Remakes. Nos últimos anos tem sido cada vez mais recorrente vermos remakes de grandes jogos sendo desenvolvidos. Pessoalmente, sou a favor dessa prática quando o intuito é tornar um jogo mais acessível, atualizá-lo ou aproveitar a tecnologia atual para recriá-lo conforme a visão original. Para a surpresa de muitos, no início deste ano foi anunciado Epic Mickey Rebrushed, remake do título de mesmo nome exclusivo do Nintendo Wii, e felizmente posso adiantar que ele não decepciona.
Nossa jornada começa com Mickey encontrando uma maquete de uma cidade criada por Yen Sid. Curioso, o camundongo resolve terminar a obra do feiticeiro, mas acaba causando caos e destruição ao derramar tinta e solvente em cima da maquete e criando o Mancha Sombria. Mickey foge, mas algum tempo depois ele é capturado e levado para dentro deste mundo chamado Terra Desolada. Sem entender que lugar é aquele, Mickey encontra o gremlin Gus e juntos vão em busca de uma maneira de saírem daquele lugar. É a partir daí que somos apresentados à primeira criação de Walt Disney: Oswald, o coelho sortudo.
A Terra Desolada é, na verdade, uma cidade habitada por personagens esquecidos da Disney. Se você tem mais de 30 anos, provavelmente se lembra de figuras como Clarabela e Horácio. Encontrar essas figuras no game desperta não só um sentimento de nostalgia, mas também de melancolia, já que a história conversa de maneira direta com jogadores dessa faixa etária. É natural termos esquecidos desses personagens depois de tantos anos e isso é válido até na visão do próprio Mickey. Tendo estrelado tantas animações, ele também não se lembra deles, mas sente-se triste ao se dar conta disso. Eu cresci assistindo esses desenhos e não pude evitar de compartilhar do mesmo sentimento do camundongo. Pode parecer estranho, mas isso mostra o nível de profundidade da história e de como ele consegue quebrar barreiras e tocar os jogadores.
Inicialmente, Oswald não aceita ter Mickey em sua cidade e é interessante compreender seus motivos, afinal Mickey “roubou” toda sua fama e glória. Por outro lado, Mickey não entende o que está acontecendo na Terra Desolada, mas aos poucos percebe que aquilo são as consequências de seus atos na oficina de Yen Sid. E aqui entra um dos grandes pontos fortes do game, a história de Epic Mickey é toda centrada na mecânica de escolhas e consequências. Em diversos momentos Mickey poderá decidir como agir – destruir ou salvar um chefe, restaurar um lugar, libertar personagens, entre outros. Essas decisões afetam diretamente o desenrolar da história e o mundo ao seu redor desde como os NPCs o tratam até a soluções para puzzles e lutas de chefes.
Epic Mickey é um game de aventura, plataforma e principalmente exploração. Sua gameplay é simples, com Mickey munido de um pincel mágico que dá a capacidade de restaurar objetos com tinta ou dissolvê-los com solvente. Em cada uma das áreas que visitamos há diversas maneiras de chegar ao objetivo final estando diretamente ligada ao sistema de consequências mencionado anteriormente. Mickey também enfrentará inimigos durante sua jornada, sendo eles os respingos e os mecatrônicos. Como o próprio nome sugere, os respingos são feitos de tinta e, portanto, possuem duas maneiras de serem derrotados: dissolvendo-os ou transformando-os em amigos. Quanto os mecatrônicos, criações do Cientista Maluco, um dos vilões do games, precisamos remover sua pintura e atacar o ponto fraco. O combate é bem simples, permitindo um foco maior na exploração.
Durante a história, Mickey terá algumas áreas principais para visitar, sendo a mais importante de todas a Rua Intermediária. Nelas você poderá encontrar lojas, NPCs e diversas missões secundárias. Interagir com os personagens é recompensador, liberando novas missões que trazem novas decisões e consequências. Esse é o loop do game e apesar de parecer repetitivo, acredite meu caro leitor, não é. Epic Mickey consegue ser um jogo extremamente divertido, maduro e ao mesmo tempo quase que relaxante.
