Doki Doki Literature Club iniciou sua trajetória em Setembro de 2017, lançado gratuitamente para PC. Team Salvato, o grupo responsável pelo seu desenvolvimento, criado por Dan Salvato, desenvolveu essa visual novel e lançou para o mercado, de forma despretensiosa, sem cobrar pelo jogo. Após um boom na internet, alvo de inúmeras especulações atrás de arquivos do diretório do jogo, da história por trás dos personagens e por conta de subverter tão bem o gênero, a publisher Serenity Forge é a responsável por publicar o jogo para consoles, incluindo PlayStation 4 e PlayStation 5.
Doki Doki Literature Club Plus conta a história do protagonista, nomeado pelo jogador, que se afilia ao clube de literatura de sua escola, após o convite inesperado e insistente de sua amiga de infância, Sayori. No clube, o protagonista conhece também Monika, a competente presidente do clube, Yuri, a leitora ávida e antissocial, e Natsuki, a garota fofa que encarna o papel de “tsundere” do grupo. Com o jogador e suas quatro colegas, o palco de DDLC+ está montado.
Durante seus primeiros dias no grupo, o protagonista irá se aproximar e conhecer melhor suas colegas, assim como dar o pontapé em interesses românticos com elas. Cada uma a seu estilo, o jogador decide a rota seguida através de escolhas nas conversas, assim como os poemas que escreve a cada dia – desafio criado pelo grupo, cada membro escreve um poema por dia e compartilha com os outros, para se conhecerem melhor.
Logo, além das escolhas de diálogo, a escolha das palavras que irão compor o seu poema dita com quem o protagonista irá se aproximar mais. Palavras como “saltitante” combinam mais com o estilo de Natsuki, enquanto “desastre” combina mais com a personalidade reservada e sombria de Yuri. Natsuki, Sayori e Yuri são as colegas em que o jogador pode cortejar com seus poemas.
É claro que, como alguns já devem conhecer, Doki Doki Literature Club vai além do dia-a-dia de um clube de literatura do colegial. Sem adentrar no tema para evitar spoilers para quem ainda não jogou, o jogo faz uma subversão do gênero de romance em visual novels, fazendo com que o jogador tenha de presenciar cenas totalmente inusitadas e até mesmo chocantes.
Cabe aqui o aviso sobre o jogo: assim que você inicia, o jogo mostra um informe que temas adultos serão mostrados no jogo. Se você decidir continuar, pode pedir que alguns sejam anunciados logo nesse informe, para ter uma noção do que se trata. Há também uma opção de acessibilidade para que o jogador ative um mecanismo que, antes de cada cena sensível, apareça um aviso do que será discutido ou mostrado na cena a seguir.
Essa subversão do jogo é bastante controversa e apesar de não agradar a todos, foi o que fez com que o jogo explodisse no seu lançamento. Tudo que o jogador construiu até o momento será jogado de cabeça para baixo e, de certa forma, um “novo jogo” começa a partir dali. Não aconselho DDLC+ para jogadores que tenham questões sérias de depressão e outras questões psicológicas, ou para esses, aconselho pesquisar muito antes de decidir jogar este jogo.
Dito isso, temos então a primeira parte do pacote de Doki Doki Literature Club Plus, que abrangia até então apenas o lançamento original gratuito para PC. A nova versão inclui muito mais do que o jogo original. Inicialmente, o jogo todo “roda” dentro de uma interface de computador, ou seja, assim que você abre o jogo, você passa a controlar uma espécie de computador, em que pode escolher o jogo principal, as histórias paralelas, além de conferir um navegador de e-mails, conferir as músicas e imagens obtidas, assim como conferir as opções gerais.
Em termos de conteúdo novo, temos então as histórias paralelas, que são obtidas e destravadas conforme o jogador vai terminando as rotas de cada garota no jogo original, totalizando seis histórias paralelas, divididas em duas etapas cada. Já tendo jogado a versão original antes, admito que estava um pouco cético quanto a uma nova versão para consoles, agora paga, em que o conteúdo talvez não valesse o preço de algo que já estaria, em grande parte, gratuito para PC.
A questão foi que as histórias paralelas me surpreenderam e muito. No geral, essas histórias contam o passado do clube de literatura, desde que Monika decidiu criá-lo e passando pela adição de cada membro do grupo e a sua jornada interior de aceitação, respeito e entendimento entre elas. Agora sem a subversão do gênero, essas histórias trazem pontos doloridos e reais de cada uma, de como elas, na dor e desentendimento, conseguiram se juntar e seguir em frente com o clube, apoiando umas as outras.
A duração de uma rota do jogo principal pode durar até quatro horas, podendo chegar a seis horas para jogadores que querem presenciar todas as cenas, pulando o diálogo já lido, opção disponível no jogo. As histórias paralelas, no seu total, também chegam por volta de quatro horas no total, dobrando a duração do jogo. Por si só, acredito que as histórias paralelas valem a pena o preço do jogo mesmo para aqueles que já jogaram a versão original e curtiram o que viram.
A arte e trilha sonora do jogo emulam a experiência de uma visual novel japonesa. Apesar da arte em si não ser a minha favorita em relação a certas poses de certas personagens, a trilha sonora do jogo é simples, porém muito efetiva. Cenas mais… Sensíveis, por assim dizer, mostram como uma trilha sonora simples pode ser utilizada como potencializador. As novas faixas para as histórias paralelas então são as minhas favoritas, principalmente as faixas mais tristes.
Para jogadores que quiserem ir além do jogo principal e das histórias paralelas, os “arquivos” da interface de PC que o jogo mostra quando você inicia também trazem um mistério a ser desvendado, com arquivos que podem ser deletados, arquivos que não podem ser abertos até que se faça algo específico ou mesmo arquivos que aparecem dependendo do ponto do jogo em que você chega.
O jogo possui diversos idiomas, entre eles o português do Brasil. Jogar pela primeira vez em português depois de jogar a versão original em inglês há muitos anos foi uma experiência um pouco estranha, e apesar de ser uma tradução competente em grande parte, alguns pontos soam um pouco estranhos quando traduzidos para o português. Fora isso, o jogo não possui qualquer dublagem que seja, o que eu acho que foi uma oportunidade perdida quando se trata de uma versão, agora paga e completa, de um jogo sem dublagem.
A obra do Team Salvato, que rompeu barreiras com o lançamento despretensioso e gratuito para PC, agora chega para consoles com melhorias importantes e relevantes, além de conteúdo adicional que expande a história e os sentimentos das personagens. Para aqueles que, levando em conta todos os avisos de temas sensíveis, aceitam dar uma chance para esse jogo, definitivamente não se arrependerão. Grandes surpresas esperam os jogadores que nunca jogaram ele antes, e as histórias paralelas são boas o suficiente para aqueles que jogaram o lançamento original e estavam esperando por mais desse universo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Serenity Forge.
Veredito
Subversivo, chocante e até mesmo comovente, Doki Doki Literature Club Plus traz para os consoles um pacote definitivo para todos jogadores, fãs e jogadores de primeira jornada.
Veredict
Subversive, shocking and even touching, Doki Doki Literature Club Plus brings a definitive package to consoles for all players, fans and new players alike.