Para os fãs de visual novels, em especial aqueles que se mantêm fiel ao PlayStation Vita, é bem possível que 2017 fique marcado como o ano dos lançamentos otome no Ocidente. A Aksys Games tem feito de tudo para capturar a atenção e os corações dos fãs do gênero, com a localização de jogos populares no Oriente, capazes de trazer novos interessados ao gênero e satisfazer os fãs sedentos por mais.
Seguindo esta linha temos o lançamento de Bad Apple Wars, mais uma visual novel desenvolvida pela Otomate e pela Idea Factory, desenvolvedoras cuja parceria é responsável por outros jogos recém-lançados pela Aksys, como Collar X Malice e Period: Cube ~Shackles of Amadeus~, e que promete estar no mesmo nível de qualidade que as anteriores.
Como o próprio gênero indica, Bad Apple Wars conta a história da perspectiva de uma protagonista feminina, com cada uma das rotas representando uma oportunidade de romance com um personagem masculino e, assim como grande parte das visual novels otome, o romance é apenas uma parte de um belo roteiro que se foca muito mais no plot geral.
Bad Apple Wars coloca o jogador no papel da jovem Rinka, uma típica adolescente em seu primeiro dia em uma nova escola. No entanto, no caminho para a aula, algo acontece e Rinka desmaia, só acordando na escola, sendo recepcionada por um estranho professor chamado Mr. Rabbit e sendo apresentada ao local onde passará seus dias: NEVEAH Academy, uma instituição para mortos.
NEVEAH Academy é uma espécie de purgatório para onde vão aqueles que morreram muito jovens e onde podem conseguir uma nova oportunidade de vida. A chance de começar tudo do zero, sem memórias da vida passada, exige que o aluno se forme, o que só é possível seguindo uma série de regras impostas pela escola e que resulta na perda tanto das memórias quanto da própria essência de quem você é, só assim sendo possível alcançar a reencarnação.
Naturalmente, em qualquer ambiente com regras tão estritas, também surgem indivíduos dispostos a quebrá-las e a lutar pelo que acreditam. Esses alunos são chamados de Bad Apples, os quais buscam quebrar todas as regras possíveis com o objetivo de manterem suas identidades e conquistarem sua liberdade. Em especial, esse grupo busca quebrar sete regras conhecidas como “Unbreakable Rules”, ou regras inquebráveis, em especial, comer o fruto proibido e descobrir o que ser “expulso” da escola significa.
A protagonista se vê então no meio de uma espécie de guerra entre o grupo dos “Bad Apples” e os Prefects, responsáveis por garantir que nenhuma das 100 regras sejam quebradas, sendo obrigada a escolher se buscará tentar desvendar os mistérios por trás de NEVEAH Academy ou seguir as regras e partir em busca da chance de conquistar uma nova vida.
Existem rotas que seguem interesses amorosos de ambos os lados da moeda, sendo possível acompanhar os diferentes acontecimentos do jogo tanto do lado caótico e rebelde dos Bad Apples quanto do lado ordeiro e pacífico dos Prefects, como uma das Good Apples, e realmente vale a pena seguir várias rotas e experimentar os diferentes pontos de vista do jogo.
Os temas não são tão distintos assim de jogos mais populares, tocando bastante em temas como individualismo e os sacrifícios que vêm da luta para ser quem você quer ser (que não é tão diferente assim do tema que permeia o aclamado Persona 5) e, em especial, Bad Apple Wars trata de um tema não muito comum em jogos, que é a religião e o verdadeiro significado da existência, sendo um jogo bastante filosófico para o que é, na sua essência, um simulador de namoro.
As rotas são bem variadas e os personagens em si são bem escritos, e a essência por trás de cada rota é, no geral, bem tocante, fazendo com que cada relacionamento seja único e enriqueça a experiência como um todo. Infelizmente, boa parte do jogo é gasto estabelecendo NEVEAH Academy, fazendo com que o ritmo sofra bastante com muitos diálogos expositivos, que, se por um lado ajudam a envolver o jogador naquele mundo, por outro acabam afetando algumas rotas e tornando-as mais rasas do que poderiam ser (apesar da variação de qualidade na escrita não ser de ruim para boa, mas sim de boa para incrível).
Além da tradicional possibilidade de escolher para onde Rinka vai (o que é bem intuitivo, já que cada local mostra a cor ligada a uma rota, facilitando na hora de identificar qual personagem está ligado ao evento do local) ou quais as respostas ou ações serão tomadas em momentos-chave, Bad Apple Wars também possui um minigame um pouco mais… sugestivo. Em NEVEAH Academy, tocar outras pessoas é visto como uma espécie de tabu, já que você não está em contato com o corpo físico da pessoa, apenas uma manifestação corpórea da sua alma. Por essa razão, pessoas com uma certa afinidade com a energia que emana das almas é capaz de ver memórias dos outros ao tocá-los e a protagonista é especialmente sensitiva a isso.
Assim, em alguns momentos é possível ativar um mini-game em que Rinka precisa tocar alguém em pontos específicos que agradam aquele personagem e, se feito da maneira correta, isso ativa lembranças de momentos importantes da vida do personagem. Essas ações se utilizam da tela do Vita, (e não é muito diferente dos minigames de jogos como Criminal Girls 2, por exemplo), mas se tornam repetitivos depois de um tempo. Eles capturam bem o momento de intimidade entre os personagens e realmente acrescentam bastante à beleza da história.
Talvez o maior problema de Bad Apple Wars seja o fato dele não estar no mesmo nível de outros jogos da Otomate. A história em si é boa e a interface mantém a tradição de ser incrivelmente intuitiva e responsiva (a adição de um flow chart é muito boa), mas a arte tem problemas (existem personagens que, apesar de terem falas, não possuem modelos desenhados, só rápidas descrições da sua aparência) e a apresentação não é nada memorável. A trilha sonora também não é muito impactante e em alguns momentos afoga completamente as vozes dos personagens.
No geral, Bad Apple Wars é uma história bonita e cativante, que realmente provoca o jogador a pensar. Diferente de outros jogos da Otomate, há bastante foco e cuidado com os romances em si, sendo parte integral da mensagem que a história tenta passar. Parte do apelo de uma boa visual novel é fazer o jogador sentir algo e temos aqui um belo exemplo de um jogo que o faz muito bem.
Veredito
Bad Apple Wars conta uma bela e tocante história, permeada de discussões filosóficas, sem se privar de momentos dramáticos e tristes. É uma aquisição necessária para os fãs de visual novels otome. Existem alguns pequenos problemas, mas o jogo faz valer a qualidade que se espera dos jogos da Otomate.
Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Aksys Games.
Veredito
Veredict
Bad Apple Wars tells a beautiful and touching story, full of philosophical discussions, without avoiding sad and dramatic moments. It’s a mandatory acquisition for otome visual novels fans. There are some small problems, but the game lives up to the quality one expects from Otomate’s games.