Existem empresas que sempre serão lembradas pelos produtos que criam. Alguns estúdios de videogames se sobressaem a outros e criam obras memoráveis, transformando seu nome quase em selo de qualidade. Porém, existem aqueles que ditam o mercado, que criam tendências, que realizam marcos difíceis de serem alcançados e que se colocam acima dos concorrentes de forma inigualável. A Rockstar Games é uma empresa única e que deixa um legado em cada jogo lançado.
Red Dead Redemption 2 é a sequência do jogo de mesmo nome lançado em 2010. Trazendo agora uma história que antecede a aventura de John Marston e com uma ambientação impecável, a Rockstar Games mostra estar em um patamar acima de qualquer concorrente quando o assunto é jogos de mundo aberto.
No final do século 19, a era dos fora da lei começa a ver seu final. Por décadas, gangues e malfeitores têm aterrorizado o oeste americano, usando de qualquer meio para conseguir dinheiro. À medida que a situação se agrava, o governo dos Estados Unidos põe em prática medidas agressivas para conter todo e qualquer bandido livre no Oeste.
Em Red Dead Redemption 2, o jogador acompanha a história de Arthur Morgan, integrante da gangue de Dutch Van der Linde. Após um assalto frustrado em que Arthur não esteve diretamente envolvido, toda a gangue é procurada pela justiça, restando apenas a opção de abandonar tudo conquistado e fugir para o mais longe possível. A partir desse momento, Arthur e os demais membros da gangue têm apenas um objetivo, conseguir dinheiro suficiente para deixar essa vida para trás enquanto tentam se manter vivos.
A história aqui segue uma linha de execução diferente do primeiro jogo. Enquanto John tinha uma jornada específica para conseguir sua família de volta, Arthur tem que fazer o possível para manter a única família que tem, unida. De certa forma, não há um grande objetivo definido, mas sim uma sucessão de eventos que vão modificando a forma de encarar a aventura.
A narrativa e a história contada se juntam de maneira bastante homogênea ao mundo criado pela Rockstar Games. De um modo geral, à medida que o mundo evolui, seus personagens e suas histórias também vão mudando. Se algo dá errado, isso se reflete no mundo e, de certa forma, a gangue toda acaba vivenciando. Acontece como em eventos do cotidiano, onde planos são feitos e executados, mas o resultado pode ser diferente do esperado.
Toda essa forma de contar a história, faz da aventura de Arthur muito mais crível e aceitável até pelo fator histórico. É interessante a inserção de temas históricos no jogo, principalmente para elevar a ambientação. O tratamento a negros e latinos, abuso de poder por autoridades e até discriminação contra mulheres estão presentes. Independentemente do que é usado no jogo, tudo é feito de uma maneira para favorecer a narrativa, inclusive sendo tema de missões principais.
Tendo um ritmo excelente, a narrativa provê diversão e emoção da maneira certa, não ficando abaixo em nenhum momento da história contada no primeiro jogo. Isso inclui manter as melhores partes dramáticas do jogo anterior, principalmente seu final. Tais momentos serão presenciados especialmente no capítulo final, mostrando que, apesar de estilos e histórias diferentes, John Marston e Arthur Morgan são personagens carregados de emoções.
Mesmo uma excelente história precisa de apoiar em algo para funcionar e aqui, temos uma das melhores ambientações já criadas. O Velho Oeste nunca foi tão bem representado numa obra de entretenimento e a atenção aos detalhes é imensa, jamais vista em um jogo de mundo aberto. A criação do próprio mundo é executada de maneira magnífica. A geografia do mapa, paisagens, fauna, flora, cidades e pessoas são destaques em cada lugar que se possa ir. A variação de regiões cria biomas únicos, que vão desde montanhas geladas a pântanos e florestas.
