Batman: Arkham City já foi concebido com uma árdua tarefa: superar seu predecessor, Arkham Asylum. Simples assim. Asylum, lançado em 2009, foi extremamente bem recebido tanto por público quanto pela crítica e mostrou a toda a indústria dos video games que era sim possível fazer um jogo excelente e de atmosfera séria com super-heróis, de maneira semelhante ao que os filmes Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas fizeram com a indústria cinematográfica (seria Batman o elemento-chave deste padrão?).
Acredito que Asylum dispense muitas apresentações. Ótimos gráficos, um enredo fenomenal, sistema de combate único… a lista de elogios continua, e você provavelmente já ouviu cada um pelo menos três vezes. Então, seria realmente possível que a Rocksteady fizesse um novo episódio da saga do Morcego ainda melhor que o primeiro? Conseguiriam eles ao menos manterem o nível? Teria sido Batman: Arkham Asylum uma “masterpiece” insuperável?
Arkham City mostrava, a cada novo trailer revelado, que aparentemente a Rocksteady estava seguindo um bom caminho. Expectativas foram criadas, alimentadas, infladas, mas será que foram atingidas? Bom, com o jogo em mãos, percebemos: foram superadas. Batman: Arkham City é maior e melhor que Asylum em praticamente todos os aspectos.
A história se passa alguns meses após os eventos do primeiro jogo. Quincy Sharp, o antigo diretor do Asilo Arkham agora se tornou prefeito de Gotham City, com a promessa de reduzir o crime da cidade. Assim sendo, o Prefeito Sharp simplesmente mura a área norte de Gotham, formando Arkham City, e transfere todos os criminosos – supervilões ou não – para o local, sob o comando de ninguém menos que o Professor Hugo Strange. Não precisa ser o Maior Detetive do Mundo para perceber que deixar todos os supervilões da cidade, juntamente com os bandidos normais e quaisquer outro que tenha qualquer tipo de passagem criminal (por menor que seja), à solta em uma região da cidade para fazerem o que bem entenderem é uma péssima ideia, ainda mais quando a área é regida por Hugo Strange.
Bruce Wayne começa então uma campanha política para acabar com Arkham City, alertando os demais cidadãos acerca dos perigos que o local representa ao resto de Gotham. Strange, obviamente, não gosta nem um pouco da ideia, já que a prisão é importante para seus interesses, e ordena que sua guarda pessoal prenda Wayne na cidade, assim como faz com qualquer um que se oponha ao seu projeto. Só há um pequeno problema: os que já leram alguma história do Morcego que envolva Hugo Strange provavelmente se lembram que o professor sabe qual é a verdadeira identidade do Batman, e isso se aplica à Arkham City também. Ou seja, o doutor sabe quem Wayne é, o que faz com que a identidade secreta de Batman corra grande risco.
Mesmo assim, Batman inicia sua cruzada para deter Hugo Strange e impedir o mesmo de cumprir seus objetivos com a penitenciária/cidade (que, segundo o próprio Hugo, será usada para fazer com que o mesmo se torne um “herói” aos olhos do público). E, durante uma longa noite, Batman terá que enfrentar alguns dos seus maiores inimigos. Entre eles estão Duas-Caras, Pinguim, Sr. Frio, e, claro, o Coringa. Ah, e esses apenas na campanha principal, pois nas missões alternativas ainda encontramos (só para citar alguns exemplos) Bane, Victor Zsasz, o Charada (dessa vez em pessoa)… É, não será uma noite calma para o Morcego. E é assim – como Bruce Wayne mesmo, sem uniforme, lembrando que, por trás da máscara, o herói ainda é “apenas” um homem – que o jogador entra no mundo de Arkham City.
