Nos anos 2000, muitos gêneros que hoje são bastante conhecidos do público ocidental eram bastante negligenciados. Um desses gêneros que hoje recebem vários lançamentos por ano e na época eram majoritariamente ignorados para localização são os first-person dungeon crawlers, ou DRPGs (dungeon RPGs). Esses jogos eram desenvolvidos e publicados no Japão, mas dificilmente eram escolhidos para o Ocidente. Class of Heroes, no entanto, foi um dos primeiros a chegarem por aqui à época.
A franquia Class of Heroes teve início em 2008, com o primeiro jogo de mesmo nome, desenvolvida pela Zero Div e publicada pela Acquire para o PlayStation Portable no Japão. Um ano depois, o jogo chegou ao Ocidente pelas mãos da Atlus USA, que na época lançava jogos de vários desenvolvedores, e esse foi um dos escolhidos. A série continuou a prosperar no Japão, porém este foi o primeiro e único jogo da série publicado pela Atlus USA.
Quatro anos depois, em 2013, Class of Heroes 2 era lançado no Ocidente por outra publisher, a Gaijinworks. Nesta segunda chance, a Gaijinworks lançou a versão de PSP em 2013, a versão aprimorada de PS3, chamada Class of Heroes 2G, em 2015, além de prometer lançar as versões de PSP e PS3 de Class of Heroes 3 nos anos seguintes, algo que acabou não acontecendo. E apesar do gênero estar recebendo bem mais atenção nos anos 2010, a franquia mais uma vez era abandonada no Ocidente.
Até que, em 2024, a PQube decide lançar remasterizações dos dois primeiros jogos, para várias plataformas, incluindo o PlayStation 5, no Ocidente. A versão remasterizada do primeiro jogo, originalmente lançada para Nintendo Switch em 2018, além de uma nova remasterização de Class of Heroes 2G, foram as versões escolhidas para este novo pacote, marcando a terceira vez que a franquia recebe uma nova chance no Ocidente, agora por uma terceira publisher.
Como alguém que iniciou no gênero em 2011 com Wizardry: Labyrinth of Lost Souls no PlayStation 3, desenvolvido também pela Acquire, já joguei e analisei facilmente mais de dez jogos no gênero desde então, por várias desenvolvedoras e publishers, mas sempre pensei em voltar e dar uma chance ao Class of Heroes, lançado poucos anos antes de virar fã do gênero. Este novo pacote foi uma ótima oportunidade para conhecer estes dois jogos que aparentemente haviam sido esquecidos no tempo.
Começando com Class of Heroes: Anniversary Edition, a remasterização do primeiro jogo, temos um cenário bem comum da época, em que o jogo inicia numa escola de jovens aventureiros, em que os alunos devem aprender várias matérias diferentes como pretexto da narrativa. Na prática, o jogador cria um grupo com seis membros, de classes bem conhecidas por fãs do gênero, e se aventurar pelas masmorras e mapas do mundo, enquanto cumpre quests feitas por seus professores e colegas.
O combate e a exploração, para ambos os jogos, como diz o nome do gênero, se dá em primeira pessoa. O jogador controla os movimentos para frente, para trás e para os lados, em primeira pessoa, explorando cada mapa e suas dinâmicas, como teleporte, esteiras, áreas em que magia é bloqueada, e assim vai, enquanto controla seus personagens no combate em turno, em batalhas que aparecem aleatoriamente no mapa, ou em pisos marcados como combate.
Aqui vai talvez a maior crítica ao pacote em si, mas principalmente em relação ao primeiro jogo: se passaram mais de quinze anos desde seu lançamento original e praticamente tudo está muito, mas muito datado. A forma como se cria cada personagem, as limitações das classes, o fato de que uma aparição aleatória de inimigos muito mais fortes em mapas iniciais pode derrotar todo seu time sem ao menos dar uma chance de escapatória, como cada personagem “carrega” items e não existe uma tela para equipamentos, e assim vai.
Class of Heroes: Anniversary Edition é uma remasterização, e não uma reimaginação, do primeiro jogo, e é plenamente compreensível que em grande parte, ofereça a experiência original do jogo. A questão é que, depois de todo esse tempo, avanços foram feitos nas mecânicas desse gênero, e que não necessariamente “facilitaram” a vida do jogador, mas tornaram viável que a experiência não fosse obtusa e complicada, que ele precisasse vasculhar a internet para descobrir pontos fundamentais e básicos do jogo, para que pudesse então prosseguir.
Dito isso, Class of Heroes 2G: Remaster Edition é uma experiência um pouco mais tranquila. É possível notar vários avanços nas questões mais básicas da jogabilidade e exploração, oferecendo um pouco mais de linearidade. A troca de pontos fixos para uso de magia para uma barra de MP, os personagens poderem equipar seus items sem precisar “carregá-los”, mapas menos confusos e inimigos mais coerentes, ajudam bastante nas primeiras horas de jogo.
As artes de ambos os jogos, mas principalmente do segundo, são remasterizadas diretamente dos jogos, porém sem parecerem pixeladas ou antiquadas. É possível notar alguma reciclagem de arte entre os jogos, o que é bastante compreensível, já que lá nos anos 2000, eles foram lançados originalmente com um ano de diferença, mas como a versão escolhida para este novo pacote é a remasterização de PS3, o pulo para o PS5 é menos sofrido.
A dublagem é praticamente inexistente, algo comum nos jogos do gênero. A trilha sonora é adequada, porém não oferece muito além do básico para não deixar o jogador no silêncio absoluto durante a exploração nas dungeons. A localização é totalmente nova, não se aproveitando o script da Atlus USA para o primeiro jogo, ou da Gaijinworks para o segundo jogo. Essa foi uma ótima escolha da PQube, porque assim oferece coerência nas terminologias de ambos os jogos, como nome das classes, de equipamentos, ou mesmo de inimigos.
Somando os dois jogos no pacote completo oferecido, é possível chegar a mais de 100 horas de jogo combinados, algo bastante impressionante olhando apenas para o valor da coleção. Há a opção de adquirir os jogos separadamente, o que particularmente, seria a opção que eu recomendaria para qualquer um lendo esta análise. Entre pegar a coleção e pegar um dos jogos separado, eu sugiro pular o primeiro jogo e pegar apenas o segundo.
Para fãs do gênero, Class of Heroes 1 & 2: Complete Edition é ao mesmo tempo, um banquete e uma viagem ao passado. Com isso, vem coisas boas e coisas ruins. Para quem sempre teve curiosidade de conhecer estes jogos, talvez o pacote venha a ser uma boa opção. Para todas as outras pessoas, Class of Heroes 2G: Remaster Edition é mais do que o suficiente para se divertir até que o próximo lançamento do gênero chegue ao Ocidente. Ainda assim, espero que esse pacote sinalize a possibilidade de desenvolvimento de um novo jogo da franquia, que ainda pode conquistar o seu espaço, mesmo depois de tanto tempo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PQube.
Veredito
Mais de quinze anos depois, a franquia Class of Heroes mostra resiliência, ainda que, ao relançar jogos antigos e não seguir em frente com novos jogos, também mostra a sua idade.
Veredict
Over fifteen years later, the Class of Heroes series shows resilience, even if, by relaunching old games and not moving forward with new ones, it also shows its age.