Os que tiveram algum tipo de expectativa positiva diante do tardio lançamento de Aliens: Colonial Marines certamente se decepcionarão, caso se sintam corajosos a se aventurar nesta pretensa sequência do filme icônico de 1986 dirigido por James Cameron. Entretanto, o que mais nos deixa frustrados é o desmoronamento gradual pelo qual o jogo desenvolvido pela Gearbox foi vitimado. Durante o longo período em que esse jogo estivera em desenvolvimento, tudo parecia que ia dar certo, ainda mais quando mostraram um trailer que prometera uma imersão sem igual, principalmente devido aos seus visuais aterrorizantes. Mal sabiam que o terror seria outro. Fruto de controversas, migração de equipe desenvolvedora, cortes de orçamento, ideias abandonadas, tudo isso contribuiu para que Aliens: Colonial Marines chegasse destruído, apenas com raros vestígios de algo que poderia ser promissor.
Tentativas de retratação sequencial do caos, originalmente passado na obra-prima cinematográfica de 1986, são vistas durante o percurso. 17 semanas após fatos de Aliens, um novo esquadrão de Marines recebe a missão de explorar a nave USS Sulaco, atendendo a um chamado e, em meio a essa verificação, descobre-se que o local está infestado por Xenomorphs. Todavia, isto, assim como a retratação da colônia humana de Hadley's Hope, dentre outros, não passam de tentativas, de referências frustradas ao universo temático do filme de Cameron pela visão do personagem Christopher Winter e seus companheiros Marines.
O jogo peca gravemente no intuito de provocar a imersão por meio dos ambientes desesperadores de Aliens. Por vezes, nem parece tentar. Fica a impressão de que as referências são simplesmente jogadas na cara do jogador, mas sem um objetivo coeso. Você reconhecerá os inimigos clássicos, algum armamento, algum dispositivo de suporte, algum easter-egg escondido, haverá um ou outro diálogo solto, mas nada realmente dá consistência à proposta inicial alardeada pela equipe técnica do jogo. O elenco principal do jogo carece de profundidade, apresentando uma robotização nas interações, linhas de diálogos fracas que, por vezes, unidos a uma progressão repetitiva fará com que você se desligue da história por instantes, afinal, haverá hordas de criaturas e humanos para serem destruídas em meio a objetivos nada gloriosos do ponto de vista prático.
Mesmo que os cenários tenham uma fonte de inspiração rica, isto pouco é utilizado a favor do jogo, nos restando perambular por um level-design genérico, combates datados e fáceis, além de previsíveis a cada som emitido indicando a possível aparição de um Alien, o que inutiliza um dispositivo que rastreia esse tipo de inimigo. Atire e mate os inimigos de uma área, ande e faça tudo de novo. Inimigos fáceis em sua dificuldade Normal, IA previsível e, por vezes, caótica, unem-se a uma taxa de quadros inconstante em momentos mais frenéticos, conferindo maior veracidade ao show de horror técnico. Sentimos certo pesar, porque o jogo tem um promissor sistema de ganho de experiência por meio de desafios. Nos é apresentada uma série de objetivos que ironicamente contribuem para o escapismo da narrativa. Não se sinta estranho se em algum momento do jogo a preocupação principal seja matar um certo número de criaturas com ataques melee do que se interessar no que o enredo proporcionará a seguir.
Cumprindo uma série de objetivos, além de aumentar o nível Marine, o jogador poderá ter acesso a um decente modo de melhoria de armas, customizar a aparência do jogador, além de proporcionar habilidades extras para o modo multiplayer. A integração dos dois modos é vista e seria, sem sombra de dúvidas, um dos raros motivos para continuar a jogatina de Aliens: Colonial Marines. O torturante é que vai chegar um momento em que esses pontos para serem utilizados se tornarão raros devido à progressão lenta de ganho de experiência e o jogador faltamente será vitimado, caso assim queira, com mais horas e horas jogando um produto de qualidade no mínimo questionável.
Trilhar os caminhos da campanha de Aliens: Colonial Marines de forma cooperativa (com até quatro jogadores online e dois em modo offline de tela dividida) significa sofrer em cooperação, dividir as amarguras numa zona generalizada na busca por espaços em ambientes, por vezes, íngrimes e que não foram arquitetados para uma cooperação mútua de fato. Felizmente há ambientes abertos e nestes a coisa funciona um pouco melhor. Entretanto, se deparar com momentos em que uma jogatina co-op simplesmente destrói os raros momentos de tensão (como em uma parte que exige furtividade) pode frustrar até os jogadores mais pacientes.
Se ao tentar cooperar, a desarmonia reina, em seu modo competitivo, o jogo mostra seus poucos momentos de valor. Mas são poucos. Os modos clássicos Deathmatch e Team Deathmatch, com suporte para confrontos de até seis jogadores de cada lado, se tornarão chatos conforme o tempo, apresentando pouca variedade. Porém o modo Survival e, principalmente, o modo Escape trazem momentos de diversão. Em Survival, os Marines devem se livrar de hordas de criaturas Xenomorphs. Já em Escape, o jogo nos brinda com algo parecido com Left 4 Dead, no qual um grupo de Marines deve acabar com um determinado número de inimigos e partir para uma safe zone para iniciar a trajetória por outros pontos. É uma variedade passageira, com poucos mapas, mas, ainda assim, nos traz um pouco de distração.
Além de controlar Marines, podemos controlar algumas variantes dos Xenomorphs também. A visão aqui fica em terceira pessoa (Marines ficam em primeira pessoa) e a movimentação dos Xenos é fluída. Controlá-los faz o multiplayer ficar divertido. Ao menos até ser destroçado pela primeira vez. E isso se repetir, de certa forma. A diferença de atributos entre Marines e Xenomorphs é gritante. Apesar dos Xenos terem algumas facilidades (como localizar mais facilmente seus adversários), eles são fracos e perecem geralmente com poucos tiros. Claro que, com o passar do tempo, habilidades dos Xenos também podem ser melhoradas devido aos pontos de experiência e subida de nível, todavia a custo de um sofrimento e uma possível série de mortes até lá.
Utilizar-se de uma marca famosa pode se tornar uma vantagem, caso um time de desenvolvedores qualificado saiba usar as qualidades dela a seu favor. Infelizmente isto não ocorre em Aliens: Colonial Marines. A 20th Century Fox considera o jogo uma obra oficialmente cânone da franquia Aliens. Que pena!
— Resumo —
+ Sistema de ganho de experiência
+ Algumas modalidades do multiplayer
– Desserviço ao universo de Aliens
– Level-design
– História e personagens fracos
– Repetitivo e previsível
Veredito
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