Ainda falando sobre a gameplay, para conectar as diferentes áreas Mickey terá de encontrar projetores que nos levarão para belíssimas fases 2.5D. Originalmente, essas fases funcionavam como uma espécie de loading interativo na versão de Wii e, uma vez jogadas, não poderiam mais ser acessadas. Em Rebrushed isso muda e, além de contar com novas fases, agora será possível acessá-las através de um cinema localizado na Rua Intermediária. Essas fases são focadas em plataforma e, apesar de curtas, exalam nostalgia sendo todas inspiradas em curtas animados da época dos anos 20~50 indo de Mickey e o Pé de Feijão, Steamboat Willie a Os Alpinistas, Os Fantasmas Solitários e muitos outros.
Rebrushed não é apenas um remake um pra um do original de Wii e conta com algumas pequenas adições que trazem ótimas qualidades de vida para o título. Mickey agora possui novas habilidades: correr com L3, dar um dash pressionando círculo, deixando o combate mais dinâmico e realizar um golpe para baixo durante o salto com triângulo. A melhoria mais significativa de todas é a câmera livre, permitindo ter controle total da mesma o que contribuiu ainda mais para a exploração, algo muito parecido com o que já tínhamos em Epic Mickey 2: Poder em Dobro. Durante a exploração controlamos a câmera livremente e ao utilizarmos o pincel, o botão da câmera se transforma no controle da mão de Mickey. Tudo funciona muito bem e não tive problemas em alternar entre os modos.
Um ponto que talvez possa desagradar os jogadores é impossibilidade de voltar para áreas já exploradas, resultando em missões secundárias fracassadas. Ao meu ver isso é uma decisão de design que funciona para a temática do jogo e não me incomodou, pelo contrário, contribuiu para que eu tentasse resolver todas as missões possíveis e explorasse cada canto em busca de coletáveis como broches e artes conceituais. Coletar esses itens não gera impacto algum na história, mas é um adendo interessante que já existia no original, e para o remake a Purple Lamp criou novos segredos e coletáveis.
Ainda falando sobre as comparações, o exclusivo de Wii contava com belíssimas cenas animadas em 2D e em Rebrushed elas continuam presentes. Entretanto, senti falta de uma dublagem nelas, algo que já não tinha no original, mas que aqui seria um adição interessante. Seguindo o que foi feito em Epic Mickey 2, Rebrushed também conta com textos localizados para o português brasileiro. No que tange ao visual, a direção de arte do game é de encher os olhos respeitando o material original, mas ao mesmo tempo conseguindo deixar o mundo da Terra Desolada ainda mais sombrio. A trilha sonora dá o toque final e te leva por completo para uma parte esquecida do universo da Disney.
Epic Mickey Rebrushed é, sem dúvidas, um dos remakes mais competentes da atualidade. Sua história madura e até mesmo melancólica nos faz refletir e seus múltiplos finais elevam seu fator replay. Um game que se destaca em um mar de títulos “mais do mesmo” e mostra que ainda há muito espaço para o gênero. Não se deixe enganar pela temática Disney, Rebrushed é, sem sombra de dúvidas, uma das grandes surpresas do ano e traz boas horas de diversão com ótimas sequências de plataforma e exploração. Um jornada espetacular pela passado da Disney que irá agradar os fãs de longa data e conquistar os jogadores de primeira viagem.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela THQ Nordic.
Veredito
Disney Epic Mickey Rebrushed é um remake necessário, competente e que respeita o original deixando o que já era bom ainda melhor. Sua história madura conversa muito bem com os jogadores mais velhos e abre um novo mundo para os mais novos ao nos transportar por uma viagem para o passado da Disney. Um game com ótimo fator replay, gameplay simples e intuitiva e uma duração na medida certa que mostra que o gênero ainda tem muito a oferecer, trazendo um ar de novidade em meio a tantos jogos mais do mesmo.
Disney Epic Mickey: Rebrushed
Fabricante: Purple Lamp
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / Aventura
Distribuidora: THQ Nordic
Lançamento: 24/09/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Disney Epic Mickey Rebrushed is a necessary and competent remake that respects the original, making what was already good even better. Its mature story speaks well to older players and opens up a new world for younger players by taking us on a journey through Disney’s past. A game with a great replay factor, simple and intuitive gameplay, and a length that is just right, showing that the genre still has a lot to offer, bringing a touch of novelty amidst so many games that are more of the same.