Capcom Arcade 2nd Stadium – Review

Na análise da Capcom Arcade Stadium, pouco mais de um ano atrás, nosso editor Ivan Nikolai Barkow Castilho já havia comentado que mesmo trazendo alguns dos clássicos mais importantes da história da gigante dos jogos eletrônicos, era inevitável sentir algumas ausências naquele conjunto. Chegamos a julho de 2022 com uma compreensão melhor dos motivos pelos quais vários títulos haviam ficado de fora da primeira coletânea: todos estavam devidamente guardados para uma sequência que muito provavelmente já estava sendo preparada desde sempre, esta que chega agora em nossas mãos, a Capcom Arcade 2nd Stadium.

Curiosamente, vários destes jogos, sobretudo das linhas Darkstalkers e Street Fighter, também compuseram a Capcom Fighting Collection que chegou há poucos dias atrás, o que torna esta estratégia de resgate da empresa algo um pouco confuso de acompanhar. Curioso também é o fato de que esses lançamentos próximos tem discrepâncias estranhas, como o fato de uma ter todo um destaque para o multiplayer on-line enquanto a outra, mesmo contando com alguns dos mesmos jogos, não conta com esse benefício. O mesmo vale para o sistema de salvamento de estado, que em um só há um solitário slot enquanto no outro há uma série de espaços para diferentes entradas. Essas divergências são controversas, muito provavelmente porque os projetos devem ter sido liderados por equipes diferentes, mas fica como curiosidade para abrir esse texto.

Dito tudo isso, Capcom Arcade 2nd Stadium é, portanto, a continuação de um projeto de resgate de jogos clássicos da Capcom que perpassam a geração entre as décadas 1980 e 1990, com foco total no auge dos tempos dos arcades. São mais de 30 jogos, divididos entre alguns dos gêneros mais populares da época, como luta, puzzle, ação e tiro. São eles:

  • SONSON
  • SAVAGE BEES
  • Gan Sumoku
  • The Speed Rumbler
  • HYPER DYNE SIDE ARMS
  • Hissatsu Buraiken
  • BLACK TIGER
  • Tiger Road
  • 1943 Kai – Midway Kaisen –
  • LAST DUEL
  • Rally 2011 LED STORM
  • A.K.A MAGIC SWORD
  • THREE WONDERS
  • A.K.A THE KING OF DRAGONS
  • A.K.A BLOCK BLOCK
  • A.K.A KNIGHTS OF THE ROUND
  • SATURDAY NIGHT SLAM MASTERS
  • ECO FIGHTERS
  • Pnickies
  • DARKSTALKERS – The Night Warriors –
  • NIGHT WARRIORS – Darkstalkers’ Revenge –
  • A.K.A VAMPIRE SAVIOR – The Lord of Vampire –
  • STREET FIGHTER
  • STREET FIGHTER ALPHA – WARRIORS’ DREAMS
  • STREET FIGHTER ALPHA 2
  • STREET FIGHTER ALPHA 3
  • SUPER PUZZLE FIGHTER II TURBO
  • HYPER STREET FIGHTER II – The Anniversary Edition –
  • SUPER GEM FIGHTER – MINI MIX –
  • MEGAMAN – THE POWER BATTLE –
  • MEGAMAN 2 – THE POWER FIGHTERS –
  • Capcom Sports Club

Obviamente que não há espaço ou tempo para falarmos de todos eles, separadamente, nesta análise, e tal como fizemos na primeira parte, o texto irá se dedicar muito mais a explorar o equilíbrio do pacote, avaliando o conjunto enquanto coesão e coerência na escolha, bem como o que significa experimentar – seja pela primeira vez na vida, ou ao menos, em um console doméstico – experiências que surgiram dentro de um contexto totalmente diferente do atual, além de desvendar os atalhos e conteúdos que trazem algumas conveniências para tempos atuais.

Pessoalmente, eu realmente valorizo muito o trabalho de curadoria e resgate dessa história tão rica, mesmo tão recente. Ao longo dos últimos 40 anos, tendemos a relembrar os principais títulos de cada geração, quase que como um exercício de nostalgia pura, mas sem considerarmos outros valores inerentes nessas produções. O simples fato de haver a possibilidade de conhecer, sem intermediários, algumas das coisas que contribuíram para que chegássemos onde estamos hoje já é valoroso por si. Isso já era verdade lá nas coleções antigas da geração PS3 e continua sendo agora.

