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Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board! – Review

Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba é, sem sombras de dúvidas, meu anime favorito da atualidade e muito provavelmente se tornará um dos meus preferidos da vida. Não por acaso, o (nem tão) recente Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- The Hinokami Chronicles, do qual falamos bastante há aproximadamente três anos na ocasião do seu lançamento, continua sendo um daqueles jogos para o qual volto de tempos em tempos, mesmo tendo as suas limitações. O anúncio de uma nova entrada na franquia nos games, com sua versão para Playstation surgindo há pouco menos de dois meses, obviamente me causou interesse e um certo grau de curiosidade pelo estilo, digamos, pouco ortodoxo.

Afinal, Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! fica no extremo oposto do que se poderia esperar de uma série – seja nos mangás, seja no audiovisual – que mesmo ainda se estabelecendo dentro de um segmento bastante convencional, é evidentemente voltado para um público um pouco mais maduro por tratar de temas psicologicamente pesados, bem como abusar de uma violência gráfica pouco sutil. Um jogo de festa é, definitivamente, algo que eu não conseguiria antecipar, ainda que as bases mecânicas adotadas aqui caibam em basicamente qualquer contexto. Curiosamente, esta é a primeira produção da marca que pude compartilhar com a minha filha pequena, reconhecendo que muito do que é visto aqui é podado e deslocado para caber na classificação indicativa mais amena.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

O jogo é, nada mais, nada menos do que uma versão descarada do que vemos em games digitais de tabuleiro no estilo Mario Party. Não vou afirmar que o jogo se parece com a sub-franquia de grande sucesso de gincana do encanador bigodudo, porque isso não faria jus ao que este jogo é. Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! é uma cópia ipsis litteris de absolutamente tudo o que foi feito do outro lado do muro, com alguns poucos ajustes e parcas tentativas de criar um vínculo mais próximo com o que já foi visto na eterna batalha entre os caçadores de demônios e os famigerados onis. Considerando que o jogo já debutou no sistema atual da Nintendo em abril, chegar agora ao Playstation parece ser uma forma de alcançar um público que tem menos relação com o gênero, e portanto potencialmente mais carência em coisas do tipo.

Em resumo, aqui encontramos uma coleção de cinco tabuleiros, cada qual representando um dos grandes arcos vistos até o momento na adaptação televisiva de Demon Slayer, envolvendo desde o início do treinamento do jovem Tanjirō Kamado para se tornar um guerreiro e vingar a sua família enquanto tenta curar sua única irmã sobrevivente, até o Arco da Vila dos Ferreiros. A temática de cada cenário, claro, não vai para muito além de uma ambientação para a jogatina, já que este jogo está muito pouco preocupado com quaisquer questões narrativas, algo que se resume simplesmente a curtíssimas cenas requentadas de algumas batalhas do anime. Se fica evidente que parece ser uma produção dedicada aos fãs, há muito pouco cuidado com a lore representada, com muita coisa simplesmente jogada ali para quem quiser reconhecer.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

Por sua vez, a dinâmica das partidas é facilmente incorporada não só por quem já jogou coisas parecidas nos videogames, mas também com quem está familiarizado com boardgames mais simples no mundo analógico: cada tabuleiro é dotado de caminhos lineares com casas a serem percorridas conforme o arremesso de dados. Cada ponto do trajeto tem sua particularidade, como a aquisição ou perda de moedas, o encontro fortuito com inimigos, ações de prejuízo para adversários e coisas assim. Há o estabelecimento de um ponto aleatório a ser atingido que premia o primeiro a alcança-lo com um tipo especial de moedas, estas que determinam o vencedor da partida. Consequentemente, vence quem tiver mais destas moedas ao final das rodadas.

