Há 20 anos o mundo passou a conhecer a desenvolvedora Remedy Entertainment com o lançamento de Max Payne, hoje já considerado por diversos jogadores como um grande clássico da geração do PS2. O título, que era um shooter em terceira pessoa, fez bastante sucesso na época e gerou uma sequência dois anos depois, também bem recebida pelo público. Os próximas lançamentos da desenvolvedora ficaram de fora dos consoles da Sony e só tivemos de novo um trabalho da Remedy por aqui com a chegada do premiadíssimo Control, em 2019.
Alan Wake foi um desses títulos que teve seu lançamento primeiramente como exclusivo de Xbox e dois anos depois para PC. Ao contrário de seu antecessor, Alan Wake foi criado com um foco totalmente voltado para a narrativa. Sua história é feita para se assemelhar a um programa de TV (incluindo sua apresentação por capítulos) e possui um ar bem mais sombrio, com inúmeras referências a outros clássicos do suspense/terror como obras de Stephen King, a série Twin Peaks e até The Twilight Zone (Além da Imaginação).
Com o lançamento de Alan Wake Remastered em 2021 para PS4 e PS5, finalmente temos em mãos este título da Remedy que ficou tanto tempo longe do PlayStation e que já haviam me recomendado diversas vezes nos últimos anos. Será que este remaster está valendo a pena? Como não temos review do jogo original aqui no site, está análise não cobrirá apenas as melhorias e mudanças do remaster, mas sim uma experiência completa para usuários PlayStation.
O título conta a história de Alan Wake, um escritor com diversos best-sellers criminais que está passando por um período de “bloqueio criativo” e não consegue escrever nada, que está viajando com sua esposa Alice para a pequena cidade de Bright Falls, em Washington. Devido a circunstâncias misteriosas, Alice fica desaparecida, e com isso Alan vai em busca dela enquanto tenta sobreviver com o avanço da escuridão e diversas criaturas da noite, os “possuídos”. Este lançamento de Alan Wake Remastered contém além dos seis capítulos do jogo base, os dois DLCs que completam a história (The Signal e The Writer). Apesar de ambos já aparecerem na seleção de episódios logo no início, é importante só jogá-los após finalizar o game, pois são continuação direta do título.
Algo que dá um grande tom de mistério e que aumenta a imersão em Alan Wake é a narração. Durante todo o jogo Alan fará comentários (ou pensamentos) que fazem com que a experiência do jogador seja similar a de ler um livro. Também serve para você entender melhor aquilo que o protagonista está passando no momento e adentrar ainda mais em seus pensamentos obscuros. Nenhum detalhe fica de fora e isso faz com que de fato você perceba uma grande preocupação do time criativo em enfatizar a narrativa. Este realmente é o ponto forte do jogo.
As mecânicas de batalhas envolvem a utilização tanto de uma lanterna na mão esquerda como de uma arma de fogo na mão direita (cada uma controlada pelo gatilho de seu lado respectivo). De maneira geral, primeiro você precisa mirar com a lanterna no inimigo para “diminuir a escuridão” e em seguida poder finalizar com uma pistola, rifle ou espingarda. Também é possível usar sinalizadores ou granadas de luz, que podem acabar com inimigos em apenas um golpe. Tirando confrontos contra “objetos possuídos” em que é preciso apenas eliminar a escuridão com alguma iluminação, todas as outras batalhas seguem o mesmo padrão.
O combate em si não é complicado, mas pode confundir no começo. Principalmente quando você precisa usar a lanterna (que possui uma carga de bateria) também para mirar com a arma de fogo. Por diversas vezes me vi atirando para um lugar errado pois a mira definitivamente não é bem precisa. Ou então gastando toda a bateria de minha lanterna sem necessidade, apenas para poder garantir que estaria atirando corretamente (e ainda assim nem sempre estava). A esquiva também não é muito boa, já que você deve pressionar tanto o botão de correr (R1) como a alavanca da esquerda na direção que deseja seguir. Em diversas situações você já está apertando estes dois botões pois está correndo e vai acabar se deparando com momentos em que estará apertando e soltando os botões aleatoriamente para correr e ainda assim tentar esquivar.
Além da luta, a movimentação ainda é muito travada. Talvez logo em seu lançamento em 2010 possa não ter sido grande problema, mas hoje vejo como essa movimentação envelheceu mal, principalmente com a questão do pulo e da esquiva que citei anteriormente. O pulo é péssimo, você faz de tudo para evitar precisar pular no jogo. Subir em uma pedra ou em uma cerca pode se tornar um grande desafio pois você simplesmente não consegue pular corretamente, seu personagem sempre escorrega ou apenas não fica de pé. Isso ainda serve para enfatizar problemas visuais em que alguma pessoa ou objeto fica “no ar”, sem tocar no chão. Em um certo capítulo em que um personagem sobe uma escada em sua frente chega a ser incômodo reparar que ele não pisa de maneira correta em nenhum degrau.
Bright Falls é uma cidade muito pequena rodeada por diversas florestas. Por conta disso, a maior parte do gameplay acontece em cenários escuros (noite) e com árvores. No começo você até gosta, mas quando já está no terceiro capítulo e ainda continua fazendo as mesmas coisas e andando em locais que parecem iguais, a situação começa a ficar cansativa. Existem alguns colecionáveis no jogo ou até QR codes para serem escaneados com a câmera do celular e liberar um conteúdo extra, mas seu objetivo em geral sempre é chegar em um ponto X durante a noite (geralmente passando por florestas), chegar em checkpoints em lâmpadas/postes e derrotar inimigos semelhantes pelo caminho. De vez em quando pode até precisar acionar algum botão ou alavanca para liberar o caminho, mas, ainda assim, a sensação que tive foi de muita repetição. Se não fosse uma história realmente boa me prendendo eu já teria largado o jogo no segundo capítulo.
No lançamento original do Xbox, Alan Wake tinha diversos problemas de performance, onde era comum você jogar alguns momentos com 20fps. Isso não acontece nesta nova versão, sendo possível jogar com 60fps em grande parte do tempo. Ainda assim, em alguns momentos, caso você use a arma sinalizadora, talvez sinta uma pequena queda de frame. