Ary and the Secret of Seasons – Review

Você por acaso já teve contato com algum jogo da série The Legend of Zelda? Para ser mais específico, The Legend of Zelda: The Wind Waker? Independentemente da sua resposta, saiba que sua aventura em Ary and the Secret of Seasons lembrará um pouco o triple A da Nintendo, só que claro, com defeitos que lá na concorrência não existem.

O motivo dessa comparação se deve ao fato de que os ambientes de Ary são um pouco parecidos com os de Wind Waker. Os templos, puzzles, comandos na hora de travar mira no inimigo, enfim. Obviamente que essa comparação não traz credibilidade ao título, pelo contrário. Ela justamente prova que o jogo tinha tudo pra dar certo, mas levou um tremendo tombo no caminho.

Felizmente, as atualizações de Ary and the Secret of Seasons deixaram as coisas mais jogáveis, e você vai saber neste texto se o investimento (após quase 10 GB de atualizações) realmente será válido.

Ary and the Secret of Seasons conta a história de Aryelle – ou Ary -, uma jovem muito corajosa que sonha em poder um dia ter a mesma oportunidade que seu irmão, Flynn, teve de visitar o Domo das Estações e tornar-se aprendiz dos guardiões das estações.

Durante uma ida ao centro comercial da cidade, Ary vê as coisas em sua vida virarem de ponta-cabeça. Além de um grupo de Hienas estar em posse da espada de seu irmão supostamente morto, um cristal gigantesco cai do céu e muda completamente as estações das regiões de Valdi, incluindo Yule, cidade natal da nossa heroína.

Após todos esses acontecimentos, Ary acaba tornando-se a guardiã do inverno e parte em busca de respostas sobre o paradeiro de seu irmão, além, é claro, do culpado pelas mudanças nas estações no mundo.

Pelo enredo, Ary and the Secret of Seasons parece ser super divertido, principalmente se você colocar na mesa todo o resto, como o fato de que será necessário sair em busca das pedras das estações nas quatro diferentes regiões de Valdi. Porém, quando adicionamos a parte técnica, a coisa muda completamente de figura.

Uma das principais questões técnicas que influencia no gameplay é a câmera. Antes das recentes atualizações, ela era horrenda e conseguia deixar qualquer um enjoado. Literalmente. Porém, ela foi melhorada e agora está menos pior. Isso porque ainda existem alguns bugs que te fazem olhar para lugares indesejados. Além disso, o ângulo de algumas cenas deixa uma sensação de desconforto, como se ela não se encaixasse ali.

Outro ponto importante sobre a câmera é que ela não dá sensação de profundidade. Em momentos de necessidade – como atravessar obstáculos – ela simplesmente não consegue te dar uma noção da distância dos objetos. E se por acaso você vier a mexer muito nela enquanto está andando, as chances de falhar são razoáveis, mas podem te levar à morte.

Como dito no início deste review, um dos títulos que você mais pensa enquanto está jogando Ary and The Secret of Seasons é Zelda. E isso se deve a diversos fatores, inclusive as batalhas com determinados inimigos. Um deles, por exemplo, só morre quando as sementes que ele dispara são rebatidas de volta, momento bem familiar a quem já derrotou vários Deku Scrubs na vida, não é?

O gameplay geral de Ary and the Secret of Seasons é razoável. Embora a câmera não seja das melhores, os comandos que você pode executar com a heroína são funcionais e não te deixam penando muito.

Outra coisa bem legal é a possibilidade de usar as pedras das estações para modificar ataques inimigos que facilitam as coisas. Claro, isso não funciona com todos os adversários, mas é um adicional interessante para a jogabilidade que, com o tempo, pode ficar repetitiva.

Embora os combates sejam simples e não tenham exatamente muitos segredos, eles podem ficar bem difíceis rapidamente. Para tentar manter o foco, existe um sistema para travar a mira. Ele não é realmente necessário por um único motivo: ele não funciona como deveria. Em diversos momentos me vi com o lock target ativado sem sequer ter acionado o botão. É uma falha que pode parecer boba, mas que no calor da batalha faz bastante diferença.

Como o mundo de Ary and the Secret of Seasons é cheio de perigos, você precisará equipar muito bem a sua personagem. Embora não existam armaduras ou outros equipamentos que possam diminuir o dano recebido, o jogo te dá opção de comprar upgrades através dos mestres dos Dojos que ficam espalhados nas regiões.

Essas habilidades são variadas, e servem para aumentar o dano causado, a recuperação de energia, a velocidade de ataque, entre outros. Tudo isso é muito legal e interessante, porém, comprar essas melhorias custam moedas, e se tem algo que você dificilmente terá, é dinheiro.

Não é possível vender objetos, apenas comprá-los. A única forma de conseguir moedas é através de baús, e infelizmente, nem todos estarão acessíveis logo de início. Para aumentar ainda mais o desespero do jogador, o preço dos objetos não condiz com a quantidade de dinheiro que você encontra na aventura. O que é uma pena, pois existem diversos cosméticos à venda que no fim, não servem de nada, já que você dificilmente irá comprar aqueles que realmente valem a pena.

