Uma das mais tradicionais celebrações nos países de língua inglesa, o Halloween vem ganhando cada vez mais espaço nas terras tupiniquins. Por conta disso, não seria absurdo imaginarmos que a temática proposta por Death or Treat já bastaria para atrair nossa atenção. Claro que, quando falamos de um roguelite, uma boa ambientação é um dos fundamentos básicos para assegurar seu sucesso. Mas há outras características que precisamos ponderar, para sabermos se ele é capaz de se sustentar perante à repetição que é tão comum ao gênero.
Death or Treat se passa no mundo de Hallowverso, onde os habitantes da cidade de Hallowtown simplesmente perderam a vontade e a expectativa pelo Halloween. Tudo isso por conta do surgimento de uma droga, conhecida como Historium, lançada no mercado pelo famoso empresário fundador do Facebuu!, Clark Zuquebergue.
No controle de Terrível, o simpático fantasma proprietário do Ghost Mart, principal fornecedor de doces para o Halloween, você será enviado em uma aventura por um mundo repleto de ameaças horripilantes (aliás, nem tão horripilantes assim), para tentar derrubar o Facebuu!, assim garantindo a manutenção dos seus negócios e o sucesso do Halloween.
Do ponto de vista da história, não espere muito além disso. Death or Treat não é um jogo que vai se destacar por uma trama complexa, cheia de personagens bem desenvolvidos e uma conclusão surpreendente. Sua proposta é apostar em uma boa ambientação para criar uma temática divertida, sem deixar que se torne entediante.
Para isso, o jogo conta com um mundo construído por uma arte gráfica 2D muito bonita, desenhada à mão e animada de maneira convencional, criando um identidade que lembra muito os clássicos do desenho animado e dos quadrinhos. Confesso que fiquei muito satisfeito com o que foi apresentado na direção de arte de Death or Treat, inclusive pelas boas lembranças que me trouxe de desenhos como Gasparzinho e também das ótimas histórias da Turma do Penadinho, da obra do nosso genial Mauricio de Sousa.
Também é comum encontrar no mundo de Death or Treat inúmeras referências à cultura moderna, principalmente da internet. Toda a ambientação do jogo se passa em locais que fazem essas referências. A começar pelo próprio Facebuu!, passando por suas divisões: Darkchat, RipTok e DiaboTube. Na cidade de Hallowtown uma de suas mais conhecidas lojas é a Necrosoft, liderada por ninguém mais, ninguém menos que Aboborill Gates. Claro que também há uma enorme quantidade de trocadilhos, que aqui foram muito bem adaptados na ótima localização para português brasileiro presente no jogo. Tudo isso contribui para criar um mundo onde o bom-humor acaba sendo um de seus principais pilares.
A trilha e os efeitos sonoros de Death or Treat também são bem condizentes com toda essa ambientação e exercem um papel muito bom, principalmente por não serem cansativas ao ponto de se tornarem chatas ao longo das runs.
Falando sobre as runs, com certeza esse acaba sendo o principal tema a ser analisado, pois será a base para determinar se o jogo é capaz de se sustentar como um bom roguelite.
Você começará sua jornada na cidade de Hallowtown e esse será sempre seu ponto de partida para suas runs. É na cidade que você poderá comprar upgrades e novas armas que, nesse caso, uma vez adquiridos, serão seus em definitivo. De início não há muito o que ser comprado, já que todas as lojas estarão desabilitadas. Mas, conforme você for explorando mais o mundo de Death or Treat, conseguirá cada vez mais recursos para habilitar as lojas da cidade, assim tendo acesso a mais possibilidades, fazendo com que cada run se torne mais consistente.
Os recursos em Death or Treat aparecem em duas principais formas: doces e materiais. Os doces são basicamente a moeda do jogo e podem ser conseguidos explorando os cenários e derrotando inimigos. Já os materiais são obtidos de inimigos específicos, dos chefes finais e também de tesouros escondidos nos mapas.
No total são quatro mapas em Death or Treat, cada um representando uma divisão da Facebuu!. Esses mapas apresentam uma certa aleatoriedade em sua geração, podendo variar alguns layouts e o posicionamento de inimigos. O jogo possui uma curva de dificuldade mediana, sendo que para avançar por cada mapa foram necessárias cerca de quatro runs. Alguns inimigos são exclusivos de seus mundos, mas também é comum encontrar inimigos repetidos entre eles.
Death or Treat sofre um pouco com seu level design. Isso acontece devido aos mapas compartilharem algumas semelhanças entre si. Mesmo contando com um sistema de geração aleatório, essa pouca variedade será mais sentida quanto maior for seu tempo investido.
As lutas contra os chefes são bem simples e apenas requerem algumas tentativas para que entenda seus padrões. O maior desafio acaba sendo chegar até os chefes com uma quantidade decente de vida, já que, como nos jogos desse estilo, a recuperação de vida é limitada.
Também é comum encontrar upgrades e habilidades nos mapas, que vão durar apenas até o fim daquela run. Eles podem conter mais espaço para mochila, buffs para dano, agilidade e vida, um companheiro para te ajudar no combate, um explosivo que será lançado ao pular, dentre muitos outras.