As cidades e caracterização dos personagens abusam em detalhes que remetem a tal época. Interessante observar que mesmo com o advento da revolução industrial no seu princípio, o mundo ainda se molda pelas mãos dos moradores dele. É comum observar casas sendo construídas e terminadas durante o progresso do jogo, assim como caminhos e até estradas e trilhos para as locomotivas. Interessante pontuar o desenvolvimento de Saint Denis, maior cidade do jogo. A mesma está em plena industrialização e os efeitos disso é visto no ambiente, como densa fumaça dentro da cidade e no porto, poluição visual pela excessiva iluminação, despejo de óleo na água e ausência de vida animal silvestre próximo a região.
Cada personagem no jogo tem características únicas, seja pelos seus trejeitos, diálogos ou atitudes. Como exemplo, Arthur pode dar uma esmola para um veterano de guerra e o ver indo ao bar gastar o que ganhou com bebida. Enquanto isso, pode ajudar padres com dinheiro e ver os mesmos recolhendo e ajudando outros moradores de rua. Tudo isso somado com uma excelente dublagem, aumenta ainda mais a imersão. No máximo se pode queixar de alguma sincronia labial não tão bem encaixada em falas fora das cutscenes.
Armamentos e vestuário também partilham do excessivo detalhamento. É possível utilizar mais de 50 armas e customizá-las da maneira que achar melhor, com melhorias para o combate ou modificações estéticas. Há dezenas de trajes para vestir Arthur, assim como fazer combinações de peças de roupas separadas e até cortes de cabelo ou barba. Acredite, é fácil ficar um bom tempo apenas para escolher um traje.
Diferente do primeiro Red Dead Redemption, agora há uma enorme variação de itens e consumíveis no jogo. Enquanto anteriormente era possível ignorar os poucos itens que existiam, agora é praticamente obrigatório fazer o uso dos mesmos. Como já descrito nas nossas primeiras impressões, o novo sistema de vida, fôlego e olhos da morte vão decaindo com o tempo. Para recuperar seus valores base e atual, é necessário o consumo de itens. Esses variam de alimentos, bebidas e tônicos que recuperam parte ou totalmente os valore, fazendo com que sejam bastante úteis em qualquer atividade, seja em combate ou explorando o mapa do jogo.
Não poderia faltar no jogo atividades típicas do Velho Oeste. Roubo de bancos, trens, carruagens, de animais e até pedestres estão disponíveis ao monte. Junte a isso algumas outras atividades que retornam do jogo anterior, como caça a tesouros, busca de procurados e guerra de gangues. Esses eventos acontecem tanto em missões da história, eventos aleatórios no mapa ou até pela vontade do jogador. Não gostou de como o médico te tratou? Cubra o rosto, volte até ele e o roube. Aproveite e ainda descubra segredos que o mesmo possui, como cofres escondidos ou até um sistema de contrabando junto a outra gangue.
O mundo de Red Dead Redemption 2 é absolutamente vivo e, mesmo que o jogador decida não interferir, tudo acontece normalmente ao seu redor. Brigas vão ocorrer em bares, duelos irão acontecer, presos irão fugir, assassinatos e roubos estarão presentes. O Oeste é selvagem e muito pode acontecer sem que o jogador perceba. Podemos falar por horas sobre eventos que acontecem no jogo em que Arthur pode intervir ou não. Salvar pessoas pelas estradas por motivos diversos pode render recompensas posteriormente. Porém, da mesma forma que se encontra situações assim, também é possível presenciar emboscadas e bandidos que vão tirar proveito de boas ações por parte do jogador.
Nem tudo diz respeito apenas à vida de fora da lei ou de explorador. Há ainda as atividades de caça e pesca que podem tomar boa parte do jogo, já que o que se recebe por essas atividades é usado em melhorias para o jogador, como bolsas que podem carregar mais itens e até roupas feitas com os animais caçados. É normal se sentir sobrecarregado de coisas a fazer e acabar se perdendo no caminho para uma missão, por exemplo. Porém, nada disso é obrigatório e o jogador pode decidir como e quando fazer, da maneira que achar melhor. O mundo de Red Dead Redemption 2 é aberto a toda forma de jogar, seja apenas pela campanha principal, sobrevivendo de caça ou pesca, sendo um bandido impiedoso ou apenas explorando e descobrindo os mistérios que nele existe.