Os mais atentos devem ter percebido que utilizei os nomes em português dos personagens até agora. Não fiz isso à toa, apenas escrevi do mesmo jeito que eles aparecem no jogo. É exatamente o que parece: o título possui opção de ser jogado em português. Português brasileiro, ainda por cima. Alguns podem até torcer o nariz para este opcional, e eu não lhes tiro a razão (a experiência com jogos em nosso idioma diz que nem sempre vale a pena abandonar o inglês), mas os que resolverem dar uma chance à versão brasileira do jogo terão uma surpresa agradabilíssima. Tudo foi traduzido (e, mais importante, adaptado) com muito cuidado. Temos legendas para toda e qualquer fala do jogo (na história principal ou não), menus traduzidos, biografias traduzidas (incluindo o nome de histórias citadas, como O Cavaleiro das Trevas ou O Longo Dia das Bruxas)… até mesmo as charadas foram traduzidas e adaptadas para continuarem fazendo sentido em português e rimando, em alguns casos. Resumindo, o jogo recebeu tanta atenção quanto (senão até mais) os próprios quadrinhos. Após finalizar o jogo inteiro, não encontrei nem um erro de tradução – apenas alguns nomes toscos como “Pistoleiro” (Deadshot) e “Sr. Frio” (Mr. Freeze), mas isso não é culpa dos tradutores do jogo – e poucas adaptações questionáveis, porém ainda corretas do ponto de vista linguístico. Ponto positivo para os produtores nesse aspecto, pois não é todo dia que temos a opção de ver um lançamento de alto nível como esse em nosso idioma natal. A opção para português brasileiro está em todas as cópias do jogo, independente de onde venham, mas é necessário deixar a XMB do PS3 em português para acessá-la.
Um dos pontos altos de Arkham Asylum era o sistema de combate original, baseado em uma mecânica de counters e reflexos rápidos do jogador, que depois de um tempo se tornava praticamente instintivo. Ao jogar Arkham Asylum, após apanhar um pouco no começo até pegar o jeito da coisa, é muito provável que você tenha pensado algo semelhante a “puxa, mas esse sistema de combate é perfeito!”, talvez com alguns palavrões a mais. Porém, este é só mais um dos aspectos do jogo que a Rocksteady aparentemente conseguiu melhorar o que já parecia perfeito. Arkham City traz um sistema parecido, porém levemente aprimorado e mais variado que o do antecessor. Aqui, Batman tem ainda mais técnicas que no primeiro jogo, e deverá fazer uso delas para enfrentar as hordas de inimigos que aparecem, já que aqui o número de oponentes simultâneamente na tela é ainda maior que no primeiro jogo e agora eles atacam em duplas ou até mesmo em trios, sem contar os novos tipos de inimigos.
As batalhas contra os chefes ficaram ainda melhores. Enquanto em Asylum tínhamos vários chefes em que era necessário utilizar o esquema “batrang-e-esquiva”, estas batalhas foram excluídas de Arkham City – até mesmo os (raros) Titans precisam de uma nova estratégia. Nem todas são difíceis, é verdade, mas desde Arkham Asylum as batalhas contra chefes não eram marcantes exatamente pela dificuldade e sim pelo processo como um todo, desde o caminho até o vilão, o objetivo do mesmo, as técnicas de combate, entre outros fatores. O jogador mais experiente não deve encontrar muitos desafios em Arkham City no quesito combate, com exceção do modo New Game + (volto a falar dele depois), mas certamente aproveitará a jornada.
Além disso, dessa vez os supervilões estão mais “próximos” do Batman; enquanto no primeiro jogo a maioria se reservava a atacar à distância, comandar inimigos ou apanhar diretamente apenas na cutscene, em Arkham City veremos a Arlequina partindo para cima do Batman na esperança de acertar um chute, ou Victor Zsasz e o Morcego saindo no braço, entre outros embates que, embora ainda de baixa dificuldade, não deixam de ser muito divertidos.
Novamente, temos um jogo totalmente dublado. Entre o time de dubladores, temos figuras como o simplesmente genial Mark Hammil na marcante voz do Coringa (também famoso por um papel menor como um tal de “Luke Skywalker”, talvez você não conheça), Kevin Conroy como sempre genial no papel do Cavaleiro das Trevas, Nolan North na voz do Pinguim (talvez você já tenha ouvido a voz dele como protagonista de uma série pouco relevante chamada Uncharted), entre vários outros dubladores muito competentes. Além disso, temos uma trilha sonora empolgante que aparece nos momentos chaves e sabe ficar em silêncio quando necessário, e efeitos sonoros de qualidade ímpar.