Essas habilidades podem ficar em áreas de transição ou também em salas opcionais, sendo importante explorar todo o mapa ao invés de só correr para o boss final. O mesmo vale para os baús de tesouros, que podem resultar em materiais mais raros, numa quantidade extra de doces ou em corações para recuperar sua vida. Esse baús normalmente ficam escondidos em passagens secretas e em lugares de acesso mais restrito.
Antes de enfrentar os chefes você também terá acesso à loja de poções do Chapeleiro. Essas poções serão aleatórias, só sendo reveladas para você após comprá-las. Elas podem garantir benefícios, alguns malefícios ou até mesmo coisa alguma. Isso é um mecanismo interessante pois acrescenta um pouco de risco, caso queira apostar na sua sorte antes de uma boss fight.
Ao final de cada run você receberá os doces coletados e poderá escolher os materiais que deseja levar para a cidade. Caso consiga derrotar o chefe, terá a opção de continuar para o próximo mapa ou retornar para a cidade. Se optar por continuar, manterá todas as habilidades que encontrou para o próximo cenário. Cada vez que for iniciar uma nova run você será enviado para o primeiro mapa, mas também poderá acessar um portal direto para um mapa específico, caso tenha os materiais para desbloqueá-lo.
O combate se caracteriza como o de um jogo hack and slash, oferecendo boas alternativas para combos que, quando combinados com as opções de armas e habilidades, se torna o seu grande atrativo. Um destaque positivo fica exatamente para as variações de armas, podendo ser leves, pesadas e de longo alcance. Essas armas possuem características distintas de habilidades, fazendo com que haja mais possibilidades para você jogar da maneira que se encaixar no seu perfil, ou como melhor se adaptar para cada mapa.
Também fazem parte do sistema de combate suas três habilidades. Elas variam entre um bumerangue, uma habilidade de controle de grupos de inimigos e uma espécie de golpe explosivo. Todas podem ser melhoradas na loja da cidade. Esses upgrades aumentam o dano e mais algumas características específicas de cada uma delas. Se ainda levarmos em conta que elas também podem ser aprimoradas por benefícios encontrados nos mapas, no fim das contas esse sistema adiciona ainda mais alternativas ao combate.
Aqui devo dizer que esperava por um nível um pouco melhor de desafio pois, ao final da campanha, ainda me deparei com muitos itens e melhorias para serem liberados, sem maiores objetivos que me motivassem a continuar jogando. Isso acaba prejudicando o combate do jogo, pois mesmo diante de tantas opções de upgrade, ainda fui capaz de concluir a campanha com uma das primeiras armas que liberei.
No geral, a progressão de Death or Treat se mostrou um tanto inconsistente. Muito disso por conta da aleatoriedade de drops de materiais, em especial os provenientes de alguns inimigos incomuns e dos chefes. Essa situação fica pior em runs consecutivas, pois você terá que abrir mão de materiais por não possuir espaço suficiente na mochila para carregá-los. Após a conclusão da campanha, o jogo se torna um farm cansativo por itens.
Na parte técnica há alguns problemas a serem considerados. Pequenos travamentos são comuns em momentos onde você coletar uma maior quantidade de doces e itens ao mesmo tempo. Isso ocorre com frequência e pode atrapalhar sua run em situações onde estiver rodeado por inimigos. Erros de colisão foram encontrados, com alguns inimigos ficando presos em elementos do cenário. Há também a constante presença de screen tearing, o que atrapalha sua movimentação entre os cenários. Mas o bug que mais me incomodou aconteceu ao finalizar o boss do terceiro mapa quando ele estava em movimento, e ele simplesmente travava, me impedindo de prosseguir. Isso aconteceu por diversas vezes e só fui capaz de resolver esse problema ao forçar o fechamento do aplicativo.
Em resumo, Death or Treat ainda pode ser considerado um jogo divertido, sendo uma boa opção para os que apenas quiserem concluir sua campanha, sem se importarem com seu valor de replay. Com sua temática muito agradável e um bom sistema de combate, Death or Treat também é indicado para todas as idades.
Mas não podemos esquecer que aqui temos um roguelite. E é exatamente nisso que Death or Treat decepciona. Pois ele até oferece uma boa quantidade de melhorias e equipamentos para serem liberados, mas a repetição de cenários para conseguir os materiais necessários para conquistá-los não se justifica nesse caso.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Perp Games
Veredito
Death or Treat é um jogo com um combate e ambientação muito divertidos e capaz de garantir bons momentos por algumas horas. Mas, como um roguelite, acaba sofrendo pela ausência de desafios e a consequente falta de motivação para continuar jogando-o por muitas vezes.
Death or Treat
Fabricante: Saona Studios
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / Plataforma / Roguelite
Distribuidora: Perp Games
Lançamento: 11/05/2023
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (Inclusive Platina)
Veredict
Death or Treat is a game with a very fun combat and setting, capable of guaranteeing a good time for a few hours. But, as a roguelite, it ends up suffering from the lack of challenges and the consequent lack of motivation to continue playing it for many runs.