Desenvolvido pelo Blackgate Studios, em parceria com o Programa PlayStation Talents da Sony Interactive Entertainment da Espanha, Delirium é uma aventura gráfica inspirada pelos clássicos jogos point-and-click do início dos anos 90. Nesse jogo de temática engraçada e cheia de eventos mirabolantes, você assumirá o controle de Lola, uma adolescente rebelde, aficionada por rock n’ roll e que tem entre seus melhores amigos o seu gato de estimação: Lagsania.
A história começa quando, na calada da noite, Lola acorda repentinamente com o barulho da porta de seu quarto sendo fechada. Ao perceber que seu amigo Lagsania havia sumido, ela resolve sair para procurá-lo, mas surpreendentemente descobre que estava trancada dentro de seu próprio quarto. Desconfiada de seu irmão Danny, resta agora a Lola tentar encontrar uma saída, para confrontar seu irmão sobre o sumiço de seu gato.
Assim somos apresentados à jogabilidade de Delirium, que não foge em nada das tradições do gênero point-and-click: explorar cenários, vasculhar objetos, dialogar com os personagens e solucionar quebra-cabeças. Os controles funcionam de maneira satisfatória. Os analógicos servem para controlar a posição da câmera e do cursor. Já os direcionais são utilizados para analisar, interagir, dialogar e reposicionar a câmera. Com o triângulo você tem acesso à mochila de Lola, onde ficam armazenados os itens que foram adquiridos, e que devem ser usados para solucionar os enigmas. Ainda dentro da mochila, também é possível combinar alguns itens e obter dicas sobre a melhor forma de usá-los.
Após passar por um pequeno tutorial e solucionar seu primeiro quebra-cabeças, você sairá do quarto e conhecerá o irmão de Lola. Danny é fissurado por games e um bagunceiro de plantão. Ele passa a maior parte do seu tempo se dedicando à sua atividade favorita: transmitir jogos online. Ao ser questionado por Lola sobre o sumiço de Lagsania, Danny de imediato nega sua participação e se oferece para ajudá-la. Juntos, os dois começam a explorar melhor a casa da família à procura de Lagsania, porém rapidamente percebem algumas coisas estranhas e fora do lugar. Convencidos de que aquela não seria apenas mais uma noite normal, só lhes resta agora trabalhar em equipe, se quiserem escapar da realidade maluca de Delirium.
A ambientação de Delirium merece destaque, com sua arte gráfica fazendo uso da tecnologia Cell Shading, para trazer um visual de história em quadrinhos ao jogo. O bom-humor é a proposta principal. Para isso, Delirium conta com uma enorme quantidade de referências à cultura pop. São tantos easter eggs e referências diretas ao mundo da música, jogos, filmes, quadrinhos e séries, que é praticamente impossível encontrar todas elas. Só que muitas dessas referências são escancaradas demais, tornando-as a principal característica do jogo e deixando sua história em segundo plano. Por mais que possam produzir boas risadas durante algumas situações, fica a impressão de que essas referências foram exageradas. Isso é ainda mais evidenciado quando, ao final da campanha, somos surpreendidos por um cliffhanger, que ao invés de criar um suspense para uma continuação, acaba trazendo a sensação de uma história incompleta.
A câmera é na perspectiva em primeira pessoa e, para se locomover pelo ambiente, será necessário explorar algum objeto para aproximar-se dele. Não há movimentação livre pelos cenários, tudo é feito através da interação ou reposicionando a câmera para a posição central. Isso não chega a ser um problema mas torna a exploração um pouco confusa em alguns momentos. Há também situações que acontecem pequenos travamentos durante as transições de câmera, mas sem causar grandes prejuízos ao jogo.
A trilha sonora de Delirium não é muito variada, mas é agradável. Porém os efeitos sonoros não são bem balanceados e podem incomodar em alguns momentos. É o caso, por exemplo, de um efeito de curto-circuito elétrico que chega a ser irritante, especialmente para os que optarem pelo uso de um headset.
Uma característica importante deste estilo de jogo, os quebra-cabeças de Delirium podem ser considerados de nível razoável. Nas poucas vezes em que fiquei preso em algum enigma, consegui encontrar a solução em questão de poucos minutos. Ao todo foram cerca de duas horas para finalizar a história. Se juntarmos tudo isso ao fato de a campanha se passar somente no interior da casa de Lola, isso me deixou com a sensação de o jogo ser curto demais e um pouco repetitivo.
No fim das contas Delirium não é um jogo ruim. Com uma boa arte gráfica e sua ambientação repleta de referências, ele pode agradar aos fãs do gênero point-and-click que buscam uma experiência com o apelo nostálgico dos jogos clássicos dos anos 90. Mas, ao mesmo tempo, a falta de maiores desafios e a dependência dessas referências acabam deixando-o sem uma posição de muito destaque dentre os jogos do gênero.
Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela Gammera Nest.