A essa altura, citar os conceitos “exóticos” de alguns programas de TV japoneses é um clichê. Para uma nação apaixonada pelo conceito de “game shows” e programas de variedade no geral e com uma considerável inclinação para pensar fora dos padrões “comuns” ao que se vê nos canais de TV ocidentais, o surgimento de variações cada vez mais bizarras, em sua maioria influenciadas pelo icônico Takeshi’s Castle (que ganhou sua própria adaptação no Brasil com o famoso “Olimpíadas do Faustão”).
Nippon Marathon, jogo desenvolvido pela Onion Soup Interactive e publicado pela PQube, é um party game que tenta capturar a idéia desses game shows e seu estilo de comédia pastelão e aplicá-los a um jogo de orçamento bastante limitado. Se bem executadas, essas ideias podem render uma experiência divertida, em especial no sofá com os amigos, mas, infelizmente, o jogo falha em fazê-lo.
A premissa do jogo é simples: o jogador o assume o controle de um competidor em uma maratona disputada em diversas etapas ao redor de todo o Japão chamada ‘Nippon Marathon’, a qual é realizada todos os anos, com diversos sub-grupos competindo ao longo de cada trecho com os mais diversos obstáculos bizarros e com os competidores mais lentos sendo eliminados pouco a pouco. Para vencer não é preciso só terminar à frente dos outros competidores (o que lhe dá mais estrelas, que funcionam como “vidas”), mais fazer mais ações que conquistem os telespectadores e dêem ao jogador mais fãs, sendo a posição final determinada por uma pontuação que leva como você correu, quantas estrelas ganhou e o seu estilo em consideração.
A decisão de ambientar o jogo no Japão parece ter se dado mais por escolha estética do que qualquer outra coisa, considerando que a premissa básica de uma competição em que os competidores apanham em corridas de obstáculos bizarros é uma linguagem universalmente aceita, e isso vem com direito a dublagem em japonês e boa parte dos diálogos se dando em forma de visual novel, com um estilo visual que tenta emular a estética de um mangá e consegue com um certo grau de sucesso.
Correr a maratona é um processo simples, com o jogador precisando navegar o cenário e desviar dos obstáculos seja pulando ou deslizando por eles e sendo capaz de usar diferentes frutas que são coletadas pelos cenários e funcionam como power-ups, dando um boost na velocidade se o personagem comê-las ou então ativando uma habilidade especial (o abacaxi funciona como um balão, a melancia ativa uma chuva de melancias explosivas, etc). Os primeiros cenários e as habilidades são engraçadas no começo, mas tudo logo se torna extremamente repetitivo e leva o jogador a exaustão (e a terrível trilha sonora também não ajuda).
O jogo parece que tenta seguir o exemplo de jogos que brincam com a física dos movimentos dos personagens e a forma como eles interagem com o mundo ao seu redor, sendo que tudo, dos pulos ao rag-doll ao ser atingido por algo, tentar ser muito engraçado pelo exagero mas cai de cara no chão como o seu personagem faria ao errar um pulo. É difícil se divertir até mesmo com outros jogadores, destruindo completamente o propósito do jogo de ser um party game para se aproveitar com os amigos (apenas presencialmente, já que não existe modo online). Até os troféus do jogo que poderiam justificar a experiência para os caçadores de troféus mais dedicados se torna um problema, já que existem alguns deles com bugs que impedem que o jogador os conquiste.
Por mais que o jogo possua uma quantidade considerável de conteúdo, com um Story Mode que conta com quatro campanhas diferentes, um Party Mode com dois tipos diferentes e um Versus Mode com algumas variações na forma com que os jogadores podem correr a maratona (desde os oito estágios de uma vez só até uma quantidade menor de estágios), nada disso importa se jogá-los é tão ruim quanto Nippon Marathon consegue ser.
Apesar da estética anime que a apresentação do jogo tem, ele muda um visual 3D durante as maratonas e os gráficos seriam ruins até para os padrões de um jogo de PS2 em alta-definição. Mesmo se você considerar que o orçamento baixo e a premissa do jogo remetem às coletâneas que eram comuns no PS2, em especial no Japão (como a Simple Series da qual surgiram as séries Earth Defense Force e OneChanbara), ele ainda é um jogo com gráficos horríveis até para esse padrão. Isso, novamente, seria escusável se o gameplay não fosse atroz.
Nippon Marathon falha em tantas coisas que é consegue transformar uma tentativa singela de homenagear a cultura japonesa, em algo ofensivamente ruim. O roteiro do modo história é terrível e consegue transformar ideias interessantes para os quatro personagens principais (um cachorro humanóide falido que quer abrir uma agência de namoro, um rapaz vestido de lagosta que quer salvar a fazenda da família, uma garota que acha que é um Narwhal e um senhor de idade vestido de garota colegial em busca de encontrar sua identidade) em caricaturas sem-graça desenhadas para demonstrar o quão “japonês” o jogo é. Mesmo algumas poucas piadas que podem te fazer sorrir um pouco são seguidas de vários e vários diálogos horríveis.
É fácil perceber o que Nippon Marathon tenta fazer, mas tanto a tentativa de fazer uma homenagem ao quão “estranha” a cultura japonesa é quanto de fazer um jogo engraçado com uma física “maluca”, influenciado por um dos principais pilares do humor pastelão (a premissa básica de que é engraçado ver pessoas passando por acidentes esdrúxulos e que gerou variações de um programa de TV em mais de 40 países), falham miseravelmente. Por mais que o jogo possua um conceito que poderia ter funcionado bem, de alguma forma, ele falha em basicamente todos os pontos necessários para fazer um jogo divertido.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela PQube.
Veredito
Nippon Marathon é um jogo que impressiona pelos motivos errados. De alguma forma, o jogo consegue falhar em todos os seus aspectos, com absolutamente nada dele sendo uma qualidade de verdade.
Veredict
Nippon Marathon is impressive, but in the wrong way. Somehow, it manages to fail in every aspect, with absolutely nothing in it that could be considered a quality.