Captain Tsubasa: Rise of New Champions – Review

Você por acaso se lembra de Super Campeões? Este é o nome que Captain Tsubasa recebeu no Brasil quando chegou por essas bandas e foi exibido pela primeira vez na extinta TV Manchete. Embora o anime já tivesse mostrado sua cara muitos anos antes, ele conseguiu pegar mais uma parcela de um novo público com a chegada de Super Campeões: Road to 2002, a terceira versão do clássico que foi exibida pela Cartoon Network e Rede TV!

O sucesso de Captain Tsubasa era evidente, e alguns outros animes focados no “futebol diferentão” foram lançados, como Inazuma Eleven, mais conhecido no Brasil como Super Onze. Embora ele tivesse uma proposta diferente de Super Campeões, conseguiu cativar o público que não era apaixonado pelo esporte, além, é claro, dos próprios fãs de Tsubasa.

Para engajar ainda mais a história de Oliver (como era chamado em alguns países) e seus amigos, alguns jogos baseados no anime foram lançados. Embora parecessem confusos (para quem assistia) por trabalharem como um tipo de “RPG tático”, conseguiram se dar bem no mercado, como aponta o VG Chartz.

De acordo com o site, que é especializado em números de vendas globais de hardwares e softwares do mundo dos games, o título Captain Tsubasa: Aratanaru Densetsu Joshou, de PSX, está em primeiro lugar, seguido por Captain Tsubasa: New Kick Off, de DS.

Alguns anos se passaram desde a última aparição de Tsubasa nos games, e embora muitos deles possam parecer chatos e genéricos para a atual geração, conseguiram satisfazer os jogadores daquele tempo. Mas se você viveu a época de ouro e sentiu falta de Super Campões, chegou o momento de ver a TAMSOFT Corporation mostrar a que veio com Captain Tsubasa: Rise of New Champions, novo título do garoto prodígio do colégio de Nankatsu.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions possui uma única campanha, porém, ela é dividida em duas partes. Um dos episódios que compõe essa jornada é o de Tsubasa, que conta aquela velha história do craque da escola de Nankatsu e como ele conseguiu vencer o terceiro campeonato nacional do Japão. O outro chama-se Novo Herói, e te apresenta a uma narrativa original com um jogador criado por você.

A começar pela jornada de Tsubasa, ela é a mesma que você provavelmente vivenciou há alguns anos. Ela conta como Tsubasa Ozora (ou Oliver Tsubasa) sonha em levar o terceiro título consecutivo para o colégio Nankatsu, antes de ir embora para o Brasil.

O episódio Tsubasa conta com sete capítulos e fecha o ciclo com o derradeiro embate entre o colégio Toho e Nankatsu. Porém, ao fim dessa jornada (que é extremamente curta, diga-se de passagem), você deve continuar a história no episódio Novo Herói. Aqui o seu personagem precisa entrar em um dos times eliminados do torneio nacional e subir ao topo como um dos melhores jogadores do Japão, a fim de participar do Campeonato Mundial Juvenil.

Embora a proposta de criar sua própria história seja interessante, ela não te deixa necessariamente livre de Tsubasa. Quando você entra no Campeonato Mundial Juvenil, por exemplo, todo o foco volta-se para Tsubasa, tornando aquele crescimento todo “inútil” para a campanha principal.

Ver seu personagem crescer é divertido e viciante. Porém, existe essa dualidade no modo história que, aparentemente, serve apenas para treinar seu personagem para as partidas online, nada mais. Se o título tivesse seguido SÓ com Tsubasa ou SÓ com o jogador criado por você (como acontece em Dragon Ball Xenoverse 2), teria sido mais proveitoso.

A campanha principal (que inclusive é recomendada para os novatos) não é tão empolgante. Embora ela traga parte da narrativa do anime, não consegue ser atrativa pelo simples de fato de parecer um tutorial enorme. Todos os episódios possuem algo novo a se aprender, seja um passe longo, uma bicicleta ou algum drible especial.

Mesmo que Captain Tsubasa tenha toda aquela coisa de poderes, ele ainda segue um pouco (bem pouco) do futebol tradicional. Os controles básicos são extremamente funcionais, deixando até mesmo aqueles que não são muito familiarizados com o gameplay do gênero à vontade. Porém, conforme você progride, as jogadas vão ficando cada vez mais complexas e, consequentemente, o jogo como um todo.

É bem divertido ver as novas jogadas e super chutes, no entanto, há um fator extremamente importante, e ele está relacionado a quantidade de comandos executados durante uma partida. Em diversos momentos tive a lembrança que haviam alguns truques à disposição para me livrar dos adversários, mas eram tantos comandos, que acabei seguindo o tradicional dribla, passa e chuta a gol.

O mesmo problema citado acima pode acontecer até mesmo com quem já é familiarizado com o estilo de jogo. Muitas habilidades disponíveis não são usadas porque, além de serem muitas, não funcionam muito bem na prática. Nesse tutorial gigante que é o episódio de Tsubasa, eles mostram o timing de cada jogada, mas o jogador não tem muito tempo de assimilar as coisas no calor da partida. Não há faltas e nem pênaltis, justamente para deixar tudo bem mais dinâmico.

