Uma tecla que aperto com frequência em análises de jogos de plataforma 3D é que existem poucos atualmente quando comparamos com outras épocas. Apesar disso, as opções no mercado têm aparecido: Sackboy: A Big Adventure, Crash Bandicoot 4: It’s About Time e New Super Lucky’s Tale, só para citar alguns. Quando soube que Yuji Naka e Naoto Oshima, famosos pelas suas obras como Sonic e NiGHTS na SEGA, estavam juntos novamente na Square Enix para produzir um título de plataforma 3D, a expectativa era bastante alta. No entanto, Balan Wonderworld é, no mínimo, decepcionante.
Balan Wonderworld não é exatamente ruim, mas o jeito mais fácil de descrevê-lo é como um jogo datado de 15 a 20 anos atrás. Parece um jogo de plataforma da época do PS2 e usando recursos que só existiam naquela época. Some a isso um design de fases ruim e uma mecânica principal que não empolga (os trajes), e você entenderá a decepção.
A história de Balan Wonderworld acontece no Teatro Balan. Duas crianças, Emma e Leo, sofrem problemas: Emma basicamente sente que todos falam mal pelas suas costas, enquanto que Leo acha que as pessoas não gostam de seus passos de dança. Chegando ao teatro em questão, os dois jovens são guiados por Balan, um personagem com poderes especiais e que lembra bastante o visual e apelo de NiGHTS, outra obra de Naka e Oshima (sem contar o lance das crianças).
Chegando a esse teatro mágico, Emma e Leo devem ajudar doze pessoas que também estão sofrendo problemas. Por exemplo, uma garota ama insetos e é julgada por isso, enquanto que em outro caso temos um idoso que se considera invisível ao coletar o lixo do chão e que ninguém contribui para que a rua permaneça limpa. Todas essas histórias são contadas por belas CGs da Visual Works da Square Enix e formam a base das 12 fases do game.
Cada fase possui dois atos e uma batalha contra chefe. O caminho em cada fase é mais ou menos linear e com um level design estranho, mas a exploração é recompensada na forma de estátuas douradas de Balan. Há mais de 200 delas espalhadas por todo o jogo e que você deve encontrar para continuar progredindo e abrindo as fases. Ao chegar no fim dos dois atos, a batalha contra chefe acontece e todos eles possuem três formas de receber dano – o jogo recompensa aqueles que explorarem isso com mais estátuas. Vale notar que existe um terceiro ato opcional para todas as fases após concluir a história principal, o que aumenta significativamente a jornada. Nesse terceiro ato, você deve coletar mais estátuas de Balan, agora definidas como coloridas.
O coração de Balan Wonderworld são os mais de 80 trajes. Em cada fase do jogo há pelo menos 5 trajes a serem descobertos. Você coleta uma chave (há várias espalhadas e não são exclusivas) e pode coletar o traje ao vê-lo na fase. O seu personagem pode ter três trajes ao mesmo tempo, sendo que a troca ocorre ao apertar L1 ou R1. O traje também atua como sua vida: ao receber dano, o traje é perdido e você precisa pegá-lo novamente.
Cada traje possui sua própria mecânica. No início, você terá trajes simples à sua disposição, como um que pula e ataca simultaneamente, ou que escala teias de aranha (foto acima). Os trajes não são exclusivos das fases – depois que coletou um em específico, desde que não o perca recebendo dano, pode usá-lo em qualquer fase. Assim, por exemplo, teias de aranha vistas em um mundo anterior podem ser escaladas agora com o traje que você pegou em uma fase posterior.
Apesar dessa mecânica de cada fase ter seus trajes recompensar a exploração, é aqui que Balan Wonderworld fica bastante desbalanceado. Existem trajes com poderes bastante “absurdos” por assim dizer, como caminhar pelo céu por um tempo considerável. Trajes assim deixam outros, com propostas similares, basicamente inúteis. Dito isso, muitos trajes serão usados em sua jornada, mas o que quero dizer é que você notará que existem alguns específicos que são simplesmente absurdos de bons.
Os trajes, como dito, são bastante variados e vale destacar a criatividade dos desenvolvedores. No entanto, esse desbalanceamento e o fato de que você perde um traje como um pedaço de vida são elementos bastante desanimadores. O traje, em minha opinião, deveria ser apenas uma mecânica de gameplay e não servir como proteção também.
A proposta de Balan Wonderworld é ter um gameplay bastante simples. Existem apenas quatro botões: pulo (ou a habilidade do traje), a troca de trajes com L1 ou R1, a movimentação do personagem e a câmera. Com isso, é bastante claro que o foco é um público mais infantil e não acostumado a videogames. Você acaba percebendo isso pela dificuldade geral do título, mesmo que os mundos mais para o fim do game acabem sendo um pouco mais desafiadores.
No entanto, a câmera padrão de Balan Wonderworld é simplesmente horrível. O tempo todo ela se ajeita ao seu personagem e é algo agoniante. Por sorte, você pode desativar isso nas configurações e recomendo fortemente que faça isso.
O gameplay de Balan Wonderworld é basicamente o que foi descrito até aqui, mas ainda há um outro elemento que é incrivelmente desnecessário: o minigame chamado de Desafio do Balan. A proposta desse minigame é basicamente um QTE (Quick Time Event). Você precisa apertar X no momento em que a sombra fica sincronizada com Balan (ou várias vezes, caso apareçam várias sombras).