Eu já mencionei há alguns parágrafos que existem sim, inimigos fáceis. E que também há uma seleção razoável de equipamentos e upgrades para melhorar a experiência na jornada em Ary and the Secret of Seasons. Porém, existe um lado “Dark Souls” escondido que ainda não foi mencionado, mas que deve ser colocado na mesa para o seu bem.

Embora você tenha armas, armaduras e magias a seu dispor, existem alguns inimigos que te matam só de triscarem em você. Não sei se é bug ou se isso realmente deveria acontecer, mas é ridículo ver um monstro comum te dando um Game Over, mesmo com todos os corações de HP cheios.

Indo um pouco além, os aficionados por platinas terão que lidar com um grande desafio à frente. Um dos troféus exige, por exemplo, que você não morra nenhuma vez durante a aventura. Eu, particularmente, já desisti disso depois que morri algumas – muitas – vezes no início do jogo para os bugs.

Para fechar o show de horrores, outra coisa bem ruim de se ver é a animação de Ary morrendo. Ou melhor, a falta dela. Quando a protagonista é derrotada – ou sofre algum acidente no cenário -, a tela fica toda preta e ela começa a falar algumas coisas sem sentido. É algo muito louco e bizarro, pois além de presenciar um apagão repentino na tela, você ouve frases que, aparentemente, não deveriam existir.

Ary and the Secret of Seasons possui um mundo “grande”. São diversas montanhas, árvores, cidades…mas tudo isso parece que não passa de um simples enfeite sem conteúdo.

A começar pelas quests existentes nesse vasto mundo. Embora algumas sejam opcionais, a maioria acaba sendo obrigatória para a continuação da aventura. O mapa marca a localização delas, porém, não é nada intuitivo, tendo em vista que quando ele é aberto dentro do inventário, apenas as missões principais aparecem.

E por falar em mapa, é preciso mostrar aqui o grau de descontentamento com o inventário. Ele não é nem um pouco intuitivo, sendo necessário entrar no menu de pause para abrir as outras opções. Isto poderia ter sido resolvido com um acesso rápido via touchpad do DS4, porém – pelo menos por enquanto -, ficaremos apenas na vontade.

Voltando à parte gráfica de Ary and the Secret of Seasons, devo dizer que ela é, no mínimo, decepcionante. E não falo apenas dos gráficos, mas sim da execução técnica como um todo. As áreas são enormes, mas tamanha grandiosidade não passa de enfeite, já que a maioria das coisas não é acessível.

Existem alguns buracos nas montanhas que, num primeiro momento, parecem passagens secretas, porém, eles não passam de uma falha. Inclusive, é preciso deixar claro aqui que alguns caminhos alternativos – para as missões secundárias – mais parecem bugs do cenário do que propriamente algo que realmente deveria estar lá.

Além dos problemas citados acima, Ary and the Secret of Seasons sofre de outro muito feio, que é a lei da física. Ela simplesmente não funciona aqui. Ary atravessa objetos que supostamente não deveria, como telhados e mesas. Mais do que isso, às vezes o bug é tão grande que te obriga a resetar o jogo, pois ele não consegue voltar ao normal por conta própria.

Para tentar amenizar esses problemas, os desenvolvedores colocaram algumas piadinhas internas dentro dos diálogos. A exemplo disso, existe uma cena em que os guardiões abrem uma passagem secreta e um deles diz que aquela é uma “porta”, porém, Ary questiona e diz que na verdade aquilo é uma escada. Como resposta, outro comenta que o motivo se deve ao fato de que a equipe de desenvolvimento não tinha alguém para cuidar do level design. Essas brincadeiras são “engraçadas”, porém, você deve se lembrar que estamos falando de um jogo de R$164,90.

Tirando esses bugs medonhos de Ary and the Secret of Seasons, existem sim cenários muito bonitos, como os templos das estações e outros lugares no vasto mundo de Valdi. Infelizmente, a maioria desses locais possuem apenas beleza exterior, então, neste caso, aquele famoso ditado “o que tem dentro é o que importa”, não se encaixa aqui.

Antes de começar a análise de Ary and the Secret of Seasons, preferi esperar algumas atualizações, pois era simplesmente impossível de se jogar. A câmera era péssima e conseguia deixar qualquer um tonto. Os bugs eram terríveis, e misturados à qualidade gráfica, a coisa toda virava um verdadeiro show de horrores. Honestamente, foi um título que prendeu pelos vídeos de divulgação, mas me deixou extremamente frustrado pela péssima entrega final.

Pode parecer implicância da minha parte para com um jogo desse porte, mas o mínimo que eu espero de um título de quase R$165 reais é que ele seja decente e com bugs que não atrapalhem tanto assim a diversão.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Modus Games.