DreamWorks Trolls Remix Rescue – Review

Houve um tempo onde as adaptações derivativas de filmes infantis de sucesso eram tão comuns que havia e tornado comum esperá-las para a mesma época que uma nova produção chegasse aos cinemas tanto quanto os bonequinhos em redes de fast food. Não estou falando de casos como o famigerado jogo do E.T. que simbolizou um período de quase colapso de todo o mercado, mas sim das gerações seguintes, nos 8 e nos 16 bits. Com qualidade bem instável, estas produções, que funcionavam claramente como meras peças interativas de publicidade, foram se tornando mais raras conforme sofriam com as críticas e com uma recepção conturbada, mas elas jamais deixaram de existir. Ainda que não se coloque exatamente como uma adaptação de Trolls 3, mais recente obra cinematográfica desta franquia, DreamWorks Trolls Remix Rescue não deixa de ser um exemplo sintomático deste nicho, com um resultado misto, mas essencialmente fraco.

O jogo, uma aventura de plataforma 3D, tem alguns dos melhores encantos daquilo que já vimos nos três filmes e em outros materiais nas mais distintas mídias, destacando-se o carisma destas criaturinhas adoráveis, um ambiente extremamente colorido e focado no encantamento lúdico, e a sensação de que é um produto realmente dedicado às crianças, e não um jogo mais pretensioso com uma skin fofinha como tantos outros. Assumindo o papel dos protagonistas Poppy e Branch (ou uma versão customizada desse povo), o jogador precisará encarar os desafios de um mundo hipnotizado pelo extravagante vilão para libertar seus amigos de um transe, resgatar o pobre Tiny Diamond das garras do mal e, enfim, salvar o Reino Troll mais uma vez. Se esses nomes não são familiares para algumas pessoas, aqueles que acompanham a franquia vai encontrar neles referências diretas e uma consequente empatia.

DreamWorks Trolls Remix Rescue

Se a trama não parece das mais promissoras, é porque ela realmente não é. As motivações da jornada são ínfimas, pouco explicadas e, no máximo, cumprem uma função protocolar. Não há qualquer propósito palpável, senso de urgência ou intencionalidade para além de só colocar um ou dois pequeninos para pular, escorregar, coletar pequenas jóias e atacar alguns inimigos comuns. Na maioria do tempo, mesmo quando alcançamos pontos de checagem com cenas de corte que nos puxam para a trama, elas simplesmente se mostram desinteressantes e enfadonhas, servindo só para quebrar o já delicado ritmo da ação. Não ajuda nada o fato do jogo estar totalmente em idioma estrangeiro, sem localização para o português nem nas legendas, nem no trabalho de vozes, o que afasta de vez qualquer interesse por parte do público alvo, que são as mesmas crianças que vibram com esses personagens no cinema e na TV.

Mesmo para elas, o fascínio de poder jogar algo em um universo conhecido logo cai por terra quando se veem controlando um monstrinho em fases extremamente genéricas que caberiam em qualquer temática parecida, com um level design pouco inspirado e por vezes contra intuitivo, e com um sistema de colisão deficitário para completar. Recheado de corredores simplórios e plataformas que nem sempre são amistosas, o jogo é cheio de acessos truncados e mal resolvidos, e as vezes é difícil saber se algum canto é para ser realmente acessado ou se chegamos lá por um glitch. A condução do jogo é pobre, principalmente porque desde o princípio exige idas e vindas que são muito mal explicadas e nem um pouco amistosas. Mesmo que saltos e outras ações (como se agarrar em superfícies ásperas ou, mais adiante, planar para ter acesso a novas áreas) funcionem o suficiente, a disposição do ambiente passa por algumas composições sofríveis. Nada é difícil, só é muito mal organizado.

DreamWorks Trolls Remix Rescue

Estes problemas são ainda mais evidentes em dois momentos: o primeiro ocorre principalmente – mas não só – nas passagens onde a câmera se movimenta sozinha em uma ação específica, como por exemplo em perseguições, trechos coreografados e coisas do tipo. Ou ela se arrasta por ângulos mal resolvidos e que dificultam a perspectiva, ou elas nos seguram em quinas esquisitas mesmo quando sabemos exatamente o que deve ser feito. O posicionamento desse ponto de vista é sempre uma questão sensível em jogos do gênero, principalmente os de menor investimento técnico, mas aqui a coisa é realmente terrível, mesmo quando nos deixa livres para ajustar o enquadramento. Para completar, não foram poucas as vezes onde a câmera simplesmente travou em um ângulo bizarro e não permitiu a correção até nos fazer morrer ou até que, aos trancos e barrancos, passemos para a próxima fase.

O segundo e pior desses momentos é o que atrapalha a experiência multiplayer, já que os ângulos exageradamente fechados prejudicam qualquer boa intenção de colaboração entre dois jogadores. A câmera segue, prioritariamente, o player 1, mas sabe-se lá porquê, nem sempre. Quando o segundo jogador sai de tela, o que acontece constantemente porque, afinal, as pessoas são diferentes e podem querer fazer coisas separadamente um do outro, ele entra numa bolha (mais ou menos como em Super Mario 3D World, só que de um jeito ruim) e acaba sendo obrigado a cair onde o outro está, o que pode ser um ou dois metros de onde estava. Jogar com outra pessoa é algo impraticável, e quando um morre, é quase que um alívio para ambos.

