mesmo que o protagonista (uma coisinha fofa equipada com uma foice) era um ótimo guerreiro e um dos mais capazes de vencer o desafio.
Evertried tem uma mitologia bem legal e criativa por trás da sua ambientação, mas ele realmente não se esforça tanto assim em contar qualquer tipo de história. Existem alguns NPCs que você encontrará e conversará ao longo das suas várias jornadas pelos andares da torre (e há um senso de progressão nos diálogos), mas não é nada de muito notório.
E sim, você não leu errado. Várias jornadas pela torre com uma bela ênfase no plural. Evertried é um roguelike, no qual após cada morte você iniciará uma nova subida do primeiro andar, sem conservar nada dos upgrades, recursos e estatísticas adquiridas na sua run anterior, partindo em busca da vitória apenas com o aprendizado de como os sistemas do jogo funcionam.
O gameplay se passa em um grid de 7×7 no qual após o jogador agir, todos os inimigos também irão agir, seja dando um passo ou atacando. Você precisará completar todos os 50 andares da Torre, com cada andar sendo vencido quando todos os inimigos são derrotados, o que é feito ficando ao lado deles e se movendo na direção do inimigo.
É um looping de gameplay bem simples, mas um extremamente desafiador o tempo todo. De várias formas, ele funciona como um misto de quebra-cabeça com jogo de ação, já que apesar de você ter todo tempo do mundo para pensar antes de agir, existe um sério incentivo para se manter sempre em movimento e derrotando os inimigos.
Esse incentivo é a barra de Foco. Trata-se de um medidor que vai sendo preenchido à medida que você ataca e/ou derrota inimigos e vai se esvaziando quando você fica parado. Assim, acaba se tornando bastante importante se manter sempre ativo, seja partindo para cima dos inimigos para derrotá-los ou manipulando os padrões de movimentação deles para forçá-los a sofrerem dano das várias armadilhas espalhadas pelo cenário.
O principal motivo para manter a barra de Foco sempre cheia é que, quanto maior o nível dela, mais fragmentos são obtidos ao derrotar inimigos. Esses fragmentos funcionam como a moeda do jogo e, ao alcançar determinados andares, você poderá adquirir habilidades ou melhorias para o seu personagem que buscam facilitar a sua jornada rumo ao topo da torre.
Essas melhorias vão de reduzir a velocidade de queda da barra à deixar pequenas chamas no local onde você estava após usar um dash. Já as habilidades incluem a construção de pilares de gelo que bloqueiam a movimentação por ele até bombas que podem causar danos aos inimigos.
O que diferencia as duas é que, enquanto as melhorias são coisas passivas e que vão sendo ativadas ao longo da partida quando uma determinada ação é executada, as habilidades precisam ser selecionadas e ativadas conscientemente. Cada habilidade tem um custo diferente, marcando pontos que vão sendo conquistados ao derrotar inimigos naquele andar (com cada novo andar zerando a sua pontuação).
São sistemas bem simples, mas eles funcionam dentro do contexto do jogo. Por mais que, pessoalmente, eu não seja um grande fã de roguelikes, Evertried consegue ter um gameplay tão ágil e desafiador que ele se torna uma experiência muito divertida, especialmente se ela for aproveitada em pequenas sessões de 20, 30 minutos, ao invés de sentar por horas e horas à fio.
Ele, inclusive, faz um ótimo trabalho em te mostrar uma tela final com a sua pontuação, indicando o nível mais alto da barra que você alcançou, quantos inimigos foram derrotados e quantos andares você conseguiu vencer. É importante apontar também que, após 10 andares, sempre há uma batalha com um chefe e elas são bem interessantes (apesar de se tornarem repetitivas e fáceis com o tempo). Após vencê-los, você irá para um novo “bioma”, com novos inimigos e uma ambientação distinta.
Cabe apontar ainda que Evertried tem um estilo visual bem especial, o que torna cada um desses novos ambientes muito agradáveis aos olhos. Ele possui uma das pixel arts mais belas desse ano e realmente merece ser apreciada. A trilha sonora também é bem especial e torna o jogo realmente um belo pacote que deverá agradar aos jogadores.
No geral, Evertried é uma experiência incrivelmente sólida e divertida. Ela se torna um pouco repetitiva em sessões mais longas, mas é inegável que o looping de gameplay é tão bem feito e tão sólido que é capaz de te fazer perder a noção do tempo na busca por uma run melhor, um pouco mais de sorte nas melhorias da loja e evitar aquele erro crucial que causou a sua derrota.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela DANGEN Entertainment.
Veredito
Evertried é um roguelike viciante, com um looping de gameplay capaz de entreter por várias e várias sessões. Enquanto sua duração é relativamente curta e a falta de história atrapalhe um pouco, é uma ótima experiência que merece ficar no seu radar.
Veredict
Evertried is an addicting roguelike with a gameplay loop capable of entertaining over multiple sessions. While its duration is relatively short and the lack of story is a bit of a nuissance, it is a great experience that should be on your radar.