BioShock foi um jogo que inovou e marcou época. Como sempre, uma franquia de sucesso recebe uma sequência e com BioShock não poderia ter sido diferente. Uma análise é sempre o ponto pessoal de uma pessoa. Dito isso, falo batendo no peito: BioShock 2 é melhor que BioShock original. Porém, ele sofre de um problema: é um jogo que não será totalmente apreciado se ignorar a existência do primeiro game (dado esse fato, recomendo fortemente que leia a análise do BioShock original antes, clicando aqui).
BioShock 2 conta a história de um ser que todas as pessoas gostariam de controlar: um Big Daddy. E mais: você não é “qualquer” Big Daddy, você é o primeiro deles, apelidado de Subject Delta. A história começa quando Rapture ainda era uma cidade próspera. Em um infeliz evento, a Little Sister que Delta precisa cuidar é levada e, através de um Plasmid que hipnotiza Big Daddies, o grandalhão comete suicídio. Dez anos depois, Delta acorda sem saber onde está e o que aconteceu. Conforme você avança na história, acaba descobrindo tudo, principalmente o motivo de Delta ter sido separado de Eleanor (a Little Sister em questão) e quem é Sofia Lamb, a nova vilã que ameaça Delta o jogo inteiro.
Acredite: o enredo é novamente uma peça-chave, assim como foi no game original. A maneira que ele se desenvolve prende o jogador e o faz querer saber mais sobre o que está acontecendo. O foco da história, o amor dos pais com os filhos, é muito bem explorado. Desta vez, não há uma virada na história como aconteceu no primeiro jogo, mas nem sempre isso é necessário para um bom enredo.
O único problema de BioShock 2 em todo o seu conjunto é a sua ambientação: o ar de déjà vu é notório. O pior é que não são as mesmas áreas visitadas – há algumas referências espalhadas a esses locais do primeiro jogo -, são todas áreas inéditas. E isso agrava ainda mais o problema. Você vai andar por corredores fechados com piso de madeira, vai coletar diversos áudios com conversas gravadas de cientistas e outras pessoas importantes, vai comprar itens nos mesmos tipos de lojas, vai enfrentar os mesmos tipos de inimigos (com algumas novidades, como o Brute Splicer), vai escutar mais músicas verdadeiras das décadas de 30, 40 e 50, vai adquirir Plasmids, Gene Tonics e muito mais; tudo o que já fizemos no primeiro game está aqui novamente.
Isso é ruim? Depende do ponto de vista de cada um. Não me importo nem um pouco de ver vários elementos reutilizados, mas há vários jogadores que esperam ver tudo novo em uma sequência. Mas BioShock 2, obviamente, traz novidades. O mais notório é que você é um Big Daddy agora.
Ser um Big Daddy traz diversas consequências no gameplay. Além de você andar mais devagar, tem todo um arsenal pensado para o personagem. Não existe mais uma Wrench como arma para o combate corpo-a-corpo, e sim a Drill de um verdadeiro Big Daddy (que gasta combustível, aliás). Sua pistola é trocada por uma Riot Gun, mas ainda existe uma Machine Gun, Shotgun e um lançador de granadas, por exemplo.
BioShock 2 inovou em um ponto fortemente e que deixou o gameplay muito mais suave: a possibilidade de usar os Plasmids e as armas ao mesmo tempo, sem a necessidade de trocar um pelo outro. Apesar de não ter Plasmids novos que chamem a atenção, essa novidade no gameplay é muito bem-vinda.
O sistema de hackeamento é muito mais simples agora também: ao invés de se preocupar com um sistema de fluxo d’água, é necessário apenas apertar o botão quando um risco vermelho passar por uma região verde ou azul (azul fornece itens bônus após o hack). É até possível hackear à distância com uma nova arma do game. Além do hack (que achei muito melhor que o do primeiro jogo), outra novidade agradável é a pesquisa feita com a câmera: ao invés de fotos, é um filme que roda agora. Enquanto o filme vai rodando, você precisa atacar o inimigo em questão, das mais variadas formas. Quanto mais “diferenciado” você for, mais pontos pela pesquisa ganhará. E a pesquisa, obviamente, ajudará você a matar os inimigos de forma mais tranquila.
Outra novidade que BioShock 2 traz por você ser um Big Daddy é em relação às Little Sisters: ainda existe a possibilidade de salvá-las ou matá-las e conseguir todo o ADAM possível. Porém, se escolher salvá-las, você deverá adotá-la e aí então levá-la até um corpo com ADAM. Sim, você será um verdadeiro Big Daddy nesse processo. Depois de sugar ADAM de dois corpos, leve a Little Sister até aquelas entradas características de onde elas vêm e pronto: a opção de salvá-la ou matá-la aparecerá novamente. Dessa forma, mais ADAM será dado a você, devido ao fato da Little Sister ter coletado dos corpos. É uma mecânica nova interessante e que ainda não elimina os combates com os Big Daddies, pois você precisará matá-lo para adotar a Little Sister.
Depois de lidar com as Little Sisters em cada “capítulo”, você enfrentará um novo inimigo no game: a Big Sister. Ela tem o mesmo objetivo que o Big Daddy, proteger as pequenas, mas sem que elas passem pelo processo de coletar ADAM. Portanto, assim que ela souber que você “trabalhou” com as Little Sisters, precisará enfrentar uma Big Sister. Ela é um Big Daddy rápido, ágil e forte. Simples assim. Infelizmente, a Big Sister não adiciona nada à história (talvez um pouco no final, mas nada alarmante). Ela é somente um ser a mais em Rapture.
De resto, BioShock 2 continua o mesmo. Quem gostou do 1, vai, com toda certeza, gostar dessa sequência. É difícil recomendar o segundo direto para quem não jogou o primeiro, principalmente devido às várias referências na história, mas é possível sim, jogar o segundo sem ter jogado o primeiro.
Por fim, BioShock 2 traz uma novidade que era preocupante, mas agradou com o resultado final: o modo multiplayer. Não espere nada complexo, esse novo modo é o mais simples possível, consistindo apenas de três diferentes modos, cada um com ou sem time. Um é o clássico mata-mata, o outro é o “Capture the Flag” de BioShock, ou seja, “Capture the Little Sister”, e o terceiro é segurar a Little Sister por mais tempo.
O modo multiplayer de BioShock 2 é bom, contagiante e viciante justamente por ser simples. Infelizmente, por causa do rank de cada jogador, armas, plasmids e tonics são travados no início. Conforme você evolui nas partidas (ou seja, não fica em último), vai destravando tais itens. É algo interessante, mas também não muito honesto. Um jogador no rank 20 ou superior terá clara vantagem com o jogador de rank 4, por exemplo, mesmo que o que tem rank 4 jogue melhor.
Mas isso não estraga a diversão. Basta ter paciência, evoluir de rank, e se divertir no modo. A dedicação da Digital Extremes (responsável por esse modo) foi tanta, que existe até uma história para explicar o multiplayer e que funciona como uma espécie de prólogo.
BioShock 2 é um excelente jogo. Infelizmente, como dito muito nesta análise, é necessário apreciar o primeiro para também apreciar o segundo. Mas não deixe de fazer isso. BioShock 2 é uma evolução clara ao primeiro e merece todo o seu destaque.