Alguns aspectos da Capcom Arcade Stadium foram mantidos aqui: o primeiro deles é a forma de disponibilização compartimentalizada, sendo que o metajogo, o hub da coleção por assim dizer, é totalmente gratuito, e as unidades podem ser adquiridas ou de forma avulsa, sendo possível comprar uma a uma na PSN Store, ou em pacotes, que considerando os valores saem mais baratos do que se fossem compradas separadamente, mas que trazem uma seleção que não pode ser customizada, então ou você compra só aqueles que deseja e paga unitariamente mais caro, ou adquire um conjunto que traz coisas que podem não te interessar. O preço, se é justo ou não, eu deixo para que vocês avaliem, mas é uma forma bem interessante de se monetizar a coleção. Talvez poderia ser uma segunda temporada do primeiro pacote, mas isso importa pouco na prática.

Uma vez que escolhamos os grupos ou jogos que queremos em nossa coleção – é possível comprar tudo em um pacote só também – a coletânea funciona como já vimos em outros casos em uma interface que busca regatar aquela sensação dos velhos e (as vezes) fedidos fliperamas de bairro. Todos os jogos estão dispostos em máquinas únicas pelas quais podemos percorrer e encontrar aquele que queremos. Há um menu principal onde podemos configurar algumas opções gerais, além de visualizar conquistas compartilhadas e outras possibilidades comuns. Ao selecionar um jogo, podemos decidir iniciá-lo ou ajustar algumas opções específicas, como dificuldade, tempo de round ou de fase, forma de visualização (em 3D como num arcade mesmo, na tela cheia com ou sem barra laterais, etc.), além de alguns filtros que podem emular o sistema de tubo padrão da época.

Curioso é notar que vários dos títulos conta com janelas diferentes da já esperada proporção 4:3 (o padrão de TV, monitores e máquinas do final do século XX) e vários jogos tem um visual vertical, o que restringe bastante a visibilidade para quem está acostumado com o widescreen moderno. É inevitável estranhar que mais da metade da tela é inutilizada nesses jogos, mas essa é uma consequência do formato e da plataforma original dos games que estão reunidos aqui. Claro que é possível esticar para que o jogo ocupe a tela inteira, mas se isso já é um sacrilégio com jogos padrão, acaba sendo uma aberração com esses verticais, então mudar essas proporções é pouco (ou nada) recomendado.

Também é possível, caso estejamos com a função on-line ativada, conferir desafios de tempo e pontuação, participando de rankings globais. Infelizmente, a jogatina multiplayer só é possível localmente se o jogo original contava com isso, algo que, como já adiantei, é um tanto quanto incoerente considerando que vários desses mesmos games contam com a função em outros lançamentos recentes. Muito provavelmente a infraestrutura para fazer isso funcionar para produções tão distintas foi considerada um custo técnico alto demais para a proposta do projeto, mas é uma pena, já que o grande atrativo de poder contar com, por exemplo, a série Street Fighter Alpha seria poder resgatar aquela velha rivalidade com amigos de infância que já não são mais vizinhos.

Importante destacar e relembrar que essa coleção, tal como as anteriores, é dedicada às versões mais poderosas que foram lançadas nas máquinas de fliperama, o que significa que muitas delas não contam com alguns modos e opções que estavam disponíveis nos ports para consoles da época. Não estranhe, por exemplo, não ter modos complementares nos jogos de luta, nem menus de opções in-game, e exatamente por isso todas as customizações são feitas via menu anterior. Quando pausados, os jogos permitem que configuremos a disposição dos controles, bem como a necessária e quase indispensável função de save state, com vários espaços para que possamos retornar a um ponto onde paramos, facilitando assim que alternemos entre diferentes jogos sem culpa por deixar algo por terminar.

Esta opção é importante também não só pela necessidade, pela correria dos dias atuais, de podermos começar algo para terminar dias ou semanas depois, até porque a grande maioria dos jogos não dura mais do que uma hora considerando a campanha padrão. Salvar a qualquer momento também nos ajuda a ir mais longe, salvar depois de vencer momentos críticos, porque afinal todos esses games tinham aquela meta de engolir fichas dos jogadores até que eles fossem realmente bons o suficiente para zerá-los. Em outras palavras, a grande maioria desses jogos é muito difícil para jogadores de primeira viagem. Salvar quando desejar – normalmente antes de um desafio que sabemos ser bem complicado – e poder colocar tantas fichas quando quisermos para continues infinitos é uma forma boa para que cheguemos tão longe quanto nunca pudemos. Pra falar a verdade, esta foi a primeira vez que vi alguns finais de jogos que já conhecia.

A coleção, como a anterior, conta com um meta perfil também, espaço de estatísticas que basicamente registra o tempo que dedicamos a cada produção, além de uma pontuação para ranking pessoal (o tal do CASPO). Não é algo que seja realmente significativo e senti falta de uma galeria de artes e outros documentos históricos mais relevantes, inclusive para pesquisadores e outros interessados no quesito mais histórico. Jogos famosos tendem a ter um arquivo mais generoso, mas produções menos requintadas acabam ficando para trás também nisso. Para ser sincero, é surpreendente que a empresa tenha um sistema de arquivos tão recheado com esses jogos esquecidos no tempo, o que possibilita que tantas pérolas não fiquem perdidas para sempre.

