Você não precisa ser fã de RPG para saber que existem centenas de jogos do gênero espalhados por aí. Porém, o que você precisa saber, é que existem títulos conceituais, que carregam consigo um charme diferente. Este é o caso de Cris Tales, jogo da Dreams Uncoporated e distribuído pela Modus Games.
Cris Tales era para ter sido lançado em novembro de 2020. No entanto, segundo os desenvolvedores, o título precisava de mais tempo para ficar polido. A atitude foi compreensível, afinal, ninguém queria cair na mesma cilada que foi o lançamento de Cyberpunk 2077.
O dia finalmente chegou, e Cris Tales está entre nós. Pelos vídeos apresentados, muitos jogadores podem não dar muita atenção, pois como eu disse anteriormente, ele segue um conceito diferente, principalmente no que diz respeito aos gráficos. Mas devo dizer que o título me surpreendeu de muitas maneiras positivas.
O que você faria se pudesse ver o passado e o futuro? Crisbell, a protagonista de Cris Tales, vive esse drama no jogo. Com o “fardo” do título de Maga do Tempo dado após despertar os poderes do mural da catedral, a personagem começa a ser capaz de ver o que aconteceu e o que ainda acontecerá no mundo.
Com a ajuda de Matias, o sapo falante de chapéu, e seus amigos, Crisbell deve impedir que a Imperatriz do Tempo dê início a uma nova guerra em Crystallis, que funcionará como um “efeito dominó” para o fim do mundo. Porém, para ser capaz de fazer isso, a protagonista deverá explorar os cinco reinos em busca dos murais para então, evoluir seus poderes e impedir a destruição.
Durante toda a aventura, Crisbell carrega o peso daquele velho ditado nas costas: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Embora ela pareça frágil no início, a personagem começa a aceitar o seu destino e que foi a escolhida para impedir a Imperatriz do Tempo de seguir com seus planos. No entanto, essa “aceitação” repentina faz parte da minha primeira crítica ao jogo.
Em muitos momentos, Cris Tales parece “quebrar” o ritmo. Os acontecimentos não se encaixam, pois mudam repentinamente, sem fluidez para o próximo tópico da trama. Na própria abertura já é possível perceber isso, pois no ápice da música, ela simplesmente é cortada, sem qualquer explicação. Mas não se preocupe, pois isso não dura para sempre. Em determinado momento, a coisa toda começa a acontecer de uma maneira mais funcional, deixando esses cortes bizarros de lado.
Muito provavelmente você deve estar pensando que a história de Cris Tales é clichê e sem graça. Afinal, estamos falando do famoso “temos que salvar o mundo da destruição eminente”. Mas não é bem assim que as coisas funcionam.
Durante toda a jornada, você irá se deparar com muitos momentos de reflexão. Isso porque Cris Tales trata sobre diversos assuntos, tais como xenofobia, abandono, traição e até mesmo briga política. Embora o título tenha esse visual infantilizado, ele traz vários temas da vida real e que, em nenhum momento, são tratados com leveza para amenizar algo. No entanto, também existem sim os seus momentos de descontração para tirar esse “peso” de alguma forma.
Outro ponto que chama muita a atenção aqui, é em como eles conseguiram quebrar a sensação do óbvio. Em uma parte mais avançada do jogo, você acaba se surpreendendo com as revelações, que nada tem a ver com aquilo que pode ter sido pensado inicialmente. É um tanto complicado dizer isso sem citar situações específicas, mas garanto que é um verdadeiro choque para quem está jogando.
Para tornar toda essa aventura ainda mais dramática, todos os personagens têm vozes. Isso mesmo. O cuidado que o estúdio teve em dar esse toque extra, torna o jogo ainda mais gostoso de se jogar, pois é possível sentir a emoção das falas de cada um dos personagens. A dublagem, inclusive, é sensacional, mas infelizmente não há legendas em português, ponto que pode afastar os jogadores que não dominam uma segunda língua.
Em conjunto com a arte do jogo, o gameplay de Cris Tales consegue ser extremamente fácil, divertido e fluído. Embora seja um pouco incômodo no início vagar pelas cidades com um triângulo que mostra todos os cenários do tempo, você acaba se acostumando, e até admirando a beleza (ou não) das cidades no passado e comparando com o futuro.
A visão do passado, presente e futuro dá a Crisbell a importante missão de mudar ou não o destino das pessoas e/ou cidades. Todas as ações tomadas em Cris Tales impactam diretamente na vida dos personagens. Se você ver que a cidade está destruída no futuro, será preciso completar algumas side quests para impedir que aquilo se torne realidade. Caso algo fique para trás, há grandes chances de alguém morrer no caminho.
