O gênero survival-horror com o sistema de construções, vem recebendo cada vez mais espaço no mundo dos games. Para exemplificar a dinâmica, podemos usar o jogo The Forest, que mostra como você deve sobreviver no meio da floresta com diversos monstros à solta. Agora, com a chegada de Chernobylite aos consoles, a biblioteca de títulos com a premissa acaba de ganhar mais um integrante.
Como o nome já diz, Chernobylite se passa dentro da cidade de Chernobyl e mostra como as pessoas lutam para sobreviver nessa terra de ninguém. Caso você não conheça a história, resumirei de uma forma simples para contextualizar certos pontos do jogo. Mas caso tenha interesse em saber a história completa, você pode ver aqui.
Em 1986, o reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, localizada na cidade de Pripyat, explodiu devido a falhas humanas e protocolos de crise mal executados. O processo foi muito mais complexo que isso, claro, mas o fogo, seguido da explosão, ajudou a levar a radiação para a atmosfera, fato que acabou atingindo diversos países, incluindo os Estados Unidos.
A cidade de Pripyat, e tudo que existia num raio de 30 KM, foi isolada, sendo chamada de “zona de exclusão”. Segundo os pesquisadores, Chernobyl se tornará habitável novamente em cerca de 20 mil anos. No entanto, existem evidências de que pessoas, mais de 30 anos depois do incidente, já estejam habitando a zona isolada pelo governo, e Chernobylite traz personagens que retratam muito bem esses moradores.
Igor é um pesquisador importante que parte para Chernobyl em busca de Tatyana, sua mulher desaparecida. Para isso, o protagonista contrata mercenários para ajudá-lo nessa jornada e conta não apenas com poder de fogo, mas também inteligência para saber como se manter vivo nessa terra desolada pela radiação.
Em Chernobyl, Igor usa o poder das pedras Chernobylites para se transportar sem problemas pela cidade. Isso é interessante de se ver in-game, principalmente quando se está em apuros, mas não é como se você pudesse usar esse recurso para surpreender inimigos, como fazem os monstros, por exemplo. A ação é limitada a ir da base para as missões e vice-versa.
Embora você tenha a opção de sair das missões quando quiser, essa não é uma alternativa recomendável. Todas as suas ações têm consequências. Ignorar um conselho, não alimentar os companheiros ou não dar o que eles pedem, afeta diretamente a relação de Igor com os mercenários e até mesmo a qualidade de vida na base. É possível, inclusive, pular para o fim do jogo logo no início, mas caso sua equipe não se sinta preparada, eles irão se recusar a participar da incursão, deixando o jogador com a opção de fazer tudo sozinho ou desistir da ideia.
Mesmo que não seja possível interagir fisicamente com seus companheiros nas missões do dia a dia, a relação interpessoal criada na base é muito legal, pois você precisa levar em consideração tudo aquilo que no mundo real, muito provavelmente, você também consideraria fazer para manter a paz no ambiente. Além disso, aumentar a afinidade com os moradores faz com que eles se abram mais sobre suas vidas, o que garante diversos diálogos extras e novos caminhos na história.
Para sobreviver à radiação, será preciso botar toda sua expertise em construção em prática. Aqui você monta todo tipo de máquina para aprimorar armas ou até mesmo criar outras novas. Purificadores de ar, geradores de energia, camas…até mesmo a mais simples das plantas é extremamente importante para os habitantes de Chernobyl.
Tudo em Chernobylite exige recursos da natureza e/ou tecnologia dos inimigos: ervas, cogumelos, partes eletrônicas, enfim. É preciso coletar sempre que possível para manter a base estável. Porém, como a cidade não é grande, muitas das missões repetem as regiões, e diversos itens podem não estar mais disponíveis. Isso pode ser visto como algo ruim, mas na verdade, para um título de sobrevivência, faz total sentido.
Mas não pense que esses recursos coletados serão usados apenas na base. O jogo exige que você se adapte às mudanças da cidade e te obriga a gastar itens nas missões para construir determinados equipamentos, como neutralizadores de nuvens tóxicas ou radiação. Só é preciso tomar cuidado, pois se os inimigos tiverem acesso aos equipamentos, eles os destruirão. O único porém aqui, é que os cenários são resumidos a mato, e é difícil saber onde exatamente pode ser considerado seguro, já que a posição dos agentes muda a cada rodada.
