Conseguir destaque no mercado de ‘soulslikes’ tem se tornado cada vez mais desafiador. O estilo que agora se encontra no auge de sua popularidade, acabou abrindo diversas portas para que desenvolvedores tentassem mudar as regras do jogo, e de que forma suas próprias influências podem ser o grande diferencial para um novo sucesso.
Para conseguir aparecer no meio de tantos competidores, Clash: Artifact of Chaos buscou tornar sua identidade em seu maior diferencial, apostando em três áreas distintas. Primeiro, buscar um visual diferente daqueles que vêm sendo utilizados pelos demais, manter o jogador interessado na história através de uma excelente dublagem e por final, usar mecânicas criativas e até mesmo inovadoras que normalmente não estão associadas com o gênero.
É muito fácil bater o olho em qualquer imagem do título e acabar achando que Clash se trata de um jogo infantil, afinal, estamos longe daquela ambientação sombria e violenta que ainda a From Software padronizou desde Demon’s Souls (2009).
Os gráficos aqui são bem coloridos e acompanhados de um traçado especial, como se os visuais tivessem sido pincelados à mão, dando um enfoque especial a vida animal dos diversos mapas que estão constantemente envolvendo o jogador.
Em momento algum me senti isolado como acontece em Nioh (2017) ou Lords of the Fallen (2014), aqui o clima é mais aconchegante, como se estivesse sempre sendo observado, o que acaba sendo verdade boa parte do tempo.
A combinação de seus inimigos e ambientação acaba trazendo um dos maiores pontos de destaque do jogo, invés de estruturas opressivas e guerreiros medievais, o objetivo foi justamente trazer um lado mais folclórico e selvagem, algo que ainda é muito pouco explorado no estilo.
Sua narrativa também não deixa a desejar, apesar de ainda possuir algumas amarras aos vícios conhecidos nos soulslikes. Tudo começa quando nosso protagonista, Pseudo, acorda no meio de uma floresta sem muitas explicações. Sua única companhia até então são os ruídos de uma canção que o acabam levando a eventos mais ainda mais infortúnios.
Chegando no local, ele conhece uma criatura que perdeu seu guardião momentos atrás, e assim, se sente obrigado a guiar o pequenino até aqueles que realmente o podem ajudar, antes de seguir seu próprio rumo.
É uma história que pode parecer previsível, mas ainda consegue agradar especialmente devido a sua ótima dublagem (que consegue bater de frente com títulos maiores), e suas fortes influências em jogos como The Last of Us (2013) e God of War (2018).
Outro fator que acaba ampliando a imersão do jogador é seu minigame de artefatos, uma disputa que só é possível ser feita antes de algumas lutas, desde que seus oponentes sejam inteligentes o suficiente.
A regra em si é bem simples, rodar dados e o lado com o maior valor vence. Acontece que em Clash, é possível usar pequenas estátuas que afetam a pontuação final, criando uma profundidade maior e dando um elemento de estratégia ao jogo.
Admito que após seu tutorial, não sabia dizer se tinha gostado ou não desse sistema, afinal, em primeiro relance, parece ser algo que iria atrapalhar o ritmo da aventura. Algum tempo mais tarde, passei a justamente desejar que a atividade fosse frequente, já que vencer uma disputa lhe permite acertar um oponente antes mesmo das lutas começarem, além de roubar o artefato deles que também dão passivas especiais durante os confrontos.
Entretanto, se seus elementos artísticos foram bem representados, o mesmo não pode ser dito para o combate, que infelizmente, deixa a desejar.
Embora algumas de suas mecânicas soem muito bem no papel, na prática elas acabam não atingindo seu potencial. Pseudo possui uma barra de especial que amplia seu dano após acertar inimigos, mas infelizmente demora uma eternidade para ser preenchida e ainda é possível perder todo o efeito caso algum inimigo te acerte.
O feedback ao acertar e bloquear inimigos é quase inexistente, fazendo com que o jogador se sinta perdido em realizar ações boa parte do tempo, sem contar na câmera que fica colada no protagonista, não dando conta de lutas com múltiplos oponentes.
Piorando ainda mais a situação, toda cutscene pode resultar no jogo desligando automaticamente, fazendo com que os bons momentos de história, se tornem um jogo de azar. Pude contar mais de seis vezes onde meu progresso foi interrompido, sem contar que em todas elas, meu save mais recente acabava sendo de minutos atrás.
Claro que isso pode ser amenizado salvando em toda oportunidade que aparecer, mas em jogos desse gênero isso normalmente significa ressuscitar todos os inimigos de uma área, algo que nem sempre é desejável.
Todos esses problemas são lamentáveis pois, se tivesse um pouco mais de polidez, o título seria uma fácil recomendação. Como dito anteriormente, se destacar em um mercado tão saturado como esse é bem difícil, é preciso originalidade e felizmente, nisso Clash: Artifacts of Chaos tem de sobra, mas infelizmente, seus problemas técnicos acabam ofuscando a oportunidade que o jogo tinha de brilhar.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Nacon.
Veredito
Clash: Artifacts of Chaos consegue trazer um ar fresco diante das inúmeras tentativas de inovações dentro da febre dos soulslikes. Sua identidade visual, atmosfera e narrativa ganham um destaque que pode invejar competidores. Infelizmente, a falta de polidez e problemas técnicos acabam prejudicando a experiência.
Clash: Artifacts of Chaos
Fabricante: ACE Team
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: RPG / Ação
Distribuidora: Nacon
Lançamento: 05/03/2023
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Clash: Artifacts of Chaos manages to bring fresh air in the face of the countless attempts at innovations within the fever of soulslikes. Its visual identity, atmosphere and narrative gain a prominence that can envy competitors. Unfortunately, the lack of politeness and technical issues end up detracting from the experience.