A ideia de transferir jogos de estratégia dos PCs para consoles é sempre complicada. Não importa o quanto a desenvolvedora se esforce, a mera falta de opções de botões muitas vezes é o suficiente para impedir o melhor funcionamento do jogo. Ainda que a popularização do segundo analógico tenha auxiliado como um “substituto” para o mouse, ainda existem algumas limitações.
Isso faz com que muitos jogos do gênero demorem anos para finalmente chegar aos consoles PlayStation, como é o caso do título da Overhype Studios, Battle Brothers. Usando elementos de RTS em sua exploração com um combate inspirado por tradicionais RPGs de Estratégia, BB tem um único objetivo: te desafiar o máximo possível.
Ambientado em um universo medieval, o jogador assume o controle de um grupo de mercenários encarregado de uma única e exclusiva missão: sobreviver e transformar o seu grupo de mercenários em um grupo reconhecido de “heróis”. Para isso, você precisará realizar missões a pedido de diferentes facções espalhadas ao redor do mundo em busca de recompensas na forma de dinheiro, mantimentos e outros recursos necessários para sua sobrevivência.
Pode parecer simples, mas Battle Brothers segue uma filosofia de design que não é para qualquer jogador. Mesmo nas missões determinadas como “tutorial”, o jogo não explica realmente o que precisa ser feito. Apesar de não ser completamente obtuso na forma de apresentar as missões (isso fica bem claro), o funcionamento de cada mecânica cabe ao jogador explorar e aprender através do bom e velho “tentativa e erro”.
O que torna o jogo tão complicado de se compreender é que a interface de usuário é muito cheia de opções. Como todo bom jogo de estratégia, o jogo é composto de menus e mais menus para tudo, forçando o jogador a monitorar aspectos que vão de ter a quantidade suficiente de suprimentos para sobreviver até a evolução dos membros do seu grupo ao estado de desgaste das armaduras e armas deles.
É claro, dedicando tempo suficiente, você irá eventualmente entender todos os vários sistemas em ação aqui e, mecanicamente, Battle Brothers é um jogo muito bem pensado e executado. O jogo te dá uma liberdade imensa para moldar o destino do seu grupo como você bem entender, te permitindo fazer alianças e trair aliados, se manter neutro em conflitos até o momento mais conveniente, o sistema de moral do jogo e vários outros aspectos.
O jogo também possui um aspecto narrativo surpreendentemente rico, com cada grupo existente naquele mundo tendo sua própria motivação e o jogo construindo uma narrativa bem sólida ao redor dele. Existe uma série de missões a serem cumpridas, a possibilidade de fazê-las através de combate ou diálogo, aliados a conquistar e pessoas a quem influenciar ao redor do vasto mundo do jogo.
Já o combate segue a mesma estrutura obtusa da Interface de Usuário e é onde os problemas mecânicos do jogo mais incomodam. As batalhas são apresentadas através da estrutura tradicional de um RPG de Estratégia, com os personagens sendo movidos por um tabuleiro (dividido em hexágonos), com o jogador movendo suas peças em um turno e o adversário no dele.
Infelizmente, tudo é feito selecionando o personagem ou a ação com uma seta e a movendo para o ponto para onde você quer que ele vá. Lá, você precisa descer a seta até selecionar a ação que deseja e depois subir até selecionar o alvo. Estranhamente, existem algumas ações mapeadas para os botões de face, direcionais e mais, mas nenhuma das coisas que você irá usar com maior frequência se encaixa nelas.
Em razão disso, o combate, que é bem sólido e funciona muito bem, sendo bem desafiador especialmente para jogadores com menor experiência com o gênero (a IA do jogo é bem punitiva), acaba se tornando muito mais lento e maçante do que poderia ser. Existem uma série de elementos aqui que determinam o sucesso ou fracasso, mas tudo fica tão lento pela forma como os comandos funcionam que chega a ser cansativo aprendê-los.
E não se engane, aqui também está presente a falta de tutoriais e dicas mais aprofundadas. Você precisará aprender as mecânicas testando-as na prática, o que pode acabar te custando a vida de um ou outro aliado (o jogo possui perma-death). No entanto, quando tudo funciona, o combate é bem divertido, mesmo que os problemas com os comandos limitem o quão rápido ele consegue ser.
Essa riqueza de mecânicas, no entanto, acaba vindo ao custo da parte estética do jogo. Não que faça muita diferença, já que isso é algo bem secundário para o gênero, mas Battle Brothers deixa bastante a desejar no aspecto gráfico, com tanto o estilo das ilustrações quanto os “modelos” de personagem (que são pouco mais do que bonecos cabeçudos com uma arma) sendo pouco mais do que uma forma de representar o jogador e os mapas em si não sendo nada além de uma versão digital do que se veria em um livro de cartografia.
A falta de animação durante os combates também é um ponto negativo e a trilha sonora do título também é algo bem genérico, não merecendo muito destaque. Dito isso, o principal ponto negativo realmente fica por conta da adaptação do jogo para o controle mas, se você conseguir superar isso e estiver disposto a se dedicar para aprender Battle Brothers, há uma experiência bem legal a ser extraída daqui.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Ukiyo Publishing.
Veredito
Battle Brothers é um jogo bastante desafiador e rico, com uma proposta bem distinta e divertida. No entanto, peca em sua tentativa de converter para os consoles a experiência vista no PC.
Veredict
Battle Brothers is a very challenging and rich game, with a very different and fun proposal. However, it fails in its attempt to adapt the experience seen on PC to consoles.