Corpse Party: Blood Drive é o terceiro e último jogo da trilogia Corpse Party, que apesar de ter seu início no PC, foi pelo PSP que conseguiu tração e assim a plataforma recebeu os dois primeiros jogos da série. A série é conhecida pelo seu terror japonês característico, que lembra as histórias de terror conhecidas em animes e filmes antigos.
Antes de prosseguir com a análise, eu preciso fazer este aviso: Blood Drive é a sequência direta do último capítulo de Book of Shadows, o segundo jogo da série, que por sua vez é a sequência direta do primeiro jogo da série. Desta forma, esta análise acabará contendo spoilers para os dois primeiros jogos, de forma que Blood Drive encerra a história direta dos jogos anteriores. Fica aqui o aviso.
Blood Drive começa dois meses depois do fim do último capítulo de Book of Shadows. Após os acontecimentos trágicos dos dois primeiros jogos, os sobreviventes precisam seguir em frente sem os seus amigos que perderam na escola Heavenly Host. Ayumi Shinozaki, após falhar em reviver os seus amigos no final de Book of Shadows, e perder a sua irmã no processo, é avisada por Aiko Niwa que Ayumi e seus amigos não conseguiram derrotar a escola amaldiçoada, e que de fato ela ainda existe e faz novas vítimas todos os dias.
Depois de vasculhar o apartamento de Makina Shinozaki (sua parente distante e tia da Hoshie Shinozaki, mãe da Sachiko, a grande vilã do primeiro jogo), Ayumi descobre uma caixa com pedras que a possibilita viajar de volta para onde tudo começou, Heavenly Host, para talvez conseguir encerrar a história de uma vez por todas e recuperar os seus amigos mortos na escola.
A história acaba seguindo Ayumi e todos os outros sobreviventes da tragédia, além de personagens novos na trama, todos voltando para Heavenly Host de uma maneira ou de outra, a fim de descobrir por que a escola ainda está na ativa e, consequentemente, salvar o mundo. Um novo vilão, uma nova dinâmica e um mal ainda mais forte do que Sachiko o esperam nessa nova Heavenly Host.
Blood Drive traz de volta o gameplay do primeiro jogo, com gráficos novos em 3D pela primeira vez na série. Você controla vários personagens através dos corredores amaldiçoados de Heavenly Host, fugindo de fantasmas, procurando pistas de como prosseguir no jogo e interagindo com objetos. Aqui vem a minha primeira crítica ao jogo: as perseguições de fantasmas.
Aqueles que jogaram o primeiro jogo devem lembrar das cenas em que é preciso fugir de fantasmas de certos personagens do jogo, e que caso fosse pego, resultava no game over. Blood Drive busca naquelas cenas algo para se repetir através do jogo inteiro, o que torna o jogo extremamente frustrante em várias partes. Para prosseguir na história, você precisa explorar as salas de aula, os corredores, interagir com os objetos e descobrir como avançar.
O jogo pune a exploração feita pelo jogador, já que caso você resolva seguir um caminho diferente do necessário para prosseguir no jogo, há uma grande chance de encontrar fantasmas que irão te perseguir, quer você fuja para outras salas ou mude de corredores. Sua única arma contra eles são poucos talismãs encontrados em pontos escassos do jogo ou entrar num armário sem que o fantasma o veja entrando, já que se ele te flagrar tentando se esconder, ele te puxará de lá e continuará te perseguindo. Não ajuda o fato de que o jogo te pune ao sair do caminho necessário para prosseguir na história, mas o mesmo nunca te dá informações o suficiente para saber onde ir na maioria das vezes.
Blood Drive também traz para a exploração a barra de HP (pontos de vida), que cada personagem possui, que é diminuída toda vez que é atacado por fantasmas, anda por cima de pedaços de vidro, cai em buracos, entre outros. Não obstante, também existe o “darkening”, que seria equivalente à sanidade dos personagens ser drenada aos poucos, quando interage com qualquer objeto que não seja necessário para a história, quando vasculha os restos mortais de outros personagens na escola ou quando é surpreendido por tentáculos escondidos em pedaços de sangue e carne no chão.