Além disso, conforme você progride na aventura, os soldados da NAR vão ficando cada vez mais fortes, e mais deles aparecem para atrapalhar seus objetivos. Mas isso não é algo que deixa o jogo desbalanceado, já que seus companheiros ensinam habilidades realmente úteis durante a jornada. A única ressalva é que a barra de XP demora para carregar, principalmente no início, quando se tem pouquíssimos inimigos para enfrentar.
Devo confessar que levei um tempo até realmente pegar gosto por Chernobylite. Isso porque, no início, tudo é muito confuso. Você não sabe direito o que está fazendo e as coisas começam de uma maneira um tanto abrupta, que não deixam o jogador processar direito o que exatamente está rolando.
A quantidade de informações, inclusive, é muito grande. Caso você não filtre o que realmente importa, poderá começar a se enrolar na finalidade de cada um dos itens. Isso também vale para as missões.
É possível enviar os mercenários em incursões para pegar medicamentos, munições ou comida. Existe uma porcentagem de sucesso para seus companheiros, mas só depois você compreende que esse número aumenta apenas se equipamentos melhores ou aprimorados, forem cedidos.
Embora o início seja uma verdadeira confusão, Chernobylite consegue chamar mais a atenção conforme se progride na aventura. Você começa a entender melhor as prioridades e o que cada item faz, coisa que, num jogo onde racionamento define quem vive e quem morre, faz toda diferença.
Embora Chernobylite incentive o jogador a jogar no modo stealth, é possível meter a cara e sair “metendo bala” em todos os agentes da NAR e as criaturas de Chernobyl. Porém, com o gameplay travado do jeito que é, essa é uma opção que eu não recomendaria.
Existe um delay nos comandos de Chernobylite. Se você aperta o botão de mira, por exemplo, o jogo não responde na mesma hora. O mesmo vale para ataques físicos, no qual Igor golpeia alguns milésimos de segundos depois. Pode ser pouca coisa, mas eu, particularmente, morri diversas vezes por causa disso.
Outro ponto que é importante ressaltar aqui, é a performance como um todo. Sabemos que alguns jogos de PlayStation 4 não rodam muito bem no PlayStation 5, e infelizmente, Chernobylite acaba de entrar para a lista.
Um dos exemplos de má performance está na resposta lenta da câmera. Mesmo que você aumente a sensibilidade, não verá nada além de vários borrões, já que tudo fica completamente desfocado.
Para ser justo, fiz alguns testes no PS4 para tentar fazer algum comparativo entre as versões. Percebi uma melhoria na movimentação da câmera e menos borrões, mas coisa mínima. Ainda assim, é um problema delicado, já que nem todos os jogadores têm à disposição ambos os consoles, o que acaba afastando aqueles que possuem o PS5.
Chernobylite tem uma proposta muito boa e diferente, mas entrega um gameplay duro e desempenho péssimo, fato que acaba estragando a experiência como um todo. Existem diversos bugs bizarros, e uma das missões de história está completamente bugada. Todas as vezes que tentei fazer, fui obrigado a resetar o jogo, pois alguma coisa sempre acontecia e me impedia de prosseguir. Personagens presos no chão e batalhas com inimigos invisíveis, são apenas dois dos diversos exemplos das situações que me frustraram.
Os gráficos, por sua vez, não são dos melhores, principalmente quando se tem a visão da cidade à distância. No entanto, alguns pequenos detalhes fazem toda a diferença, o que acaba dando um charme “rústico” ao título.
Segundo a desenvolvedora, a versão de nova geração de Chernobylite chegará ainda este ano. A minha esperança é que eles realmente melhorem esses erros medonhos e que atualizem a versão de PS4, deixando-a decente para os jogadores aproveitarem esse jogo cheio de ideias ótimas, mas com uma experiência sofrível.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela All in! Games.
Veredito
Chernobylite é um jogo com mecânicas divertidas e que fazem você perder um bom tempo nelas. No entanto, o gameplay travado e a performance horrível e cheia de bugs afastam os jogadores de qualquer diversão que o jogo possa proporcionar. Talvez eles melhorem a versão de PS4 através de atualizações, mas até lá, opte por esperar pela edição de nova geração.
Veredict
Chernobylite is a game with fun mechanics that make you spend a lot of time on them. However, the slow gameplay and the horribly buggy performance keep players away from any fun the game might provide. Maybe they’ll improve the PS4 version through updates, but until then, choose to wait for the next-gen version.