São quase 50 desses minigames espalhados pelo jogo e muitas vezes são repetidos. Não só isso: para receber a recompensa, é necessário conseguir uma pontuação perfeita. Se você falhar em um dos momentos, não tem como reiniciar – é preciso sair da fase e tentar de novo. Inclusive, se o desafio não aparecer novamente, é preciso derrotar o chefe daquele mundo de novo. É simplesmente surreal ter que fazer 50 minigames chatos, sem graça, que não tem nada a ver com um jogo de plataforma, repetidos e ainda por cima com uma pontuação perfeita para receber a recompensa. É claro, o Desafio de Balan é algo opcional para quem só se importa com a história, mas se você pensa nos 100% ou na platina… boa sorte.
Quando Sonic Adventure foi lançado, tivemos os Chao: pequenas criaturas que precisávamos cuidar ao trazer os animais salvos. Balan Wonderworld traz algo semelhante, mas bem mais simples: os chamados Tims.
No hub central de Balan Wonderworld, há diversos Tims (pequenas bolinhas que parecem um pássaro sem asa). Ao coletar as gotas pelas fases, você pode dá-las aos Tims para que eles cresçam. Ao chegar em um determinado ponto de altura, é possível multiplicá-los. Achar ovos pelas fases também aumenta o seu número. Conforme a população de Tims cresce, mais eles trabalham em uma torre central. Um dos objetivos paralelos do game é completar essa torre, assim como desbloquear um Tim lendário.
Os Tims são algo paralelo e, sendo franco, sem graça. A mecânica deles é só alimentá-los e vê-los multiplicar. Os Chao, que são a inspiração dos Tims, eram muito mais complexos e com várias opções de gameplay.
Por fim e não menos importante, precisamos falar do cooperativo de Balan Wonderworld. Disponível apenas em formato offline, você pode aproveitar o game com um amigo. Porém, é um pouco decepcionante e sinceramente não recomendo a opção.
O cooperativo acontece na mesma tela (não é tela dividida) e o foco é no jogador principal. O segundo jogador, portanto, deve acompanhar o ritmo ditado pelo primeiro. Quer um exemplo prático? Pense em Tails nos Sonic 2D clássicos. A lógica é similar.
Quando os dois personagens encostam um no outro, eles se unem e o Player 2 basicamente vira um fantasma. A ideia desse elo é usar os poderes dos trajes de forma simultânea. E é basicamente isso que vira o cooperativo: pensar em soluções usando dois trajes ao mesmo tempo, ao invés de explorar e jogar de fato juntos.
Algo que não podemos deixar de destacar é a trilha sonora de Balan Wonderworld. Muitas músicas são simplesmente excelentes, apesar de termos situações em que parecem ser plágios ou usar vozes que já foram usadas em outras situações (uma das músicas possui as mesmas vozes do cenário da África de Street Fighter IV, sendo que já ouvi-las em outros lugares também). Mas ignorando isso, a trilha é ótima.
Por sorte, temos legendas em português do Brasil. Não era algo extremamente necessário – a história do game é contada sem uma única fala quase – mas não deixa de ser algo bem-vindo, principalmente para explicar a mecânica de cada traje. Além disso, quando há falas, não sei dizer se está sendo dito em japonês ou em uma língua criada para o jogo, pois legendas não aparecem. Por exemplo, na animação de Balan com o trem, ele parece dizer “alguma coisa engine” em um japonês misturado com inglês, mas não tenho certeza. O que quero dizer com isso é que não faço ideia se o jogo possui um áudio em japonês ou se é uma língua inventada.
Concluindo, Balan Wonderworld possui uma trilha sonora marcante e é repleto de ideias interessantes, porém muitas delas não funcionam na prática. Vários trajes possuem mecânicas de gameplay divertidas, mas que se tornam irrelevantes inúmeras vezes quando outros realmente úteis são encontrados. O Desafio de Balan é algo que simplesmente não deveria existir, o cooperativo é decepcionante e o design das fases é algo estranho.
Como dito no início deste review, Balan Wonderworld não é um desastre (pode ser que você goste e tenho certeza que muitas pessoas ficarão felizes com o game), mas mesmo sendo fã das obras anteriores de Naka e Oshima, não dá para passar pano: Balan Wonderworld possui muitos problemas e seu resultado final é decepcionante.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Balan Wonderworld não é um desastre completo – há algumas ideias interessantes em determinados pontos da jornada e a trilha sonora muitas vezes é marcante. Porém, a mecânica das roupas (que é o coração do jogo) não agrada e é muito desbalanceada. Além disso, o design das fases é estranho e o minigame Desafio de Balan é simplesmente horrível.
Balan Wonderworld
Fabricante: Arzest / Balan Company / Square Enix
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / Plataforma
Distribuidora: Square Enix
Lançamento: 26/03/2021
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Balan Wonderworld is not a complete disaster – there are some interesting ideas at certain points in the journey and the soundtrack is often striking. However, the mechanics of the costumes (that are the heart of the game) aren’t very good and are very unbalanced. In addition, the design of the levels is strange and Balan’s Bout minigame is just horrible.