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Análise – Kingdom Hearts III

13 anos. 13 anos, alguns spin-offs e duas gerações depois, Kingdom Hearts finalmente chega em seu terceiro título numérico. Após anos de antecipação, Tetsuya Nomura e sua equipe entregam o capítulo que conclui a luta de Sora e seus companheiros contra Xehanort. Mas, será que depois de tantos anos de expectativa e cinco anos de desenvolvimento, Kingdom Hearts III conseguirá satisfazer todos os sonhos de seus fãs?

O elemento que provavelmente é o mais esperado e temido é como a história de Kingdom Hearts seria amarrada (de certa forma) com este terceiro título, após tantos spin-offs entre o segundo e terceiro jogos numéricos. Tentando não dar muitos spoilers, vou ser bem breve com a sinopse: Sora, Donald e Goofy estão atrás dos últimos preparativos para a reunião dos Sete Guardiões da Luz e o derradeiro confronto contra o vilão principal da franquia, Xehanort.

Com a responsabilidade de responder diversas perguntas deixadas ao longo dos quase 10 títulos da franquia, Kingdom Hearts III resolve boa parte da história de forma que irá satisfazer seus fãs, mesmo que pelo caminho apresente os tropeços de sempre com a narrativa e os diálogos. E se prepare, pois o jogo tem um excesso de cutscenes que interrompem frequentemente o gameplay, ora para contar a história dos mundos Disney, ora para resolver as diversas tramas da série.

E se você não é um fã de Kingdom Hearts e deseja conhecer a série através desse jogo, boa sorte. Apesar do jogo dar suporte para pessoas que desconhecem a franquia ou não se recordam de cada detalhe da trama principal, há referências constantes a eventos e personagens do passado que tornam muito difícil de acompanhar se você não fez o dever de casa de terminar TODOS os títulos da série. Sim, até mesmo Re: Coded e χ Back Cover tem sua importância na história.

Um dos fatores na dificuldade de entender o universo da franquia é o excesso de diálogos expositivos e tramas que dão voltas e voltas para chegar em um final até simples de um confronto entre o bem e o mal. O desenvolvimento de personagem se perde com tantas explicações sobre as versões de Xehanort, Sora, Riku e tantos outros existirem e as diversas ramificações desnecessárias que Nomura desenvolveu ao longo dos anos. Em muitos momentos a história parece andar para lugar nenhum, apenas para enrolar e ser resolvida nas últimas horas do jogo.

Há sim momentos épicos e conclusões interessantes e satisfatórias, com alguns momentos dignos do termo fanservice. Porém, o que não foi entregue é uma dublagem ou ao menos uma legenda em português, algo que só dificulta o processo de compreensão do jogador brasileiro neste complexo universo.

Enquanto isso, os mundos Disney contam histórias bem mais lineares, que em alguns momentos esbarram com a trama principal de Sora. KH 3 inclui 8 mundos inspirados em filmes da empresa de Mickey Mouse: Hércules, Enrolados, Frozen, Ursinho PoohPiratas do Caribe e Operação Big Hero do lado Disney, e finalmente a adição de animações do estúdio Pixar, representado pelos mundos de Toy Story e Monstros S.A.

Enrolados, Frozen e Piratas do Caribe tem basicamente a mesma história dos filmes originais, enquanto Operação Big Hero, Monstros S.A. e Toy Story já tem uma ideia criativa de como continuar a história dos personagens após a trama do filme e ao mesmo tempo incluir elementos da jornada principal do jogo.

Cada mundo apresenta mecânicas e inimigos bem variados. Em Toy Story, por exemplo, há robôs na loja de brinquedos onde Sora pode entrar e controlar para dar porrada nos Heartless. No Piratas do Caribe, o game se transforma em um mini-Assassin’s Creed IV, com o jogador controlando o navio Leviathan e navegando pelo mapa onde é possível explorar ilhas e encontrar baús, segredos e muito Munny. Assim sendo, há mundos mais inspirados e interessantes que outros, o que acaba dando a impressão de um cuidado maior em algumas áreas por parte dos desenvolvedores. O meio do jogo parece bem mais linear e repetitivo se comparado com o início e o fim.

