Eu confesso que não esperava grande coisa deste jogo. Jogos de heróis têm a muito tempo sido estigmatizados como ruins e de baixa qualidade na sua produção (e sempre com razão). E isso só me fazia imaginar que Batman: Arkham Asylum iria ser mais uma destas experiências tristes onde destroem os heróis dos quadrinhos com o objetivo de fazer uns trocados indo de carona na fama dos mesmos. Além disso, o jogo estava sendo desenvolvido pela não tão conhecida Rocksteady (de Urban Chaos para PS2), o que tirava ainda mais credibilidade do jogo. Mas eu quebrei a cara. E puxa vida, quem dera todas as vezes que imaginamos que um jogo seria uma porcaria fosse assim!
Não que Batman: Arkham Asylum seja o melhor jogo de todos os tempos ou que vá ficar guardado para todo o sempre na galeria de maiores clássicos e maiores sucessos do videogame. Mas sem dúvida ele está MUITO acima da média do que temos visto ultimamente em jogos de heróis. Roteiro excelente, jogabilidade muito bem bolada (simples sem ser simplória, eficiente sem ser complexa), excelente padrão gráfico, ótimo acabamento, dublagem da mais alta qualidade, dezenas de conteúdos destraváveis e o exclusivo DLC "Play as the Joker" me fazem acreditar que ficará certamente entre o top 3 deste ano. E poupando a sua espera de ler até o final do texto para ver a recomendação eu já adianto: Batman: Arkham Asylum é completamente recomendado.
A história do jogo se passa no hospital psiquiátrico Arkham Asylum, que fica em uma ilha isolada de Gotham e serve para prender e tentar recuperar super-vilões e criminosos profissionais da cidade que tem, em geral, a coincidência de terem sidos capturados pelo homem-morcego. Em uma noite qualquer o Joker (Coringa) foi preso por Batman no escritório do prefeito em uma estranha tentativa de seqüestro na qual ninguém foi ferido (Joker tem prazer em fazer com que os seus reféns e inimigos sofram) e na qual ele não resistiu à prisão. Quando Batman o leva ao hospital psiquiátrico para prisão Joker consegue escapar e tomar controle de Arkham Asylum, tirando de suas celas todos os presos e super-vilões. E é neste momento que o jogador toma controle de Batman com o objetivo de recapturar Joker e os outros inimigos.
O homem-morcego enfrentará (ainda que nem sempre em combates corpo a corpo) vários dos inimigos clássicos das HQs. Joker (Coringa), Harley Quinn (Arlequina), Poison Ivy (Hera Venenosa), Killer Croc (Crocodilo), Scare Crow (Espantalho – este merece um pequeno spoiler: os combates contra ele ficarão por um bom tempo em sua memória), Bane, dentre outros. Mas todos eles são inseridos na história em um roteiro soberbo, no qual tudo faz sentido e não parece forçosamente inserido apenas com objetivo de mostrar os vilões no jogo.
O jogo mistura elementos de combates em terceira pessoa com momentos de exploração silenciosa (como Metal Gear Solid e Splinter Cell) de forma sensacional. Os combates são sempre fluidos, com animações excelentes, combos e contra-ataques. O último golpe em um inimigo de uma área é sempre uma animação em câmera lenta que é um colírio para os olhos. Nos momentos em que Batman deve permanecer nas sombras de forma invisível ele conta com um "Detective Mode", que aponta entradas secretas e que permite que o herói veja os inimigos por detrás das paredes para planejar um ataque cuidadoso. Daí ele pode tirar silenciosamente um inimigo de combate, atacar de surpresa com chutes aéreos, realizar uso dos bat-rangues para temporariamente desestabilizar um inimigo ou se apoiar em lugares mais altos para pendurar algum inimigo com um gancho.
A exploração nos 6 prédios do Asilo Arkham segue o estilo no qual o jogador deve voltar a lugares anteriormente fechados ao adquirir novos itens (existe progressão de nível de itens e elementos de defesa e combate através de pontos adquiridos nas lutas) ou cumprir objetivos. A IA dos inimigos também é ótima. Ao perceberem a presença de Batman eles atacam de forma ordenada e sincronizada. No caso dos inimigos portando armas é mais bem trabalhada ainda: ao perceberem a presença do homem-morcego eles se juntam e tentam aos pares encontrá-lo. Mas diversas vezes eles ficam de costas um para o outro ao se moverem, realizando a cobertura da retaguarda para evitar de serem pegos de surpresa pelas costas.
Graficamente Batman: Arkham Asylum também faz bonito. Os cenários e edificações são muito bem construídos e os personagens são muito bem detalhados. Nos inimigos podemos destacar Arlequina (sensual sem ser pornográfica) e o Coringa (feições realmente assustadoras). E o personagem principal merece um destaque especial. Ótimos movimentos de sua capa, feições realistas, aspecto emborrachado do uniforme realmente convincente e ferimentos e rasgos que vão acontecendo em seu uniforme durante o jogo se mantém até o final. O visual do jogo é escuro e sombrio, o que ajuda a esconder alguns ligeiros detalhes gráficos negativos, como partes do corpo atravessando paredes, alguns serrilhados e corpos dos inimigos mortos parecendo de borracha e sem ossos (já característicos da Unreal Engine, utilizada no jogo). Mas tudo é em geral tão cuidadosamente trabalhado que com certeza você nem presta atenção nestes pontos negativos.
A parte sonora também é digna de aplausos. Excelentes dublagens, principalmente as do Coringa (voz irônica e ameaçadora sem parecer de ator canastrão), da Arlequina (que às vezes até irrita de tão chata e estridente que é, mas mostra claramente o aspecto doentio e perturbado da personagem) e a de Hera Venenosa (assustadoramente sensual e infantil ao mesmo tempo), embora algumas vezes as falas não estejam perfeitamente sincronizadas com os movimentos dos personagens.
Embora não exista um modo online propriamente dito, o jogo conta com diversos desafios extras e um DLC exclusivo e gratuito para PS3 chamado "Play as the Joker", onde missões de combate e de exploração invisível devem ser realizadas pelo próprio Batman e também pelo Coringa, chegando a pontuações que podem ser comparadas online. Existem também 240 troféus escondidos em Arkham pelo Riddler (Charada) que conforme vão sendo encontrados destravam conteúdos extras como história e modelos dos personagens. Mas independentemente destes bônus, Batman: Arkham Asylum é um jogo que, pela tamanha qualidade, tem seu fator replay acentuado. Depois de finalizá-lo a primeira vez você estará tão entretido com a história que vai querer jogar novamente em um maior nível de dificuldade.
Como disse anteriormente, quem dera todos os jogos dos quais não esperamos grande coisa fossem assim. Qualidade gráfica e dublagem de cinema, longevo sem ser cansativo, jogabilidade excelente e bem trabalhada (mesmo que você se sinta tentado a jogar o tempo inteiro no "Detective Mode") e fator replay motivado pelo próprio jogo sem depender de modo online e conteúdos extras (sem desmerecer o DLC "Play as the Joker" que também é ótimo) só me permitem finalizar esta análise com a seguinte afirmação: Batman: Arkham Asylum é extremamente recomendado. Mesmo que você seja o Joker em pessoa.