DreamWorks Trolls Remix Rescue

Isso tudo não significa, porém, que não haja bons momentos, já que certas passagens tem um bom potencial de entreter. Alguns puzzles são bem adequados à faixa etária para a qual o jogo se destina, testando memorização, reconhecimento de cores e padrões, dentre outras habilidades importantes. Certas batalhas contra chefes também tem bons atrativos de desafio instigante, adicionando doses controladas de emoção à uma campanha que consegue durar pouco, mas ao mesmo tempo parecer arrastada não por estas boas passagens, mas principalmente pelo recheio entediante e pouco convidativo. Você ainda vai acionar dispositivos, solucionar pequenos problemas, aprender novas funcionalidades para ataques corpo-a-corpo ou mais distantes, se esforçar para coletar o maior número de joias possível, mas no final, nada destas coisas parece ser divertido por si, e serve mais como um rito de passagem para algo melhor que jamais chega.

O sistema de checkpoint é o mesmo utilizado para libertar grupos de amigos enfeitiçados. Destes lugares, é possível viajar para outros já libertados, o que nos possibilita voltar a ambientes superados. Com respawn de inimigos e de coletáveis, na teoria o jogo se torna potencialmente infinito, já que repetir lugares significa ter mais recursos para usar na loja do game, também localizada nesses mesmos pontos de acesso. Lá, pode-se comprar novas roupinhas e itens de customização, e não é necessário recomeçar para mudar completamente o seu personagem, bastando visitar o guarda roupas para ter uma versão totalmente diferente da anterior. Na primeira vez isso é até legalzinho, na segunda dá para provar coisas recém-compradas, na terceira se experimenta personagens novos liberados, mas depois, bem, tudo fica um mais do mesmo. Se no começo interessava pegar cada pecinha encontrada, da metade pra frente, a ideia era só seguir adiante e terminar logo.

DreamWorks Trolls Remix Rescue

Se não é especialmente mal construído no que se refere a jogabilidade, DreamWorks Trolls Remix Rescue é um absoluto mais-do-mesmo e que não fosse a alta definição, poderia ser tranquilamente um jogo mediano (pra baixo) de duas, três gerações atrás. Mesmo os visuais, uma profusão de cores, brilho, glitter e texturas bem saturadas, escondem um nível de detalhamento pífio, com superfícies datadas, detalhamento no mínimo esquecível, e com pouco apelo mesmo quando mudamos completamente de ambientação. Cada mundo do jogo, composto por três fases interligadas, traz suas particularidades, algumas soluções que seriam interessantes, como a representação de superfícies líquidas, mas que se conectam mal ao resto e se mostram como uma colagem mal feita de materiais. Salvam-se algumas músicas emprestadas dos filmes, referências aqui e ali, mas só. Pouco, muito pouco.

Curiosamente, são os extras do jogo que mais divertiram a família, mesmo que sem muita coisa de especial. São basicamente dois deles, sendo o primeiro muito mais simples, uma sequência de dança que exige apertar a direção certa em um intervalo de tempo, algo que também pode ser visto em uma infinidade de outros jogos inclusive de natureza mobile, mas que ao menos trata um ou dois jogadores com um bom nível de atenção ao ritmo; e o segundo sendo uma espécie de Guittar Hero que se apropria de músicas originais em sequências divertidas e, de certa forma, desafiadoras considerando o uso dos botões de ombro e os gatilhos como nos bons tempos da famigerada franquia de ritmo. Não fosse a necessidade de jogar a campanha pela análise, estes minijogos seriam facilmente onde eu teria gasto mais horas na minha vivência com o game.

DreamWorks Trolls Remix Rescue

Somando-se todos esses fatores, DreamWorks Trolls Remix Rescue se provou ser aquilo que se tornou corriqueiro neste tipo de produção ao longo das últimas décadas. Despropositado por si mesmo, ele se justifica só como uma derivação marqueteira para retroalimentar uma marca popular para um nicho muito específico, mas mesmo assim acaba se mostrando um exemplo esquecível desse tipo de produto. Funciona, usa de bases já bem sedimentadas no mercado, se apropria de bons visuais criados para outra mídia, mas sem qualquer substância de sustentação, nem mesmo os menos exigentes conseguem se manter interessados por muito tempo. Quando se adiciona problemas técnicos e de desenho que prejudicam as poucas motivações possíveis, como jogar com mais alguém do lado, sobra pouca coisa pra se recomendar.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela GameMill Entertainment.

Veredito

DreamWorks Trolls Remix Rescue é uma coleção de soluções genéricas e pouco inspiradas que tenta se sustentar pelo carisma de uma franquia muito querida por crianças. Falha narrativamente, esteticamente e, principalmente, no fator diversão ao não conseguir se justificar, mesmo quando funciona.

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DreamWorks Trolls Remix Rescue

Fabricante: Petit Fabrik

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Aventura

Distribuidora: GameMill Entertainment

Lançamento: 27/10/2023

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

DreamWorks Trolls Remix Rescue is a collection of generic and uninspired solutions that try to sustain itself through the charisma of a franchise much loved by children. It fails narratively, aesthetically and, above all, in fun factor.