Embora seja muito legal ser capaz de mudar o destino das pessoas no jogo, há algo que pode incomodar. Todas as cidades no futuro estão destruídas, de alguma forma. Mesmo que você consiga completar todas as quests e impedir o pior, apenas um único prédio é restaurado, e isso não impacta em nada no visual dos reinos. Parece que, mesmo que seja possível transformar algo, a visualização do passado, presente e futuro continua a mesma. Talvez isso aconteça por conta da distinção do tempo, que pode ficar mais fácil, mas não há como ter certeza.
E já que o assunto quests e side quests entrou em pauta, é preciso dizer que elas podem irritar um pouco. Nada em Cris Tales é por acaso, e isso é bom. Porém, ao mesmo tempo que a repetição se faz necessária, ela pode acabar torrando um pouco a paciência do jogador.
Todas as missões são misseable, e mesmo que seja possível voltar às cidades mais a frente na aventura, você não tem como completá-las, já que o destino final de cada uma delas é selado quando Crisbell sai do local.
Aqui também existe um backtracking gigantesco e cansativo, e como os reinos são minúsculos, a maioria das dungeons acabam sendo dentro das próprias cidades. Isso, inclusive, pode ser visto como um movimento inteligente para aproveitar ao máximo cada pequeno pedaço. No entanto, a reciclagem transforma os calabouços em mais do mesmo, além de uma variação não muito vasta de inimigos.
Embora Cris Tales deixe um pouco a desejar no quesito inimigos e dungeons, as batalhas divertidas acabam compensando. Existem diversas formas de derrotar os oponentes, e com a ajuda do Cristal do Tempo de Crisbell, é possível ver diferentes versões do mesmo monstro. Alguns deles, por exemplo, podem ficar mais fortes, enquanto outros podem morrer instantaneamente em condições especiais.
Outra coisa interessante dentro das batalhas é a forma como cada personagem se comporta. Embora os embates sejam por turnos, cada herói tem seu próprio gameplay, o que deixa tudo ainda mais diversificado. Um deles, por exemplo, usa uma roda no melhor estilo “cassino” para decidir qual será o próximo ataque.
A economia do país não está lá aquelas coisas, mas parece que a situação em Cris Tales também não é das melhores. A inflação chegou com tudo no reinos, e não será nada fácil pagar um absurdo em uma simples poção que cura apenas 120 de HP.
Além dos itens consumíveis serem caros, os inimigos não costumam dropar muito dinheiro no início. Mesmo em momentos mais avançados, é preciso ter um equipamento que aumenta a quantidade de Marbles ganhos. A verdade é que se manter bem equipado em Cris Tales custa caro.
E se você está pensando que os tesouros podem ser uma saída para evitar os gastos exorbitantes, é melhor pensar de novo. De fato, é possível encontrar os itens das lojas em baús espalhados pelos cenários, ou até mesmo conquistá-los como prêmios de side quests. No entanto, muitas vezes só será possível encontrar esses itens mais tarde no jogo, mas que acabam sendo essenciais para as batalhas atuais. Tendo isso em vista, você se vê obrigado a juntar uma grana absurda para deixar todo mundo igualmente forte.
Quando eu comecei a jogar Cris Tales, pensei que seria um dos melhores RPGs que já joguei neste ano. Porém, conforme fui avançando, percebi coisas que, infelizmente, me fizeram diminuir a nota final. Mas não o suficiente para falar que o jogo é ruim ou que não vale a pena. Pelo contrário.
Cris Tales tem uma das artes mais bonitas que já vi num jogo. No PS5 tudo é tão colorido e vivo, que faz você ficar impressionado, mesmo não sendo algo extremamente realista. As batalhas são divertidas e existe uma infinidade de possibilidades, o que aumenta bastante a vontade de sair distribuindo porrada por aí nas mais de 30 horas de gameplay.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Modus Games.
Veredito
Cris Tales tem seu nível de repetição que pode irritar um pouco os jogadores, mas a história é intensa e a quantidade de reviravoltas faz com que você fique extremamente ligado em tudo e com curiosidade do que vem em seguida. Além disso, os gráficos, bem como as batalhas e aventura em si, casam perfeitamente, transformando a jornada de Crisbell e seus amigos em uma boa opção para os amantes do gênero.
Veredict
Cris Tales has a level of repetition that can annoy players a bit, but the story is intense and the amount of twists makes you extremely attached to everything and curious about what comes next. Furthermore, the graphics, as well as the battles and the adventure itself, match perfectly, making the journey of Crisbell and her friends a good option for lovers of the genre.