Além disso, outro ponto favorito dos jogos anteriores volta em Blood Drive: os finais ruins durante os capítulos. Então vem mais uma crítica: para quem jogou os jogos anteriores, uma das melhores partes era descobrir os finais ruins, extremamente detalhados pelo texto, pelos sons, gritos, gemidos, revelando mortes completamente inusitadas para os protagonistas. Em Blood Drive, não. Os finais ruins ainda estão presentes em quase todos os capítulos, mas grande parte acaba no momento em que você é capturado ou faz uma escolha errada no jogo. Nada de descrições, nada de gemidos, nada de mortes elaboradas. É o game over com uma tela diferente. Levando em conta os jogos anteriores, Blood Drive ficou devendo e muito nesse ponto.
Como dito acima, o jogo adota um novo sistema de gráficos em 3D, em contrapartida do primeiro jogo, com seus gráficos em sprites (estilo RPGMaker) e no segundo jogo, em que o jogo era basicamente uma visual novel (retratos de personagens e texto). Os personagens ficam com um estilo “chibi”, que pode ser considerado um pouco infantil, o que não combina exatamente com a estética do jogo, mas o maior problema em relação aos gráficos é a performance do jogo. Blood Drive tem sérios problemas de framerate (slowdown, para esclarecer o ponto). Muitas vezes, principalmente perto do final do jogo, parece que você está jogando em slow motion, o que em um jogo onde você é perseguido por fantasmas e todos tipos de inimigos, significa morte certa em inúmeras vezes.
O jogo inteiro é legendado em inglês e dublado em japonês. Assim como os dois primeiros jogos, Blood Drive faz uso da tecnologia de áudio binaural, que possibilita a gravação de vozes de forma que pareçam estar vindo de perto ou de longe do jogador, de um lado ou de outro. Tem um grande problema em se tratando da dublagem, quando você mal consegue ouvir o diálogo na maioria das vezes, enquanto outras falas conseguem ser ouvidas normalmente. O jogador precisa entrar na configuração do jogo e alterar as configurações de áudio até conseguir chegar num balanço entre a dublagem ficar audível e a música do jogo não ficar muito alta. Mesmo assim, após fazer várias alterações e conseguir chegar num nível bom para o áudio, ainda existiam falas que mal podiam ser ouvidas.
Blood Drive encerra a história da trilogia Corpse Party, resolvendo pontos em abertos dos jogos anteriores e finalizando o enredo. A impressão é que Blood Drive introduz vários pontos inéditos na sua história, como bruxaria e cultos de magia negra, que até então pouco eram mencionados, apenas para conseguir fechar os pontos em aberto, sem que a explicação ficasse muito confusa. As explicações de como Heavenly Host foi criada, qual o seu propósito no grande espectro das coisas e o papel do livro das sombras, foco do segundo jogo, acabam não sendo convincentes. O primeiro jogo não foi feito com uma sequência em mente, o segundo jogo abriu vários pontos para explicar alguns do primeiro jogo, e dessa forma, o terceiro jogo precisava fechar tudo de uma só vez.
Contando dez capítulos da história principal, vários finais alternativos e os oito capítulos extras, Blood Drive pode ser fechado de 20 a 35 horas, dependendo do senso de exploração do jogador e a velocidade de leitura do diálogo. Sou um grande fã da série, jogando os dois primeiros jogos no PSP logo no lançamento ocidental, em 2011 e 2013, respectivamente. Depois do final eletrizante de Book of Shadows, passei anos esperando ansiosamente por Blood Drive e o encerramento da história cuidadosamente construída pelos desenvolvedores. Infelizmente, Blood Drive, desde os seus problemas de performance, seja no áudio ou nos gráficos, até o problema de esquematização de gameplay e uma construção inconsistente, com capítulos que vão de meia hora a até quase cinco horas, não chega aos pés de seus antecessores.
Veredito
Corpse Party: Blood Drive é o encerramento de um ciclo, o último jogo da trilogia Corpse Party. Infestado de problemas de performance e enfraquecido por uma construção inconsistente na história e gameplay, Blood Drive não é a conclusão que desejava para a série.
Jogo analisado com código fornecido pela XSEED Games.