Se este objetivo tiver sido estabelecido no período noturno, ele marca também o encontro com um dos chefões do cenário, que são os mesmos que aparecem na série, mas que aqui pouco fazem diferença porque o sistema de enfrentamento é muito parecido entre eles, se baseando em uma coleção de quick time events, os famigerados (e já fora de moda) QTE. Há uma quantidade bem significativa de variáveis para saber como estes inimigos devem sem encarados, envolvendo sorteios, roletas e afins, além do quanto se ganha com a vitória e tudo mais, mas em síntese, chegar lá dá mais pontos do que ser o melhor dentre os concorrentes na batalha, o que significa que ter sorte nos dados é melhor que ser preciso e competente no combate.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

Jogar dados normais ou especiais, e arriscar com a sorte em outros formatos é, portanto, o tipo de regra que precisa ser compreendida e aceita nesse tipo de proposta, e Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! está longe de querer subverter o formato. No final de cada rodada, sobretudo das iniciais (exceto por algumas em uma sequência confusa de requisitos) há sempre um minigame disfarçado de treino para os espadachins, colocando os jogadores, individualmente ou em times, para disputar algo rápido e inusitado, mas nada que faça tanta diferença assim, porque o tipo de moeda ganho aqui serve só para comprar alguns itens especiais, como adições aos dados, mudanças nas casinhas do tabuleiro e coisas assim, mas que tem bem pouca influência no resultado final. É possível vencer todos, por exemplo, e ser o último colocado, e vice-versa.

É aqui onde há a maior diferença na premiação em relação à sua referência mais óbvia: enquanto as estrelas, em Mario Party Superstars, por exemplo, são compradas com esse tipo de moedinha, aqui a pontuação principal independe delas, o que desvaloriza todas as ações que as utilizam como premiação e compromete o balanceamento da partida. Se bons jogos do tipo sabem equilibrar a sorte com a habilidade, aqui tudo se mostra muito mais pautado pela aleatoriedade, e a disputa direta nestas pequenas pelejas acaba se provando um extra, não parte essencial da dinâmica, o que seria um problema maior se estes momentos fossem mais inspirados.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

Isso porque, com exceção das batalhas contra chefes, todas as demais disputas são completamente desconectadas com a franquia e se provam só um plágio mal disfarçado de outros games. Colocar Hashiras para desenhar em torno de formas, jogar badminton, descer um barranco de trenó, pescar ou disputar partidas de algo que se parece com um nível de principalmente de Guitar Hero é de um desvio conceitual gigantesco. Estas atividades simplesmente não condizem com a ambientação histórica, com o tom da obra original ou com o universo ali representado, mesmo que diegeticamente haja espaço, entre uma batalha ferrenha e outra, para um pouco de humor e leveza.

Em palavras mais diretas, nada disso faz sentido, incluindo os mais divertidos, mesmo que usemos toda nossa boa vontade com a suspensão da descrença para imaginar que uma gincana é a forma lúdica desse povo treinar habilidades como memória, atenção, reflexo e força. Curtir o jogo depende de nós simplesmente ignorarmos qualquer tipo de vínculo real com personagens e lugares ali citados e aceitar que aqui tanto faz ser Demon Slayer, Scooby-Doo ou Chaves, porque é como se esse game fosse uma forma vulgar de se reaproveitar os modelos do jogo de luta anterior para vender um produto qualquer com verniz novo.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

Dito tudo isso, há que se reconhecer que Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! é satisfatoriamente funcional. Os tabuleiros são diversificados o suficiente, com alguns deles segmentados em partes distintas que demandam viagens especiais. A aleatoriedade dos pontos de objetivo adiciona uma capacidade de virada de jogo interessante, já que não prever para onde o objetivo vai significa que não dá pra se planejar com tanta antecedência. A possibilidade de mais variáveis, como um companheiro adicional, tipos diferentes de dados e casinhas diversificadas que oferecem pontos extras é algo que sempre cria uma camada de resultados inesperados, o que só pode ser bem-vindo em um jogo de festa, desde que os jogadores compreendam que vencer é algo que quase sempre independe da perícia com os controles.

