Creio eu que Battlefield 3 (BF3)dispense apresentações. Este ano, a EA e a DICE fizeram uma campanha de marketing agressiva para sua principal série de FPS, e busca destronar Call of Duty (CoD) como rei dos FPSs. O resultado finalmente está em mãos, e enquanto não seja um jogo perfeito, é certamente um material extremamente competente.
Embora carregue o número 3, BF3 é nada menos que o décimo primeiro jogo da série de FPS da DICE. Diferentemente de seu antecessor númerico (BF2) e seguindo a linha de seus spin-offs (Bad Company 1 e 2), BF3 possui um modo história. nele você tomará controle de 4 personagens, com foco no protagonista, o Sargento Henry “Black” Blackburn. O jogo abre com Black acompanhado por dois agentes da CIA, acusado de traição. Interrogado sobre suas ações, Black conta como foram seus dias no Irã e Iraque, e estes flashbacks formam as missões do jogo.
Se a premissa e apresentação lembram o último Call of Duty (Black Ops), as missões em si são… surpreendentemente parecidas também. Isso não é de todo ruim, mas a campanha decididamente carece de elementos que apontem mais para Battlefield que para seu competidor direto. Uma missão particularmente decepcionante atende pelo nome de “Going Hunting”, em que tomamos o controle de um caça que simplesmente não podemos pilotar livremente, sendo uma sessão on-rails em que controlamos apenas os Flares e as armas – algo que podemos esperar de praticamente qualquer outro FPS, mas não de Battlefield.
Não estou dizendo que o single-player é ruim – a exposição é boa e a história possui seus momentos empolgantes, mas ela é muito curta e o gameplay é insípido, não oferecendo momentos que o separem de tantos outros FPSs, o que é uma pena. Comparativamente, a campanha de BC2 possui um enredo mais genérico mas é bem mais variada e com ambientes muito mais abertos que o visto em BF3. O fato da campanha ser bem curta – em torno de 5 a 6 horas – também não ajuda.
BF3 conta também com um modo cooperativo nos moldes do Spec Ops de Modern Warfare 2. É uma pena que elas sejam tão poucas – apenas 6 -, o que prejudica um pouco a variedade – são 4 missões “normais”, uma em um helicóptero e outra com Snipers. Ainda assim, admito que foram meus momentos favoritos em BF3 até agora, e mal posso esperar por um pacote de conteúdo adicional com mais missões.
O calcanhar de Aquiles das missões cooperativas está nos problemas de conexão. Testando com vários parceiros, eu frequentemente recebi mensagens de que o cliente havia se desconectado, o servidor estava inativo e outros problemas que interrompiam a jogatina. Mesmo nos últimos dois dias, em que o problema diminuiu em muito, ainda passei por circunstâncias desagradáveis que me forçaram de volta ao meu principal quando estava por terminar uma missão, o que foi, para dizer o mínimo, frustrante.
Single-player e CoOP à parte, porém, sabemos que o foco de BF sempre foi o Multiplayer, e é aqui que tenho problemas com o jogo. Vamos deixar algumas coisas bem claras: o Multi de BF3 é ótimo, muito divertido e possui um foco na estratégia e cooperação que não se encontra em CoD e similares, que se prendem mais aos Kills/Deaths. Recentemente consegui o MVP do time e segundo lugar geral, com um simplório K/D de 13/17. Como? Desarmando as bombas e servindo como ponto de spawn e médico do time, revivendo aliados e espalhando MedKits para a linha de frente. BF3 premia quem dá atenção ao time ao invés de seu K/D, o que faz dos jogadores de suporte uma adição valiosíssima a qualquer equipe.
Alguns elementos novos adicionam à estratégia também, e são muito bem-vindos. O jogador possui à disposição, por exemplo, lanternas que podem ser acopladas a armas – além de iluminar áreas escuras, elas prejudicam a visibilidade dos inimigos quando miradas em seus rostos. Algumas armas também possuem suportes que podem ser colocados ao se deitar ou quando o jogador se pressiona a uma superfície, aumentando a precisão de seus tiros. Outra novidade é o “supression fire”, que borra toda a tela de quem estiver com muitas balas voando em sua direção. O jogo ainda conta com servidores dedicados, e diferentemente do modo cooperativo, não passei por problemas de desconexão ou mesmo lag nas partidas de Multiplayer.
BF3 possui, porém, algumas decisões de design desagradáveis. Você pode, por exemplo, formar um Squad com seus amigo e entrar em um jogo, mas ao invés de fazer o que BC2 fazia e colocar vocês em um mesmo esquadrão, ele os espalha pelo jogo. Felizmente, e diferentemente do Beta, ele não costuma colocar jogadores que entram juntos em times opostos e você pode escolher seu esquadrão no menu do jogo para ficar com seus amigos, mas é um contratempo que não possui razão de existir. Você também não pode abandonar um servidor antes da partida começar, o que é incômodo.
