Eu sou uma das poucas pessoas que jogam Call of Duty não pelo multiplayer, mas pela história do single-player e pelos modos cooperativos. Desde o fantástico Modern Warfare, de 2007, eu experimentei todos os jogos da série principal e, em maior ou menor grau, gostei de todos. O mais recente jogo da série, Call of Duty: Ghosts, consegue um feito impressionante: ele não só me desagradou em quase todos os aspectos como também consegue ser, na minha opinião, o pior jogo da série, de longe.
Ghosts é um Call of Duty da Infinity Ward (IW), criadora da série em 2003 e desde 2007 responsável pelos melhores jogos da franquia, os 3 jogosModern Warfare (MW). Para este ano, a empresa resolveu abandonar a subsérie e fazer um jogo isolado e sem relação com o universo que havia criado anteriormente. Infelizmente, o resultado é uma história totalmente atropelada, personagens absolutamente insignificantes e um jogo sem nenhuma alma, ao contrário dos seus últimos 3 jogos.
A premissa do jogo tem início quando a Venezuela se torna um império conquistador e une toda a América Latina sob a mesma bandeira, criando “A Federação”. Ela então toma posse de uma arma espacial dos Estados Unidos e destrói várias cidades americanas, principalmente na Costa Oeste e na Califórnia. Você controla Logan Walker, um soldado americano que luta ao lado de seu irmão Hesh e de seu cachorro Riley, sob o comando de seu pai Elias, e devem cumprir uma série de missões para salvar os Estados Unidos e pôr fim ao maligno império latino.
A história do jogo é fraca e muito corrida o tempo todo: eventos acontecem sucessivamente sem expectativa ou emoção, as transições de cenas foram mal elaboradas e tudo que acontece é sempre muito previsível. Por mais inacreditável que isso soe, muita coisa que acontece no jogo é absurda, até para os padrões de “realidade exagerada” de Call of Duty, e deixam o jogador em um estado muito próximo da apatia. Algumas missões são legais, como as que se passam no espaço (sim, CoD rompendo fronteiras) e uma que se passa em um trem em movimento, mas nem elas conseguem salvar a campanha como um todo.
Os Modern Warfares eram especiais, dentre outros motivos, por terem um elenco sensacional de personagens, como Captain Price, Soap, Gaz, Simon “Ghost” Riley e outros. CoD: Ghosts, ao contrário, possui apenas um personagem com o qual eu consegui empatizar, e ele era um cachorro. Tanto os “heróis” quanto o “vilão” do jogo são caricaturas mal-feitas de estereótipos militares, e nenhum deles é memorável. O vilão, na verdade, chega a ser um pouco tosco. Você vai terminar de jogar e vai se esquecer de todo mundo que conheceu, pois nenhum deles faz diferença alguma pra você.
Riley, o cão, é a maior “inovação” que Ghosts traz. Além de acompanhar os protagonistas em algumas missões, você pode controlá-lo diretamente em alguns poucos momentos da campanha, mas não há nenhuma diversão ou relevância maior nisso. Controlá-lo se torna uma obrigação para você avançar para a próxima etapa. Esses momentos com Riley querem evocar o gameplay variado que Modern Warfare introduziu nas suas diferentes missões, mas com um resultado muito aquém do esperado.
Se somente a campanha deixasse a desejar, minha insatisfação com o jogo seria menor. Porém, a IW tomou uma decisão horrível para o modo cooperativo de Ghosts: ela não incluiu o Spec Ops, presente em MW2 e MW3 e responsável por dezenas de horas de diversão para mim e alguns amigos, e em seu lugar acrescentou Extinction, um clone mal-feito do modo Zombies de Black Ops I e II.
Extinction é um modo de jogo para até 4 pessoas em que você enfrenta ondas sucessivamente mais difíceis de inimigos, e para cada um que mata ganha dinheiro que pode usar para melhorar suas armas, seus itens e suas defesas. Ou seja, igual ao Zombies. Só que com aliens no lugar dos mortos-vivos. Zombies tem muito humor negro, é difícil e desafiador e, no geral, é muito divertido. Extinction é muito fácil, é sem graça e tenta se levar a sério, e consequentemente ele acaba falhando no seu objetivo de entreter.
O multiplayer continua a mesma coisa de sempre, “ame-o ou odeie-o”, e dificilmente o de Ghosts mudará a sua opinião sobre ele. Há alguns novos modos de jogo que trazem uma certa variação, e novas armas e itens são destravados usando Squad Points, obtidos ao final de uma partida. Você não precisa chegar a determinado nível para destravar algo que quer, basta ter os pontos suficientes para aquilo.
O maior problema do multiplayer do jogo, depois da quantidade enorme de crianças jogando e gritando no seu ouvido, é que em partidas públicas ele é muito inacessível para jogadores eventuais. Em todas as vezes que tentei jogar, em qualquer modo de jogo, fui massacrado por todo mundo que eu enfrentava. Eu não me considero um exímio jogador, mas tampouco sou péssimo, e eu dificilmente conseguia enfrentar pessoas que já possuem dezenas de horas e inúmeros níveis e Prestiges a mais que eu.
Call of Duty: Ghosts é o sinal mais evidente de que a franquia está estagnada e próxima do fim. Se Black Ops II já mostrava sinais de fraqueza, Ghosts está praticamente em coma e precisando de muito tratamento. Um single-player fraquíssimo, um modo cooperativo que não chega nem aos pés dos antigos Spec Ops e um multiplayer impenetrável fazem com que Ghosts seja, para mim, o pior jogo da série e o jogo mais decepcionante do ano.
Imagens apenas ilustrativas, não representam a qualidade visual do jogo no PlayStation 3.
Jogo analisado com cópia em disco fornecida pela produtora.
Veredito
50