Vez ou outra, o sucesso no financiamento coletivo online resulta em produtos que não se adequam à expectativa dos investidores. Por meio da plataforma Indiegogo, Ghost of a Tale foi possível graças a participação de aproximadamente 1200 pessoas e, felizmente, se tornou um daqueles projetos que renovam a fé do público nesse tipo de iniciativa.
É difícil resistir ao charme e não cultivar uma certa curiosidade pelas imagens e ambientação do jogo. À primeira vista, Ghost of a Tale impressiona por seus gráficos bonitos e animação sofisticada, mas é também competente pelo seu gameplay – um misto de ação, RPG e aventura com mecânicas stealth. Embora tenha sido produzido por uma equipe minúscula, é um indie game que impressiona em diversos aspectos.
Ghost of a Tale é protagonizado pelo simpático rato Tilo, um menestrel que foi preso por se opor a um regime opressor e separado de sua esposa e filho neste processo. O jogo se passa em um castelo isolado da civilização, onde os detentos cumprem suas penas nos calabouços.
Ainda que exista uma introdução contando sobre a ameaça de uma chama verde no passado, o jogo faz poucas conexões a esse evento, demonstrando que o jogo só aborda um pequeno trecho da história. Há muitas notas de rodapé nos diálogos do jogo e as vezes fica difícil compreender o panorama geral desse universo. A narrativa poderia ser melhor organizada.
O jogador participa da história a partir do momento em que Tilo está dentro da prisão de Dwindling Heights. Seu primeiro objetivo é escapar do cárcere e encontrar com um aliado secreto, no topo do castelo. Nesse trajeto predomina-se um gameplay de puro stealth.
Por boa parte de Ghost of a Tale, o gameplay consiste de esconder e fugir dos guardas da prisão – ratos de alta estatura, mas de baixa inteligência artificial. É possível atacá-los também, desde que o jogador tenha o item apropriado. Não há um sistema de combate, o jogo enfatiza o uso da furtividade para se contornar os obstáculos.
A jornada segue a estrutura de um RPG, com uma missão principal e outras muitas atividades alternativas, que recompensam o jogador com algum bônus ou equipamentos extras. As vestimentas conferem diversos atributos a Tilo, como resistências a veneno ou até melhor stamina. Contudo, o gameplay não caracteriza o típico RPG de ação e se configura mais como uma aventura exploratória em busca de objetos-chaves necessários para a progressão das missões.
A exploração é surpreendentemente divertida em Ghost of a Tale, graças a um mapa coeso e diversificado. Há diversas localidades dentro e em torno de Dwindling Heights. O que impressiona é como as áreas estão conectadas umas as outras – há diversos atalhos disponíveis, que facilitam a exploração e demonstram o brilhante world design do jogo.
Além de estar permeada de guardas e outras criaturas hostis, a prisão do jogo também é povoada por alguns aliados que estão dispostos a ajudar Tilo. Ao conversar com tais NPCs, é possível destravar novas quests secundárias ou fazer uso do dinheiro do jogo, seja para adquirir itens ou informações vitais para a progressão da campanha. Os diálogos infelizmente não são dublados.
Embora os inimigos não sejam muito ameaçadores, o maior nível de dificuldade de Ghost of a Tale está associado à descoberta. Progredir no jogo requer atenção e interagir com todos os componentes possíveis de um cenário. É comum “empacar” em determinados momentos da jornada, mas graças ao ferreiro, um dos NPCs do game, é possível comprar dicas e retomar o rumo correto das missões.
A aventura de Milo é agradável, a dificuldade é adequada e a campanha é variada e extensa. Dentro do departamento técnico, os gráficos são belos, a trilha sonora orquestrada é muito competente, mas os efeitos sonoros poderiam ser melhores para um jogo que aproveita tanto da furtividade. Embora pareça um jogo completo com poucos deslizes, há um grande problema associado ao port da versão de PlayStation 4.
É difícil recomendar a versão console de Ghost of a Tale pela performance desastrosa nessa versão inicial. Assim como outros jogos do motor gráfico da Unity, o produto da SeithCG tem uma framerate inconsistente e stuttering em excesso. A jogabilidade é profundamente afetada pelo quão “travado” o jogo é.
O alvo é de 30 quadros por segundo, mas raramente o jogo mantém esse número. Diante de fontes de iluminação que projetam sombras no cenário, a framerate não cai, despenca. Ainda que exista a opção de desligar o V-sync e aturar a aparição de screen tearing, não é possível manter uma taxa de quadros por segundo estável.
O stuttering é outro incômodo constante no jogo. Cada vez que o jogo salva o progresso automaticamente, a tela trava por alguns segundos. Ao comunicar com NPCs é possível notar o quão incômodo são esses breves congelamentos.
Não bastassem tais problemas na performance, Ghost of a Tale também trava de forma inesperada. Se o autosave aborrece pelo excesso de stuttering, pelo menos o recorrente registro do progresso faz o travamento ser menos frustrante. No porto, uma das áreas mais avançadas do game, é difícil explorar com calma visto que o aplicativo do jogo fecha de forma constante.
Em suma, Ghost of a Tale precisava de mais cuidado e não deveria ser lançado no estado atual. É decepcionante também o suporte ao PS4 Pro, com resolução de apenas 1080p, algumas texturas melhores e muitos problemas de performance. Vale destacar que o jogo possui suporte a vários idiomas, mas português do Brasil não é um deles.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela produtora.
Veredito
É lamentável que um jogo de tantas qualidades proporcione uma experiência frustrante por conta de problemas técnicos. Apesar das limitações, Ghost of a Tale é bom e pode ser muito melhor após alguns patches.
Veredict
It is unfortunate that a game with so many qualities provides a frustrating experience because of technical problems. Despite the limitations, Ghost of a Tale is good and can be much better after a few patches.