O visual também deve ser citado, pois é outro aspecto que a Rocksteady conseguiu deixar ainda melhor que no primeiro jogo, embora isso também aparentasse ser difícil devido ao já belo gráfico que o anterior se gabava de ter. Arkham City é enorme e muito bonita, com ambientes muito variados que fazem jus à uma cidade. E como é situada em uma parte de Gotham, temos aqui muitos pontos “turísticos” famosos do universo do Morcego, como o Beco do Crime por exemplo, todos muito bem retratados. Os danos no uniforme do Batman estão de volta, e dessa vez ainda mais bem feitos do que no primeiro jogo. Rasgos na roupa, capa e feridas no corpo e rosto do herói serão constantes e muito vistosas, embora desta vez a capa acabe ficando bem menos danificada do que no asilo, o que faz sentido considerando que aqui ela tem mais usos do que no primeiro jogo e buracos comprometeriam sua funcionalidade. A Mulher-Gato também fica com a roupa e bem-estar físico comprometidos durante o progresso do jogo, por sinal.
E falando na ladra, vale lembrar que aqui é possível jogar com a Mulher-Gato na campanha principal do game e no modo de challenges. A vilã traz muito mais variedade ao gameplay e tem objetivos próprios na prisão, embora seu caminho cruze com o de Batman algumas vezes. Obviamente, a parte no comando de Selina Kyle não são tão extensas quanto as com Batman, se restringindo a apenas quatro fases, mas após finalizar o jogo é possível alternar livremente entre o Morcego e a gata para explorar toda a cidade e coletar os objetivos extras de cada um.
Batman: Arkham City possui uma campanha principal de aproximadamente 12 horas, sem parar pra fazer muitas missões secundárias ou coletar itens extras. Só isso já estaria de bom tamanho para os padrões atuais de jogos, mas o game ainda conta com uma tonelada de conteúdo extra para ser desbloqueado ou explorado após o término do jogo, sendo missões secundárias mostrando vilões que não aparecem na campanha principal, os quatrocentos novos enigmas do Charada, que agora além de troféus ou locais para se escanear possuem também puzzles dos mais variados tipos, desbloqueáveis como arte conceitual ou modelos dos personagens, challenges, entre outros. Isso estende o tempo de jogo em muitas e muitas horas que são complicadas de se calcular, pois é difícil não se distrair do objetivo e ficar vagando sem rumo pela cidade, só por diversão.
Existem muito mais challenges agora do que no jogo anterior, e além dos desafios de combate e furtivos, temos as campanhas, que fazem o jogador passar vários challenges seguidos, alternando entre combat e predator. Os que buscam a platina do jogo são obrigados a fazer todos os desafios apenas com o Batman, mas para completar 100% do jogo é necessário fazê-los tanto com o Morcego quanto com a Mulher-Gato, e de quebra Robin e Asa Noturna. Não, você não leu errado e eu não falei bobagem: é possível jogar com os parceiros do Batman, mas apenas nos challenges. Tanto Robin quanto Asa Noturna estarão disponíveis para DLC em novembro, mas Robin já está incluso em alguns pacotes do jogo, como a versão nacional, a versão de pré-venda da Best Buy ou a Collector’s Edition. Tim Drake possui um gameplay bem diferente do Batman, muito mais do que aparenta, enquanto Dick Grayson só possui, até o momento dessa análise, um trailer revelado, e nele já é possível perceber que o personagem parece ter um estilo ainda mais distinto do Morcego.
Ainda sobre DLCs, o jogo já está com três anunciados até o momento: os supracitados Robin e Asa Noturna, e um pacote de roupas extras para o Batman. Embora nenhum dos DLCs seja de suma importância para o jogo, tendo jogado tanto com Robin quanto com uma skin extra do Batman posso afirmar: valem o investimento. Diferente do Batman Armored do primeiro jogo, as skins alternativas do Morcego em Arkham City não se restringem apenas ao modo extra de jogo, e podem ser usadas tanto após o término da história, para continuar a exploração e caça aos extras, quanto no modo New Game +. Diga-se de passagem, aliás, que todas são muito bem feitas e é extremamente divertido jogar com um Batman completamente diferente do habitual. Existem promessas de mais DLCs no futuro, mas ainda não se sabe do que serão. Mais roupas? Mais personagens jogáveis? Missões extras? Só o tempo dirá.
O modo New Game +, citado anteriormente nada mais é do que uma segunda campanha (que não atrapalha seu save anterior, ainda é possível dar load no seu arquivo com a história terminada e continuar buscando colecionáveis) com todos os equipamentos e habilidades adquiridos na campanha principal desbloqueados desde o princípio, e uma dificuldade muito mais acentuada. Sabe os ícones que indicam quando um inimigo está prestes a atacar? Pode esquecê-los, pois no New Game + eles não aparecem e é necessário ler os movimentos dos inimigos para saber quando desviar ou contra-atacar (assim como no modo Hard do primeiro game, porém muito mais difícil).
