Análise – One Piece: Pirate Warriors 4

Jogos de anime. Uma das grandes constantes da indústria dos games, é sempre um prazer (e uma certeza) que a Bandai Namco vai nos agraciar com vários jogos adaptando algumas das IPs às quais a distribuidora tem acesso graças ao seu acordo com a poderosa (e fundamental) Shonen Jump.

É natural então que One Piece, um dos mangás mais influentes já publicados na história da mídia, não ficasse de fora, criando até suas próprias subfranquias ao longo dos anos. Já em seu quarto lançamento, One Piece Pirate Warriors 4 marca um importante passo à frente para a franquia e a combinação de esforços entre a Bandai Namco e Koei Tecmo.

Como o próprio nome já indica, OPPW4 abandona o típico estilo da Bandai de lançar arena fighters de animes em troca de um surpreendente musou, se valendo de toda a expertise da Omega Force, os pais dessa reinvenção moderna dos beat’ em ups, para recontar importantes capítulos da história do anime/mangá e capturar tanto a intensa ação quanto os belos momentos de desenvolvimento de personagem pelos quais One Piece é conhecido.

Um dos primeiros detalhes que chama a atenção é o estilo gráfico adotado aqui pela OF. De forma similar aos jogos de Attack on Titan, outra adaptação desenvolvida pelo estúdio, One Piece Pirate Warriors 4 continua a se valer do estilo de cel-shading adotado nos jogos anteriores, incluindo os efeitos de sombreado nos modelos de personagem, para tentar capturar melhor os modelos de personagem e ambientação de OP.

Essa escolha visual acaba mantendo o posto da série One Piece Pirate Warriors como uma das mais belas produzidas pela Omega Force, mesmo que os pequenos “rabiscados” levem um pouco de tempo para o jogador se acostumar, em especial nas cutscenes, logo se torna uma preocupação menor, ainda mais com o quão bem as cenas do anime são recriadas no jogo.

Outro ponto que fica claro logo no começo é a presença de legendas em português para o jogo. Enquanto o áudio, tal qual os outros jogos da produtora, não conta com dublagem em qualquer outro idioma além do japonês (o que, no fim das contas, é a melhor decisão), as legendas em português, usando os termos em nossa língua com os quais os fãs estão acostumados é algo muito bem-vindo.

O que não é bem-vindo na localização é a sua inconsistência. Enquanto menus e diálogos dentro das missões estão localizados perfeitamente, é praticamente impossível encontrar uma sessão de diálogo entre as missões, sejam cutscenes, sejam diálogos normais, em que as legendas em português não sejam intercaladas com legendas em espanhol, sendo bastante comum começar uma cena em português, mudar do nada para espanhol, voltar para português, inserir mais algumas falas em espanhol e concluir em português.

Isso acaba tirando bastante da qualidade da localização do jogo, tornando a experiência de reviver momentos icônicos da história da franquia um pouco menos empolgante pela caixinha de surpresas que é a forma como os diálogos vão ser apresentados, uma vez que, considerando o cuidado que o resto da localização demonstra, essa pisada na bola é bem grave.

Superados esses aspectos técnicos, One Piece Pirate Warriors 4 faz um ótimo trabalho em construir sobre a já sólida base que o jogo anterior possuía. OPPW3, lançado originalmente em 2016, já tinha conseguido deixar a sua marca como um dos mais distintos e divertidos musous dessa geração, fazendo mais do que o suficiente para se diferenciar da vasta quantidade de jogos do gênero que a OF tem lançado.

O que temos aqui é um jogo que traz algumas mudanças suficientes para diferenciá-lo do jogo anterior sem perder a sensação de se estar diante de um jogo da mesma série. A primeira (e talvez mais importante) é que ao invés de tentar cobrir um grande volume de arcos da história de One Piece como no anterior (algo quase impossível quando se tem mais de 900 capítulos e contando), o jogo se foca em um número limitado de arcos, mas colocando maior ênfase em contá-los bem.

O Log Dramático, principal modo de jogo, adapta alguns dos arcos mais memoráveis do material original, dando maior ênfase em melhor explicá-los do começo ao fim, contando desde alguns dos primeiros momentos em Grand Line até o Novo Mundo em suas 34 missões, sempre contando com determinados membros da tripulação para serem controlados, a depender dos acontecimentos ali recontados.

Terminar as missões principais vão destravando novos personagens para serem controlados nos outros modos de jogo, Log do Tesouro e Log Gratuito, onde o jogador pode jogar em qualquer uma das missões do jogo independente do personagem aos quais ela está “presa” na campanha principal.

Ambos os modos são apenas pequenas melhorias de modos que já existiam anteriormente, não trazendo nada de muito novo ou significativo, servindo apenas para adicionar algumas boas horas à experiência, que é basicamente a mesma função desempenhada pelos modos multiplayer do jogo.

Mas o que realmente sustenta One Piece Pirate Warriors 4 é o seu gameplay que, felizmente, vem trazendo algumas notáveis novidades em relação ao seu predecessor. Uma das mudanças mais notórias é o aumento da quantidade de ataques no arsenal dos personagens, dando ao jogador um rol maior de opções para lidar com as várias situações apresentadas pelos vários cenários e tipos de missões que o jogo apresenta.

Aliás, em relação às missões, é importante apontar que elas raramente seguem a linha tradicional de um musou de capturar bases inimigas ou defender as próprias bases do jogador. Enquanto existem missões secundárias seguindo essa linha, os objetivos principais quase sempre envolvem derrotar determinados inimigos, destruir certos itens no cenário (e o sistema de destruição de edifícios é bem divertido) ou escoltar certos aliados.

Algumas outras novidades em relação ao combate foi um maior foco no combate aéreo, com a inclusão da possibilidade de se fazer juggle com os inimigos no ar e a inclusão de um novo subtipo de personagem jogável totalmente voltado para isso, com os “Sky” se juntando aos outros três tipos: Power (mais lentos porém bastante fortes), Speed (com ênfase em movimento e combos no lugar de dano) e Technique (personagens com características de gameplay únicas e que precisam de um pouco de dedicação para aprender).

Cada personagem possui uma série de habilidades alinhadas com o seu subtipo e podem ser melhoradas com o uso de moedas que o jogador conquista ao terminar as missões. Essas habilidades variam entre ataques especiais poderosos parecidos com os ataque “musou” de um Dynasty Warriors, ataques voltados para controle de multidões ou para quebrar escudos ou técnicas especiais que causam efeitos especiais, atordoam os inimigos, etc.

Um outro novo conceito é a introdução de “personagens gigantes”, inimigos com formas enormes e muito mais poderosos do que os personagens normais, introduzindo toda uma nova forma de desafio em determinados arcos. Para combater isso, o jogo traz o retorno da possibilidade de se transformar em meio às batalhas para conseguir mais poder, como, por exemplo, Luffy atingindo o Gear Fourth. Além de tornar o personagem mais forte, essas mudanças de forma podem até mesmo modificar o subtipo do personagem, trazendo algumas boas possibilidades de estratégia às missões.

No fim das contas, o combate é incrivelmente divertido e, casado com o quão bons os conceitos e ideias por trás de One Piece são, a ótima execução visual e trilha sonora resultam em um pacote bem robusto e que deverá agradar bastante aos fãs da franquia. É uma pena só que a quantidade de conteúdo não seja das maiores (algo que deverá ser remediado com futuros DLCs) e a localização deixe bastante a desejar.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Bandai Namco.