Como já mencionado, as histórias variam de tramas que basicamente recontam os filmes, até histórias originais. Cenas em Frozen e Enrolados são réplicas quadro a quadro de alguns momentos de seus respectivos filmes, que apesar de serem um grande fanservice, acabam se tornando mais tediosos de acompanhar para quem já assistiu as obras originais. Toy Story e Big Hero, por outro lado, trazem tramas um pouco mais inspiradas e que acabam prendendo mais a atenção. O cuidado em chamar os dubladores originais de algumas das animações (Big Hero e Frozen, principalmente) adicionam pontos na imersão daqueles universos.

Em seu gameplay, Kingdom Hearts III apresenta o velho e o novo da franquia, com adições na mecânica tradicional de RPG de ação com elementos de alguns dos spin-offs, como o Flowmotion de Dream Drop Distance (capacidade de usar o ambiente para ganhar impulso na movimentação), além de introduzir sistemas que melhoram a fluidez do combate como nunca visto até então na série.

Sora tem agora alguns novos truques na manga, como a possibilidade de andar pelas paredes em alguns cenários e, no combate, alternar em tempo real entre até três Keyblades e ter uma party de até 5 personagens. E falando na arma de Sora, as Keyblades estão mais dinâmicas e versáteis graças as transformações que cada uma apresenta. Cada espada tem uma ou duas modificações, que são ativadas após o uso delas nas batalhas. As Keyblades podem se transformar em pistolas, escavadeiras, lanças e até um iô-iô duplo gigante. Isso só agrega a variedade do combate e torna o título viciante tanto de assistir quanto de jogar.

Outra novidade é a possibilidade de invocar atrações de parque de diversão no meio da batalha, como as xícaras bate-bate e o navio pirata. Provavelmente os ataques mais apelões de Sora, e onde é possível destruir um grupo inteiro de inimigos apenas usando essas invocações. Todos esses elementos combinados tornam o combate extremamente dinâmico e diversificado, sendo sem dúvida nenhuma, o melhor gameplay que a série teve até hoje.

Por consequência, o combate também se torna mais fácil do que em jogos anteriores, com a possibilidade de ficar invencível a cada animação de transformação da Keyblade e invocação, e há mais possibilidades de fugir dos ataques de chefões mais difíceis. Para os fãs que pedem por um desafio maior, é recomendado colocar o jogo na dificuldade Proud.

A escala do jogo também surpreende, com cenários agora muito maiores graças à tecnologia da Unreal Engine 4, com fases com múltiplos caminhos e onde é possível facilmente se perder (e em alguns cenários seria realmente útil um indicador para onde se está indo, pois é fácil perder a direção). Junto a isso, os embates contra chefes são extremamente épicos e intensos e há uma variedade de inimigos em cada mundo que mostra o cuidado nos detalhes que a equipe teve em contextualizar cada mundo e torna-los bem distintos um do outro.

Os gráficos de Kingdom Hearts III são, como esperado, incríveis. Cada mundo é preenchido com muitos detalhes em seus cenários, enquanto as animações dos golpes de Sora e suas habilidades especiais são de cair o queixo. Os detalhes nas roupas e texturas dos personagens impressionam e os personagens Disney estão idênticos a suas versões originais.

É difícil de tirar os olhos de Kingdom Hearts III quando sua escala, gameplay e gráficos combinam em alguns dos momentos mais deslumbrantes de toda a série. E o que embala todo esse espetáculo visual é a excelente trilha sonora, composta por Yoko Shimomura, que traz antigos e novos temas em peças musicais que enriquecem e engradecem os momentos do jogo. A nostalgia bate forte quando se ouve a melodia do mundo de Toy Story, mesclando o tema original dos filmes com o original de Shimomura, fora as duas novas canções de Utada Hikaru.