Afirmo sem medo de ser feliz que Batman: Arkham City é, sem dúvidas, um dos melhores jogos que já tive a oportunidade de jogar. Tudo no jogo é simplesmente fantástico, o enredo surpreende a cada nova cutscene e explorar a perigosa penitenciária de Arkham City é uma das experiências mais divertidas que um jogo já me proporcionou. O título de jogo do ano é pouco para o Maior Detetive do Mundo, pois Arkham City é uma das melhores experiências de toda a geração. Agora, se me dão licença, tenho uma cidade inteira para salvar de novo.
Outra opinião – Bruno Ferreira Machado
Arkham City (AC) é o melhor exemplo de como partir de um material já excelente como Arkham Asylum e melhorá-lo em todos os aspectos possíveis. AC é simplesmente magnífico do começo ao fim, com personagens muito bem representados e interpretados com atuações de voz soberbas e uma história interessante e cheia de reviravoltas. O combate ficou ainda melhor que o do primeiro jogo (que já tinha o meu sistema de combate favorito de qualquer jogo), o stealth está ainda mais satisfatório e os equipamentos de Batman foram ampliados exponencialmente e todos são extremamente úteis, seja para navegar pelo mapa ou para enfrentar os inimigos.
AC é até agora, de longe, o meu jogo favorito do ano, e isso em um ano com Portal 2, LittleBigPlanet 2 e Dead Space 2 não é algo pequeno. O jogo faz você se sentir como o Batman e o faz muito bem, e se você tiver o mínimo bom senso vai gostar de cada segundo de jogo cada vez mais e mais. Além de impecável, o jogo ainda é longo, oferece um “New Game Plus” depois que você o termina, possui muitos colecionáveis que farão você quebrar a cabeça e ainda oferece dezenas de challenges que farão seus cabelos ficarem brancos mais cedo. Como se não bastasse, você ainda pode jogar com a Mulher-Gato no modo principal e ela realmente acrescenta muito à experiência do jogo. Ela é mais rápida e mais “leve”, e o combate com ela realmente tem uma sensação diferente. Jogar com ela faz de Arkham City praticamente um novo jogo tão bom quanto o original.
O jogo é fabuloso e eu já estou sem adjetivos para elogiá-lo. Compre Arkham City e faça um favor a você mesmo. Você estará diante não somente de um dos melhores jogos deste ano, mas também de um dos melhores jogos de todos os tempos.
Não vou me prolongar em tudo que faz Arkham City ser espetacular: o combate inteligente, divertido e mais refinado que seu antecessor; as sessões de Invisible Predator (honestamente, acho que grande parte do charme dos dois Arkhams venha do terror dos bandidos enquanto você os caça sistematicamente); a ótima história e a quantidade absurda de fan-service; a atuação de voz e caracterização impecáveis dos personagens da HQ; as side-quests, e como elas se integram de forma excelente ao enredo; os pequenos detalhes gráficos, como a roupa do Batman acumular o dano que sofre com o transcorrer do jogo; os inteligentes e não-frustrantes desafios do Charada; as excelentes legendas em português brasileiro; os encontros com os chefes muitas vezes melhores que o visto em Arkham Asylum; a jogabilidade familiar, porém diferente da Mulher-Gato; os dificílimos Challenges e o New Game+; e, acima de tudo, como a Rocksteady conseguiu captar perfeitamente o que é o universo do Morcegão e transpor fielmente para os controles.
Não vou falar de nada disso. Ao invés disso, deixo vocês com um pequena reflexão: minha história com videogames já tem mais de 20 anos, e já experimentei um quantidade considerável de jogos que vão do grotesco a obras-primas. Arkham City é, simplesmente, o melhor jogo que já tive o prazer de colocar no PS3 – em uma palavra, obrigatório. Agora, se me dão licença, vou voltar a jogar – hoje é Halloween e tenho uma história do Calendar Man para ouvir.
— Resumo —
+ Sistema de combate único e perfeito
+ Visual fantástico
+ Mapa gigante
+ Dublagens impecáveis, com destaque para Coringa e Batman
+ História excelente
+ Toneladas de extras
+ Personagens alternativos diversificando o gameplay
– Tem fim