Jogar um título lendário quase 40 anos após o seu lançamento traz sempre uma dualidade interessante para a experiência. Por um lado, é quase impossível olhar para aquele jogo sem pensar no impacto que ele teve, especialmente quando se fala de um título que mudou toda a direção de um gênero. Por outro, são quase 40 anos e poucos jogos envelhecem bem ou são refeitos com cuidado suficiente para que consigam se manter tão impactantes e divertidos depois de tanto tempo.
É esse o peso por trás de Dragon Quest III HD-2D Remake, relançamento do título mais importante e influente de todo o legado daquela que é, inegavelmente, um dos dois principais pilares entre os RPGs japoneses. Desenvolvido pela Studio Artdink, estúdio de suporte que tem trabalhado bastante com diversas publishers japonesas e já havia assumido o desenvolvimento de Triangle Strategy para a Square Enix, esse remake busca trazer o jogo para toda uma nova geração agora com a tão bem aceita estética HD-2D que se tornou bem popular nos últimos anos.
E, honestamente, é um remake que faz todo sentido. Apesar de estar mais acessível hoje em dia do que já fora em outros momentos, muito graças à versão para mobile em 2014 e pra Switch em 2019, ainda assim é uma das grandes jóias da coroa dos JRPGs, um título atemporal que precisava estar disponível para um público ainda maior com as devidas atualizações feitas.
Pode parecer estranho lançar um remake do terceiro título da série, mas faz sentido. Apesar dos três primeiros Dragon Quest fazerem parte da mesma trilogia, conhecida como Erdrick Trilogy em homenagem ao título canônico do herói central da trilogia, Dragon Quest III é o primeiro deles cronologicamente, contando o início de toda essa jornada. É um jogo que se tornou imensamente popular pelo seu impacto, trazendo todo o gênero para um novo patamar em termos de complexidade narrativa e de qualidade técnica, tanto visual quanto em seu gameplay.
DQ3 se passa em um mundo que um misterioso demônio chamado Baramos ameaça destruir o mundo. Cabe então ao protagonista, filho ou filha do lendário guerreiro Ortega que parecia ter conseguido derrotar Baramos anos antes ao jogá-lo de um vulcão, partir de sua terra natal de Aliahan para viajar ao redor do mundo recrutando aliados para enfrentar a assombrosa missão.
Vários desafios diferentes vão surgindo ao longo da jornada, mas é uma história bem mais direta, com algumas reviravoltas bem legais, mas, considerando que é um título lançado originalmente em 1988, não espere a complexidade de Dragon Quest XI ou Final Fantasy VII Remake/Rebirth. Ainda assim, é uma narrativa bem legal, te levando ao redor do mundo resolvendo problemas para as pessoas que vão te deixando sempre um passo mais próximo do seu objetivo.
Um ponto interessante sobre DQ3 é que, ao contrário da grande maioria dos JRPGs, a ambientação como um todo parece muito inspirada no mundo real. Apesar dos nomes diferentes, você encontrará cidades aqui baseadas no Japão, Roma, Portugal e Oriente Médio, cada qual com elementos que remetem a essas regiões (de forma bem estereotipada, mas ainda assim buscando ser uma homenagem).
Em termos de história, o remake traz algumas adições bem legais que ajudam muito a expandir não só a narrativa do jogo, mas toda a ambientação da trilogia em si graças a episódios especiais que recontam pontos antes inexplorados como a jornada do pai do protagonista, Ortega, em sua batalha anterior contra Baramos. É, sinceramente, um dos pontos mais legais desse remake e se encaixa muito bem dentro da estrutura do título e enriquecendo-o demais.
Falando em exploração, o remake traz uma série de melhorias de qualidade de vida. A primeira delas é, naturalmente, o visual excepcionalmente bonito que o jogo agora tem graças ao estilo HD-2D que torna o jogo uma maravilha de se admirar em cada um dos seus pequenos detalhes. É o tipo de identidade visual que, independente do jogo, sempre cativa o jogador.