Apesar da quantidade surreal de atividades no jogo, cumprir tais tarefas seria desagradável se a forma de jogar não fosse satisfatória. Praticamente temos uma jogabilidade bem similar ao primeiro RDR, com um ritmo mais cadenciado e mais aceitável ao estilo de jogo, só que melhor desenvolvida e refinada.
O combate é agradável e segue o modelo do jogo anterior, com bom uso de cobertura (parte aliás que foi bastante melhorada em comparação ao primeiro título), movimentação e tiroteio mais cadenciado além do retorno do sistema de Olhos da Morte. O combate corpo a corpo foi totalmente revisado, sendo melhor aproveitado no jogo. Há ainda uma forma mais sorrateira de se jogar, fazendo bom uso de armas brancas e sempre aparecendo em uma missão ou outra. De certa forma, o combate mais lento faz sentido ao se analisar o período do jogo e a forma como isso já foi representado em demais obras de entretenimento. Não dá para esperar um combate acelerado como em GTAV, já que isso não faria sentido no contexto e ambientação que temos agora.
A variação do combate é expandida com uso de veículos e montarias, com ótimos momentos de cavalgadas e tiroteios contra inimigos em carruagens, cavalos e até trens. Da mesma forma aqui, os detalhes são abundantes. Atire na garganta de um inimigo e veja o mesmo tentar desesperadamente estancar o sangramento antes de morrer. Uma flecha na perna faz até o pior dos bandidos correr manquitolando enquanto tenta retirar o projétil. Há uma variação imensa de animações no combate para diversas situações que possam ocorrer.
Além do combate, Arthur pode interagir com todo e qualquer personagem do jogo, desde dialogar ou procurar encrenca com outras pessoas. Isso cria situações curiosas, que vão desde descobrir pequenos segredos com andarilhos a ajudar companheiros da gangue com seus afazeres e pedidos especiais. Companheiros inclusive que possuem histórias únicas e que farão o jogador se importar com o desfecho de cada um.
A fidelidade visual do título da Rockstar Games é algo inimaginável para os padrões de mundo aberto. Distância de visão bem ampla, modelagem e textura de personagens de alta qualidade, iluminação e efeitos de névoa e fumaça excelentes além de ambientes que utilizam uma variada paleta de cores. Tudo isso com uma parte técnica bastante sólida, apenas com pequenas quedas de quadros por segundo em algumas cidades.
Se a trilha e efeitos sonoros do primeiro jogo já destoava em sua época, é impossível não considerar essa parte da sequência como uma evolução. Desde os temas de western às trilhas soberbas, todo o trabalho de som do jogo é impecável. Isso também é visto pela sonorização do mundo, simplesmente ao parar próximo a uma floresta ou rio e sentir que o ambiente está vivo apenas pelo som que emite.
Não bastasse um mapa imenso para exploração e uma campanha que dura por volta de 50 horas para ser completada (isso também incluindo algumas missões secundárias ligadas a campanha), há ainda parte do mapa do primeiro jogo disponível e eventos que vão surgir ao terminar a história principal.
Red Dead Redemption 2 é um jogo completo e único, daqueles que surgem apenas vez ou outra, mas cativam a todos que o experimentam. Não é um jogo perfeito, seja por pequenos detalhes técnicos ou pelo início lento e linear, mas nada disso interfere na experiência que o jogo oferece.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Rockstar Games.
Veredito
Red Dead Redemption 2 é a excelência pura e um marco para os jogos de mundo aberto. Esbanjando detalhes e com uma ambientação soberba, o título da Rockstar Games é a versão definitiva de um jogo do Velho Oeste. A criação do mundo, personagens e a qualidade técnica apresentada perpetuará por anos, assim como seu antecessor fez.
Veredict
Red Dead Redemption 2 is pure excellence and a milestone for open world games. Sprawling details and superb ambiance, Rockstar Games’ title is the definitive version of a Wild West game. The creation of the world, characters and the technical quality presented will perpetuate for years, just as its predecessor did.