Quando Dragon Quest XI foi lançado originalmente em 2018, o impacto do título pode ser sentido em todos os cantos. Apesar de ainda ser uma franquia de nicho, o mais antigo bastião dos JRPGs finalmente voltava aos consoles (se ignorarmos o MMO Dragon Quest X), 13 anos após Dragon Quest VIII para PS2 (e oito anos após DQIX).
Ainda assim, era difícil prever que o título fosse ser tão amado e aclamado quanto foi por crítica e público. 10 anos desde o seu principal título é muito tempo e, enquanto há um argumento a ser feito sobre como esse espaço de tempo abre espaço para os jogadores sentirem saudades ao invés do constante bombardeio de novos títulos de uma IP (olá, Final Fantasy), ainda era um risco.
Um risco grande quando se tem o gênero se movendo em uma direção cada vez menos afeita a jogos por turnos, em que Final Fantasy é uma franquia de RPGs de Ação e Persona alcançou a beira do mainstream com o seu quinto título. Mas, o mais clássico dos JRPGs fez o suficiente para se modernizar e ainda manter a sua alma e essência, entregando mais uma épica jornada do herói digna do seu nome.
É claro, um dos principais pontos desde o anúncio de seu lançamento era de que Dragon Quest XI iria ter diferentes versões para diferentes plataformas, cada qual com suas próprias peculiaridades. E, enquanto a maioria dos jogadores não teve acesso a versão de Nintendo 3DS, com DQXI sendo, essencialmente, um título de PS4, a sua versão para Nintendo Switch eventualmente foi lançada no Japão e por aqui, intitulada Dragon Quest XI S.
E é essa versão, com gráficos levemente inferiores mas cheia de outras mudanças e melhorias, que agora a Square Enix traz para o PS4, não como um DLC ou conteúdo extra para o título original, mas como um lançamento completamente independente, inclusive com lista de troféus separada.
A decisão de trazer essa versão para o PS4 da forma como está sendo feita causou bastante estranheza inicialmente, mas a jogando fica claro o porquê. DQ XI S traz várias coisas distintas em relação ao jogo de 2018, mantendo todas as suas principais qualidades e expandindo o pacote para torná-lo ainda melhor para os jogadores.
Entre as principais mudanças estão algumas adições de qualidade de vida para o jogador, novos cenários para a história e a inclusão do modo 2D que estava presente na versão de 3DS do título. Tudo isso com a intenção de torná-la a versão definitiva do título (como o próprio nome indica), o que diz muito quando se considera que DQ XI por si só já era um dos melhores RPGs de todos os tempos.
Em sua base, Dragon Quest XI S ainda é o mesmo jogo, contando a incrível história de um herói em sua jornada pelo mundo de Erdrea após descobrir que ele é a reencarnação do Luminaire, um lendário herói que derrotou um mítico monstro e se tornou uma estrela olhando e cuidando do mundo até que uma nova calamidade tornasse o seu retorno necessário.
DQXI segue um ritmo bem deliberado e lento. Enquanto é possível terminar a história, que é divida em três atos principais, com cerca de 70-80 horas, você facilmente vai gastar mais de 100 horas com ela e em torno de 150 horas com todo o conteúdo que o jogo tem a oferecer. E, honestamente, você irá querer passar todo esse tempo naquele universo.
Enquanto a história principal é, de fato, uma das melhores que a franquia já apresentou e acessível para novos fãs tanto quanto é recomendável para novatos da série ou do gênero, o brilho de DQ XI S vem dos seus personagens secundários, em especial os demais membros da sua equipe. O fato de se tratar de uma história sobre esperança é algo que merece ser destacado, uma vez que, definitivamente, é algo que se mostra cada vez mais necessário hoje em dia.
Existe uma ligação palpável entre o protagonista e os seus companheiros, com muito do charme do jogo vindo de conhecer mais sobre personagens tão distintos unidos por um objetivo e uma jornada. E é justamente essa ligação que faz com que cada alto e baixo na jornada tenha um impacto emocional maior e mais recompensador.
Sobre a história ainda é importante dizer que tanto a dublagem em inglês quanto em japonês (outra das novidades dessa versão) são espetaculares. Existem algumas pequenas adaptações feitas para tornar certos personagens mais familiares aos jogadores (ainda mais que o jogo possui uma forte influência de cultura nórdica) e o fato de cada região ter seu próprio sotaque e dialeto ajuda a enriquecer ainda mais a experiência.
Mas, antes de se falar sobre o jogo em si, uma coisa precisa ser abordada: a parte técnica e visual do jogo. DQ XI era um jogo impressionante no PS4/PC, mas era natural que o jogo perdesse um pouco disso quando foi portado para o Switch. Sabendo que essa versão em específico pega os assets da versão de Switch e os transporta para o PS4, era de se imaginar que algumas das perdas visuais fossem mantidas, tornando essa versão inferior à original.
E, enquanto isso aconteceu, a diferença não é tão grande assim. Muito da beleza do título vem do uso do estilo artístico imortalizado por Akira Toriyama, pai de Dragon Ball que faz o design dos personagens de DQ desde o início, e adotado pela série há décadas e que faz com que a mudança de hardware não seja tão sentida quanto um título com estética mais realista.