Em termos de equilíbrio, a coleção conta com uma variedade bastante respeitável que vai agradar muitos jogadores que se divertiam nos botecos daquela época. Os games de luta muito provavelmente continuam sendo os mais conhecidos da coleção, e o destaque para mim fica por conta, sem dúvidas, de HYPER STREET FIGHTER II – The Anniversary Edition, a versão mais completa do jogo lançada até aqui; e dos principais títulos de Darkstalkers, a minha franquia de luta favorita da Capcom daquele tempo que infelizmente não teve tanta atenção quanto seu primo mais famoso. Ambos, porém, estão também na Fighting Collection, e com o diferencial importante do multiplayer on-line.

Meus olhos realmente brilham com a trilogia ALPHA (ou ZERO, na versão oriental) a qual me rendera madrugadas e mais madrugadas em claro, só que jogando em casa em suas versões para consoles. MEGAMAN – THE POWER BATTLE (ambos) trazem aquela vivência das boss fights gostosas da franquia, daquelas que temos uma vontade incontrolável de jogar o controle na tela, mas como não há limites de fichas, podemos ficar menos estressados. Obviamente que não são jogos tão completos e divertidos quanto os da linha principal ou os da série X (ambos com coletâneas próprias) mas ainda assim a duologia THE POWER BATTLE agrega muito valor prático e simbólico ao conjunto.

Para os entusiastas, há um seleção muito rica de jogos de tiro com progressão vertical (a se destacar os shooters de navinha e similares), e também para jogos de ação – seja ela com a boa e velha pancadaria com armas brancas, seja com a chuva de tiros e coisas que o valham – de progressão lateral. Os jogos esportivos, por sua vez, nunca foram uma especialidade da Capcom, e a categoria conta somente com Capcom Sports Club, que reúne três jogos, futebol, basquete e tênis, e nenhum deles é realmente marcante. Já os puzzle games da empresa são marcantes, sendo aqueles que, pela jogabilidade simplificada, são mais confortáveis de jogadores modernos se adaptarem. Não são mais fáceis por isso, mas certamente são os que causam menos estranhamento nas mecânicas que não se diferem de uma infinidade de games mobile mais atuais.

Como conjunto, repito aqui as considerações feitas por oportunidade do primeiro pacote: curadorias assim, mesmo que tragam em si um aspecto mercadológico intrínseco ao negócio de videogames, é algo muito bem-vindo por nos oferecer uma aula de história dos jogos eletrônicos e da cultura pop como um todo. São verdadeiras relíquias que precisam ser compreendidas como produto do seu tempo e do seu contexto, e não seria justo avaliá-los individualmente com a mesma régua que usamos para jogos recentes. Ao contrário, mesmo com todas as limitações técnicas e tecnológicas de uma época nem tão distante assim, agregam vários dos elementos que nos tornaram os apaixonados pela mídia que somos hoje. Alguns desses jogos foram o início, ou a solidificação, de mecânicas que funcionam até hoje, tamanho seu pioneirismo.

A aquisição do pacote completo significa que muitos desses games poderão ficar escanteados em algum momento se o jogador não for um fanático pela Capcom ou por jogos retrô, mas se você tem a paciência e a curiosidade para experimentar coisas que nunca viu, ou que já ouviu falar só das memórias de algum veterano, ou ainda se tem mais de 30 anos e gostaria de mergulhar de cabeça nesta rica história de novo, a recomendação é máxima. Se, contudo, você tem interesse focado em um ou outro jogo, vá com calma e, aos poucos, complete sua coleção conforme surgir a necessidade. Seja como for, buscar esse legado é algo que vale a pena. Vale muito a pena.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Capcom.

Veredito

Capcom Arcade 2nd Stadium é uma coleção bastante robusta que, completa ou com títulos escolhidos, oferecerá um banho de nostalgia para jogadores que viveram os tempos de ouro dos Arcades. Além de apresentar vários títulos importantes para uma nova geração, complementa, diversifica e expande o apanhado lançado no pacote anterior.

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Capcom Arcade 2nd Stadium

Fabricante: Capcom

Plataforma: PS4

Gênero: Coletânea

Distribuidora: Capcom

Lançamento: 22/07/2022

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim

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Veredict

Capcom Arcade 2nd Stadium is a fairly robust collection that, complete or with chosen titles, will offer a nostalgia bath for players who lived through the golden days of Arcades. In addition to presenting several important titles for a new generation, it complements, diversifies and expands the collection released in the previous package.