Costumo dizer que os jogos de exploração e narrativa estão entre os meus favoritos. Por isso, quando assisti pela primeira vez a um trailer de Caravan SandWitch, a ideia de explorar um planeta quase abandonado a bordo de uma van, recolhendo recursos e desvendando os segredos por trás de um misterioso desaparecimento, logo atraiu minha atenção. No entanto, apesar de todos esses elementos estarem de fato presentes no jogo, a maneira como foram organizados resultou em uma experiência aquém das expectativas criadas.
A história acompanha os passos de Sauge, uma garota que deixou o planeta de Cigalo para morar em uma estação espacial depois do desaparecimento de sua irmã, Garance. Seis anos após o acontecido, ela é surpreendida por uma mensagem automática dando a entender que sua irmã ainda poderia estar viva.
Diante desta possibilidade, Sauge decide retornar ao planeta para investigar a origem da transmissão, na esperança de, ao menos, conseguir mais notícias sobre o que de fato aconteceu. Ao chegar em Cigalo, ela reencontra alguns dos moradores com quem conviveu durante sua infância. Um deles é Rose, uma engenheira aposentada que confia à Sauge sua antiga van para que ela possa ajudar os demais habitantes da vila em atividades locais e também procurar pistas por trás da mensagem de Garance.
Com uma aparência predominantemente desértica, Cigalo já foi um planeta com grande oferta de recursos naturais. No entanto, sua exploração desenfreada pelo Consórcio exauriu a fonte de recursos e provocou um acidente ambiental que desencadeou uma tempestade de areia persistente, levando tanto o Consórcio quanto a maioria dos moradores a abandonarem o lugar.
Uma das principais virtudes do jogo está exatamente em abordar temas relevantes sem que se tornem forçados, como a preservação ambiental, as consequências dos interesses financeiros, além dos sacrifícios que realizamos para tentar preservar os lugares e as pessoas que amamos.
Durante sua investigação, Sauge percebe que está sendo observada por uma figura de aparência estranha. Sem saber se essa seria apenas uma alucinação causada pelo calor intenso, ou se de fato se tratava de uma ameaça, ela descobre que esse indivíduo é conhecido pelos moradores do deserto como a Bruxa da Areia, um membro de uma tribo de nômades que habita a região afetada pela tempestade. Essa Bruxa passa então a interferir nas pesquisas de Sauge, levantando suspeitas de que poderia estar ligada ao sumiço de sua irmã.
Toda a trama envolvendo o mistério do desaparecimento de Garance e a presença da Bruxa é uma boa premissa para a história, no entanto, parte de seu desenvolvimento é prejudicado por missões que se arrastam por algumas horas através das mesmas atividades de coleta de recursos. O elenco de personagens secundários não é dos mais complexos, mas ajuda a complementar a história com problemas a serem solucionados através de missões secundárias. Porém, boa parte delas se resume a pilotar a van de um ponto A para um ponto B e coletar alguns itens durante o processo.
A direção de arte definitivamente é o ponto positivo. Os gráficos, que se assemelham a animações, fazem uso de uma paleta de cores variada, criando um simpático planeta que combina ambientes de deserto, oásis, cavernas, ruínas e construções abandonadas.
Para progredir na história, será necessário coletar componentes dos destroços para serem convertidos em melhorias para a van, assim liberando mais ferramentas para acessar laboratórios e equipamentos avançados.
Um desses upgrades é uma antena, capaz de localizar recursos e instrumentos, assim como também hackear portas e comunicações. Outro equipamento é um guincho, que serve para puxar sucatas da areia, forçar a abertura de portas, acessar lugares através de uma polia e até operar como um meio de condução de energia.
O problema é que, para cada uma dessas melhorias, um número específico de recursos será exigido. Esses recursos são recolhidos do mundo e conseguidos como recompensas de missões secundárias. Eles podem aparecer em até quatro diferentes níveis de raridade.
Só que isso limita muito seu progresso. Mesmo com a possibilidade de receber componentes dos personagens, eles não serão suficientes para atender a todos os requerimentos. Além disso, as missões secundárias são canceladas ao avançar na história, assim como os recursos espalhados pelo mundo não ressurgem com o passar do tempo.
Tudo isso torna o jogo uma frustrante busca por materiais. Houve momentos durante a campanha que tive que ficar rodando a esmo usando o scanner na esperança de encontrar os componentes que faltavam para criar uma ferramenta. E ainda que a antena revele a posição dos materiais, não há como saber sua raridade até que tenha feito contato visual com eles.
Para tornar tudo mais entediante, o mapa não é dos maiores, portanto, toda vez que construir uma nova ferramenta, você deverá explorar novamente as mesmas ruínas na expectativa de encontrar um caminho ou abrir uma porta para coletar alguns míseros recursos.
Felizmente, a jogabilidade é simples e, ao menos, alivia um pouco esse processo. Não há dano por queda ou qualquer outra ameaça, bem como também é impossível estragar a van em caso de manobras mal executadas. Outras boas funções incluem retornar ao carro mesmo estando distante e fazer uma viagem rápida para a garagem para entregar os pedidos.
Na questão técnica, contudo, o game não está livre de problemas. A começar por uma localização em português brasileiro que é, no mínimo, confusa. Diversas foram as vezes que encontrei erros de tradução, palavras que não faziam sentido dentro do contexto do diálogo e até expressões em inglês que foram mantidas sem razão.
Outros problemas notados com frequência foram os pop-ins de elementos de cenário e texturas. Também há erros de câmera ao esbarrar em alguns objetos, principalmente ao contornar cantos do cenário, que fizeram a tela tremer ao ponto de me causar tontura. Mas o erro mais preocupante resultou em um travamento no console, me obrigando a forçar seu desligamento.
Assim, posso concluir dizendo que minha experiência com Caravan SandWitch não foi condizente com o que esperava. Ainda que a direção de arte tenha causado uma impressão positiva, a proposta do jogo de ser uma narrativa relaxante não se confirmou. Mesmo a campanha não sendo muito longa, as limitações impostas pela busca de componentes, assim como a repetição de cenários e de missões, a tornaram uma jornada cansativa.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Dear Villagers.
Veredito
Caravan SandWitch deveria ser um jogo relaxante sobre a exploração de um planeta a bordo de uma van. Mas, ao invés disso, a repetição de cenários e as limitações impostas por um sistema de coleta de componentes exigidos para prosseguir na história atrapalham uma parte considerável da experiência.
Caravan SandWitch
Fabricante: Studio Plane Toast
Plataforma: PS5
Gênero: Exploração / Narrativa
Distribuidora: Dear Villagers
Lançamento: 12/09/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Caravan SandWitch should be a relaxing game about exploring a planet aboard a van. Instead, the repetitive scenarios and the limitations imposed by a system of collecting components required to progress in the story hinder a considerable part of the experience.