Assim, independente da versão, é possível perceber o quanto houve de cuidado em tornar a experiência a mais bonita possível, com uma quantidade absurda de detalhes existindo em cada cenário, independente da sua “visão de mundo” escolhida, seja ela 2D ou 3D. Os mapas são vastos, belos e interessantes de se explorar (ainda que não seja um mundo aberto) e o jogo roda perfeitamente, sem qualquer pop-ups, fade-ins, engasgos ou queda de framerate aparente, coisas que estavam presentes na versão de Switch do título.
A pequena redução na qualidade das texturas ou uma outra diferença visual não tem o mesmo impacto que as outras adições trazem ao jogo. A principal delas, é claro, vem pelo modo 2D incluso no jogo que vai muito além de simplesmente mudar a estética, fazendo vários ajustes para torná-lo mais próximo da experiência vista nos clássicos Dragon Quests de NES e SNES.
Um desses pontos é a (quase) completa retirada de animações e dublagem do jogo. Na prática, existe pouquíssima diferença visual entre DQ XI S no modo 2D para outros jogos clássicos da série, salvo pelos assets em alta definição vistos por aqui. O jogo como um todo foi completamente readaptado para esse modo, com os mapas, distribuição das áreas e itens, sendo uma experiência muito mais rápida e compacta do que no modo 3D.
Algumas outras decisões foram tomadas para tornar o jogo mais próximo de um estilo retrô, como a incorporação de encontros aleatórios ao invés de inimigos presentes no mapa (o que acaba o tornando conveniente para caso seja necessário um pouco de grind). Isso faz com que jogar o título em ambos os modos sejam experiências completamente distintas, estendendo o tempo de vida do título por bastante tempo.
A mudança do modo 2D para o 3D (e vice-versa) é feito pelo jogador ao falar com o padre em uma igreja. É interessante que a mudança nunca vai te permitir continuar do exato ponto em que você está, com o jogo lhe apresentando uma lista de capítulos dos quais escolher como ponto inicial. No entanto, você irá manter toda a sua progressão até ali. O curioso é que, como todos os itens são resetados ao mudar de modo, isso se torna uma forma bastante conveniente de conseguir mais itens raros e ingredientes úteis para avançar no jogo.
O combate em ambas as versões é basicamente idêntico, com a diferença ficando por conta mesmo das animações e ponto de vista do combate. DQ XI S usa o mesmo tradicional sistema de combate por turnos pelo qual a franquia é conhecido, contando com uma vasta profundidade nas suas opções estratégicas que devem manter o jogador entretido por horas.
Isso se deve também, em parte, ao vasto sistema de progressão dos personagens. Cada um deles conta com uma expansiva árvore de habilidades que lhe permite aprender como melhor manusear cada arma e como customizar cada uma das classes da melhor forma a se adequar ao seu estilo de jogo. O jogo sempre te incentiva a testar todos os membros da sua equipe para melhor lidar com cada situação e a possibilidade de mudar entre eles no meio do combate é muito bem-vinda.
Uma das outras novidades desse modo é a inclusão de uma área unicamente em 16-Bits chamada Tickington, um local onde os jogadores podem usar as Pastwords ganhas dos Tockles, criaturas espectrais espalhadas por Erdrea. Através dessas Pastwords o jogador pode acessar o mundo dos outros dez jogos principais da franquia e tentar consertar as anomalias ocorrendo nessas linhas temporais, o que é tanto uma bela distração da campanha principal e um banho de nostalgia para os veteranos da série.
Adicione a isso as novas histórias secundárias focadas nos companheiros de equipe do seu herói e as várias melhorias de qualidade de vida e é quase impossível sequer pensar em jogar DQ XI de outra forma que não seja essa versão. Parte disso é a absurda quantidade de melhorias de vida que DQ XI S traz, incluindo a dublagem em japonês, ajustes à velocidade do combate, melhorias para a Fun-size Forge, a trilha sonora totalmente orquestrada, novas montarias, novas opções para o Draconian Mode e a inclusão de um Photo Mode.
Com isso tudo e com as melhorias gráficas trazidas pelo port do jogo para o PS4, o qual conta com um patch para o PS4 Pro e, consequentemente, roda ainda melhor no PS5, fica claro que Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition é, de fato, a versão definitiva desse fantástico título da histórica franquia da Square Enix. O modo 2D por si só já (quase) justifica a aquisição por quem já terminou o título e quer revisitá-lo, mas é inegável que quem ainda não o jogou deve focar nessa versão e não no jogo originalmente lançado para PS4.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Enquanto sua versão original já era um dos melhores títulos do PS4, Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition traz melhorias o suficiente para se tornar, de fato, a versão definitiva do título. Esse é um JRPG obrigatório para fãs do gênero e só mostra que, independente da versão, ela é uma verdadeira obra-prima.
Veredict
Even if the original version was already one of the best PS4 titles, Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition brings enough improvements to become, in fact, the definitive version of the title. This is a mandatory JRPG for fans of the genre and just shows that, regardless of the version, it is a true masterpiece.