Entretanto, meu problema com BF3 não se dá pelos Bugs ou erros bobos de design. O que me incomoda é a mudança de foco e os mapas. “Os mapas?”, você se pergunta. Sim – os mapas de BF3 são enormes. Mesmo reduzidos em relação ao PC, os mapas são muito amplos, e isso acaba sendo uma fraqueza no jogo. Vejam bem, BF3 é um jogo projetado para o PC, e seus mapas foram criados para abrigar 64 jogadores. Nos consoles, esse número cai para 24, e com o tamanho dos mapas, os confrontos entre os jogadores é inevitavelmente menos frequente que em sua contra-parte no PC. O modo Rush é facilmente o que mais sofre com isso, especialmente quando você está em um jato ou helicóptero, pois fica difícil encontrar um grupo de inimigos para eliminar.
E já que falei nos veículos, vamos ao segundo ponto – a mudança de foco. Que já fique claro nesta linha que o próximo parágrafo é uma questão puramente de gosto pessoal, e o “grosso” do multiplayer de BF3 se mantém fiel as origens.
Quando eu postei as impressões do Beta, expressei meu desapontamento com o mapa Operation Métro – nada de veículos e pouca destruição. A verdade é que não apenas Operation Métro, mas uma boa parte dos mapas de BF3 mudou seu foco de veículos e destruição para o combate de infantaria. É fácil perceber que, em seu afã de conquistar jogadores de CoD, a DICE acabou perdendo um pouco da identidade de BF, o que me desagrada muito. São mudanças sutis, mas que são visíveis aos fãs, como a inclusão de um Team Deathmatch, tela de status com K/D, recoil muito diminuído das armas, balística menos importante e outros. BF3 não se tornou CoD, Crysis ou mesmo Medal of Honor, mas confesso que não esperava isso do jogo.
À exceção dessa queixa – extremamente pessoal, aliás -, porém, o Multi continua fantástico. Os modos de jogo clássicos continuam lá – Rush, Conquest, Squad Rush e Squad Deathmatch, acrescido do já supracitado Team Deathmatch. As classes permanecem com as mudanças anunciadas e vistas no Beta, com Assault incorporando a função de Medic e Support se encarregando da recarga de munição. Uma adição que gostei muito – e não mencionei nas impressões do Beta – foi a possibilidade do Recon poder criar pontos de spawn no mapa, o que por si só adiciona camadas imensas de estratégia. Muitos dos bugs do Beta se foram, mas o jogo continua com uma boa gama destes, em especial no que concerne o dano e atravessar os cenários – nada que impossibilite a jogatina, porém.
Poderíamos culpar a engine Frostbite 2.0 pelos bugs, mas BF3 é tão bonito que seria injustiça crucificar o motor gráfico. Que fique claro: enquanto no Multiplayer os gráficos são uma evolução não muito perceptível em relação a BC2, o jogo single-player é lindíssimo. A DICE foi muito inteligente em como ocultar texturas de baixa resolução e menores efeitos, e o resultado, embora ainda aquém do PC – o que, francamente, não é surpresa alguma -, é bastante impressionante, em especial nos efeitos de luz e sombra. A taxa de frames no PS3 é cravada nos 30, sem nenhuma sombra de slowdown e pop-ups bastante discretos.
O departamento sonoro continua impressionante em seus efeitos, e honestamente, nenhum FPS consegue captar o som de balas zunindo próximas ao jogador como BF faz. Infelizmente, a dublagem não segue o mesmo padrão e é apenas mediana. A trilha sonora, enquanto não seja maravilhosa, também não incomoda e apenas cumpre o seu papel.
No fim das contas, ficam duas questões. A primeira é simples: Battlefield 3 é um bom jogo? Sim, com toda certeza. Mais que isso, ele é ótimo e possui um Multiplayer diferenciado em relação aos outros FPSs, abordando os conflitos de forma estratégica e cooperativa. É a segunda pergunta, porém, que é capciosa: ele é melhor que Battlefield: Bad Company 2? Ao meu ver, e no PS3… não.
— Resumo —
+ Multiplayer fantástico
+ Gráficos excelentes
+ Efeitos sonoros fantásticos
+ Física e destruição soberbos
+ Missões cooperativas divertidas
– Campanha insípida e curta
– Erros de conexão
– Poucas missões cooperativas
– Multiplayer com muitos bugs
– Número de jogadores reduzido e mapas menores em relação ao PC