Fora isso, o jogo agora traz indicadores de onde estão itens caídos no chão espalhados pelo mundo, há um minimapa em dungeons, áreas secretas a se encontrar e maior facilidade para entrar e sair de dungeons. Ele traz ainda a adição de uma Monster Arena em cada cidade, cada qual com seus próprios desafios que te permitem lutar usando monstros resgatados dentro do seu time. E, claro, a trilha sonora também recebeu uma bela repaginada.
O jogo agora permite salvar em igrejas, como é tradicional na série, ao invés de precisar visitar castelos para salvar, adicionou não só um pedido de progresso para a história e para os seus objetivos e uma exclamação acima dos NPCs com quem você precisa falar para avançar nas suas missões. Além disso, o funcionamento da opção de descansar mudou, agora sendo possível mudar de dia para noite ao descansar em uma estalagem sem precisar usar uma magia específica para tal.
Sobre o combate, bem, ele é o seu já esperado RPG por turnos com cada personagem agindo na ordem pré-definida pelas estatísticas dos personagens. Não há nada de novo ou inesperado se você está familiarizado com o gênero, mas tenha em mente que isso é muito graças ao fato de que DQ3 ajudou a criar esses padrões, então um remake fiel ao original sempre seria assim.
Isso não quer dizer que o jogo não trouxe melhorias aqui também. A primeira delas é a inclusão do sistema de habilidades, técnicas não-mágicas que podem ser utilizadas durante o combate que não havia no jogo original. Além disso, novos monstros foram adicionados, equipamentos da sua vocação aparecem no seu modelo de personagem, a possibilidade de acelerar o ritmo de combate, novas magias e itens, a adição de uma estatística de Defense (antes a defesa era calculada via Agility) e a adição da recuperação de HP e MP ao subir de nível são todas muito legais.
Por fim, o sistema de classes do jogo, aqui chamadas de vocações, também recebeu uma adição bem legal. Isso se dá na forma de uma vocação totalmente nova chamada de Monster Wrangler que funciona como um misto de ataque e suporte, te dando acesso a habilidades de cura enquanto e a ataques contra múltiplos inimigos de uma vez só. Além disso, todas as vocações anteriores seguem existindo aqui, com o jogador podendo montar sua party como bem preferir.
A única reclamação sobre esse título excepcional, e uma que eu já havia feito durante o preview, é a falta do português como idioma disponível para legendas. O jogo traz legendas em vários idiomas, incluindo espanhol e espanhol latino-americano, então é especialmente incômodo para um RPG como esse não ter legendas em nosso idioma. Seria bem legal para novos jogadores terem essa opção, especialmente considerando que a Square Enix vem tendo bastante cuidado com o mercado brasileiro, mas não foi dessa vez.
Embora seja um problema que esperamos que seja resolvido para o lançamento dos próximos dois jogos da trilogia com os já anunciados Dragon Quest I-II HD-2D Remake, o resumo da ópera é que, não só Dragon Quest III HD-2D Remake atualiza muito bem um clássico atemporal, mas só reforça a importância de trazer jogos históricos como esse para a atualidade, mostrando que ele mais do que merece um lugar dentro do mercado atual de games.
O que temos aqui é uma obra excepcional que vem para começar a puxar a cortina de 2024 com o mesmo nível de qualidade de vários dos grandes expoentes desse ano. Embora mais simples do que vários dos novos títulos lançados, a sua combinação única de importância histórica, charme, narrativa cativante e gameplay divertido o tornam tão bom quanto um dos melhores vinhos, só melhorando com o tempo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Dragon Quest III HD-2D Remake é um clássico atemporal com gameplay e narrativas simples que envolvem e cativam o jogador. O título entrega uma experiência primorosa de ponta a ponta graças a sua miríade de bem-vindas melhorias, gráfico estonteante e deliciosa trilha sonora.
Dragon Quest III HD-2D Remake
Fabricante: Artdink
Plataforma: PS5
Gênero: RPG
Distribuidora: Square Enix
Lançamento: 14/11/2024
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Dragon Quest III HD-2D Remake is a timeless classic with simple gameplay and narrative that engages and captivates the player. The title delivers a polished experience from start to finish thanks to its myriad of welcome improvements, stunning graphics, and delightful soundtrack.