No modo Novo Herói a coisa fica ainda mais complexa, pois além de você adquirir novas habilidades de campo, é preciso escolher muito bem a sua build contra os times. Para uma análise mais detalhada, por exemplo, existe a opção que mostra os pontos fortes e fracos de cada um. Além disso, também é possível mexer nas configurações da partida, mudando jogadores de posição e até mesmo colocando-os na reserva.

Dentro da história há muitos diálogos. Muitos mesmo. Embora isso possa parecer um ponto negativo, a desenvolvedora fez questão de tornar essa parte uma necessidade. É possível sentir na pele essa vontade de se ganhar as partidas. Eu, por exemplo, não sou fã assíduo do futebol convencional, mas me diverti e me emocionei ao marcar gols contra o adversário, justamente por causa de todo aquele pano de fundo.

E já que o jogo tem centenas de cenas de diálogos, nada mais justo que trazer uma experiência adequada para tal, certo? Mas isso não acontece muito bem na prática. As legendas, por exemplo, ficam desproporcionalmente dentro de uma caixa de texto maior que elas. Não faz sentido ocupar todo aquele espaço para um letreiro que está alinhado à esquerda.

Outro ponto a ser discutido está no áudio. Disponibilizá-lo em japonês não é ruim, pelo contrário. Ele tem o intuito de entregar uma imersão maior aos fãs do anime. Porém, é preciso dar alternativas, e a partir do momento que o título te obriga a jogar com algo específico, todo o poder de escolha se esvai.

Para justificar o áudio japonês de todos os jogadores, foi inserido na história um dispositivo que traduz em tempo real o que o personagem está falando. É um detalhe mínimo, mas muito inteligente.

Com o intuito de compensar a falta de opções no áudio, o jogo faz questão de trazer legendas em diversas línguas, inclusive PT-BR. Mesmo com alguns erros de tradução (que vêm sendo muito comuns nos títulos distribuídos pela Bandai Namco), é legal ver que mesmo que o sistema do seu PlayStation 4 esteja em inglês, o jogo inicia-se com tudo legendado para o português brasileiro. Pode ser algo simples, mas mostra um cuidado e atenção com o público que, em algumas situações, não consegue fazer essa alteração no menu de alguns jogos.

E como estamos falando de um título baseado no anime, é importante enfatizar também que os gráficos estão com uma ótima qualidade em Cell Shading, muito parecidos inclusive com os vistos em Dragon Ball Kakarot. Porém, parece que eles não se atentaram muito nas arquibancadas, que contam com torcedores bem genéricos e as mesmas placas de incentivo.

Outra coisa que também poderia ter sido trabalhada, é o sistema de mudança climática. É possível alternar entre dia, tarde e noite, mas não há coisas como chuva, por exemplo. Talvez eles possam adicionar isso em algum momento no futuro para deixar as partidas mais disputadas e divertidas, mas nunca se saberemos se isso realmente acontecerá.

Para ajudar no fator replay de Captain Tsubasa, é possível colecionar cartas especiais no episódio Novo Herói. Elas servem como “cartões de amizade”, e uma vez selecionadas, não podem ser trocadas até o fim do campeonato. Pode parecer um sistema complexo, mas eu explico.

A cada nova partida ou missão cumprida, você ganha Pontos de Jogo para gastar na loja. Lá é possível comprar itens de customização para seu personagem, entre outras utilidades. Existem também alguns packs, e dentro deles há uma quantidade de cartas que podem ser tanto de itens para serem usados nas partidas, quanto de jogadores famosos do anime.

No começo de cada temporada, o jogo te pede para selecionar uma determinada quantidade de cartas, e no fim de cada partida, elas poderão subir de nível. Caso isso aconteça, um evento com o respectivo personagem ocorrerá e lhe garantirá uma habilidade exclusiva.

O sistema que mencionei acima é muito divertido e lembra os tutores de Dragon Ball Xenoverse 2. Além de você conseguir equipar seu personagem com as habilidades mais legais do jogo, sente também uma nostalgia ao abrir esses “pacotes de figurinha”. É como se estivesse tentando completar um álbum com os maiores craques de Captain Tsubasa.

Claro que não há como conquistar tudo em apenas uma partida. O jogo te obriga (de uma certa forma) a seguir a jornada de outras escolas para conseguir completar 100% dos objetivos. Pode parecer forçado e entediante, já que no fim, você vai enfrentar as mesmas pessoas diversas vezes. Porém, estar no time daqueles que perderam para o colégio Nankatsu, mostra o outro lado da moeda do futebol, provando que não há equipes do bem ou do mal, apenas pessoas que querem vencer a todo custo.

Outro ponto positivo em se treinar seus jogadores neste episódio, é que você pode colocá-los no Time dos Sonhos. Lá é possível editar sua equipe inteira (do uniforme ao logo da escola) para participar das partidas online, que inclusive funcionam muito bem.

A verdade nua e crua é que o episódio Captain Tsubasa não passa de um tutorial gigante com cenas do anime para os saudosistas. A verdadeira estrela do show é o episódio do Novo Herói, que conta com uma gama enorme de personalização e diversos desafios que liberam diferentes músicas e filmes que contam a história do anime.

Para finalizar, eu disse uma coisa no início desta análise e volto a repetir: teria sido melhor seguir com a jornada de Tsubasa ou com a do personagem original, durante o jogo inteiro. Misturar as coisas desta forma não fica legal e parece que apenas se aproveita da nostalgia, ao entregar uma campanha que, aparentemente, deveria ser a “oficial”.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Bandai Namco