Já para quem quiser deixar de lado toda a jornada pelo tabuleiro, há, como não poderia ser diferente dadas as inspirações do game, um espaço totalmente dedicado para disputas somente dos minigames. Quanto mais se joga o modo principal, mas modalidades são liberadas neste espaço complementar, e não é raro ser este o local onde mais passaremos o tempo, principalmente quando acompanhados. Uma pena que aqui não há muitas preocupações com manter o registro de recordes e outras marcas importantes para uma disputa assíncrona. Não dá pra saber se você bateu a quantidade anterior no pula-cordas ou se jogou seus adversários mais rapidamente para fora da tigela de peões no melhor estilo beyblade medieval. A competição é pontual, momentânea e descartável.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

Como legado de tudo o que se faz, resta os colecionáveis dedicados a personalização do cartão do jogador e de sticks de reação, coisas que podem ser adquiridas e equipadas em uma sessão específica e que funcionam, para quem se aventurar a jogar on-line, como uma forma interessante de identidade dentro do jogo, enquanto que para quem se restringe ao jogo local, acaba servindo meramente como uma galeria de artes. Não é grande coisa, algumas horas já são suficientes para se liberar tudo aquilo que se deseja, mas não deixa de ser algo que traz algum material que pode agradar os fãs, já que o gameplay não tem muito a oferecer para essa finalidade. Para se aprofundar na mitologia criada pelo mangaká Koyoharu Gotouge, o já citado The Hinokami Chronicles continua sendo a melhor referência dentro do mundo dos games.

E se em termos de história não temos nada o que celebrar aqui, ao menos o visual é bastante fiel ao que se espera de uma versão tridimensional deste universo. São poucos os personagens disponíveis, todos extremamente semelhantes às suas versões no jogo de luta visto anos atrás, e até vilões e NPCs parecem ter sido tirados de lá sem qualquer tipo de adequação ou atualização. Já os cenários são bastante pobres e, como esperado, funcionam como um plano de fundo quase genérico para um tabuleiro comum, enquanto que muitas interfaces de vários minigames são feias, masl definidas e desleixadas. Os diálogos, quando não são só resmungos e palavras soltas, até que estão presentes em quantidade suficiente, mas sem legendas em português, não fazem lá tanta diferença, salvo aqueles que explicam as regras do jogo.

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

No final das contas, Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! é um grande catadão de um monte de coisas que tem, em si, um valor intrínseco respeitável, como o ciclo de jogabilidade de jogos de festa altamente atraente, as artes fidedignas e bem adaptadas do anime tradicional e a qualidade de juntar uma série de pequenos joguinhos em um pacote diversificado que pode ser aproveitado por pessoas de todos os níveis de habilidades e, surpreendentemente, de todas as idades. Porém, não dá pra deixar de sentir aquela sensação de comida requentada, aquela que as vezes mistura tudo o que sobrou da semana na geladeira, sem muita identidade própria. Pode até ser algo proveitoso, algo gostoso que remete a prazeres anteriores, mas que por si só, como um conjunto coeso, não consegue se sustentar.

Considerando que as partidas on-line vão depender muito da popularização do jogo, algo que é bem difícil de prever nesse período pré-lançamento (quanto tivemos a oportunidade de jogá-lo para avaliação), considere que a verdadeira diversão da experiência está na possibilidade de dividi-la com mais pessoas localmente. Para o single player, o ritmo lento, mesmo quando a CPU está acelerada, e o desequilíbrio entre a aleatoriedade e a competência, somados, são quase proibitivos, mesmo que uma possibilidade. Com muito de Mario Party e só a casca de Demon Slayer, não espere aqui mais do que uma cópia de luxo, uma mecânica aplicada a uma skin licenciada que evita se arriscar, e exatamente por isso é só mais um jogo de azar com menos alma que um oni decaptado.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela SEGA.

Veredito

Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! pode até parecer um produto dedicado aos fãs da célebre franquia dos caçadores de onis, mas acaba se resumindo em uma cópia mal equilibrada de outros jogos do gênero, sem muito a oferecer que não uma diversão morna para tardes preguiçosas em família.

55

Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- Sweep the Board!

Fabricante: CyberConnect2

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Party Game

Distribuidora: Aniplex / SEGA

Lançamento: 17/07/2024

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Sweep the Board! may seem like a product dedicated to fans of the famous demon hunter franchise, but it ends up being a poorly balanced copy of other games in the genre, without much to offer other than lukewarm fun for lazy afternoons with the family.