Mas o combate não é perfeito e apresenta um problema antigo: a câmera, que sofre em momentos de batalhas intensas e com muitos elementos na tela. É difícil de se encontrar em chefes de fase muito maiores que os personagens e a rapidez da movimentação de Sora só piora a situação.

Outro grande defeito é a taxa de quadros. O grande problema nesse quesito é o framepacing, que, no PS4 original, realmente é sentido nas batalhas e em momentos mais movimentados do jogo. É possível que um patch acabe minimizando tal problema futuramente.

E outro elemento importante no gameplay que retorna é a Gummi Ship, parte onde você controla uma nave em uma espécie de shooter com elementos de RPG e customização. Dessa vez, ao invés das fases lineares, há áreas que o jogador pode navegar livremente, com desafios diversos espalhados no espaço entre os mundos Disney.

Infelizmente, esta parte do jogo continua sendo um dos momentos mais arrastados e desnecessários, com um gameplay cansativo, monótono depois de algumas horas e grinding. Apesar do nível quase que exagerado de customização que o jogador tem em sua nave, o modo nunca se torna interessante o suficiente para você sair da sua rota e explorar seus elementos. Com essa não-linearidade, o modo se torna mais um obstáculo para o avanço da trama do que algo divertido de se fazer. Um passatempo para quem se interessar pelo modo, mas nada mais que isso.

Após terminar a história, que varia de 30 a 35 horas, o jogo ainda tem muitos extras e mini-games para serem explorados. Nem todos valem o seu tempo, mas alguns, como os minigames à lá Game & Watch no Gummiphone de Sora, são uma boa distração. Os coletáveis no cenário variam dos tradicionais baús até itens como emblemas do Rei Mickey que devem ser fotografados. Porém, ele peca em chefões secretos em relação a títulos anteriores. É sonhar para um DLC ou Kingdom Hearts III Final Mix no futuro. E não se esqueça de baixar o patch de atualização pós-lançamento do jogo, para ter acesso aos resumos da franquia no menu principal, o epílogo e o final secreto, desbloqueado após alcançar certos objetivos dependendo de qual dificuldade.

Ao final, a experiência que tiro, como um grande fã da franquia, é que KH 3 é um mix de ótimos elementos acompanhados sempre por algo negativo: os gráficos são lindos e o gameplay é excelente, mas o framerate não é bom e a câmera constantemente atrapalha; a história consegue amarrar boa parte das tramas dos jogos anteriores, mas é acompanhada pelos arrastados diálogos expositivos e o excesso de cutscenes (além da ausência de uma tradução PT-BR), que quebram o ritmo do jogo; a Gummi Ship é mais variada mas ainda parece uma ponta solta e um modo desnecessário para o todo da experiência. Assim sendo, é esperar que a franquia aprenda com os erros deste e de outros jogos do passado, ajuste alguns elementos e remova outros para uma nova geração de títulos da série no futuro.

Veredito

Kingdom Hearts III traz tanto um espetáculo visual, uma jornada épica e uma conclusão digna para os fãs pacientes quanto elementos antigos da franquia que já são datados, como problemas de câmera e um ritmo desbalanceado na história. Porém, não há dúvida que ainda há muito o que aproveitar aqui, com um ótimo gameplay, alguns dos melhores mundos Disney até hoje e épicos momentos. Kingdom Hearts III pode não ser um jogo perfeito, mas é uma jornada que vale a pena para quem esperou tanto tempo.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Square Enix.

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Kingdom Hearts III offers a visual spectacle, an epic journey and a worthy conclusion to patient fans. Old-fashioned elements of the franchise that already feel dated, such as camera problems and an unbalanced pace in story, are still present. However, there is much to enjoy here, with great gameplay, some of the best Disney worlds to date and a lot of epic moments. Kingdom Hearts III may not be a perfect game, but it’s a worthwhile journey for those who waited so long.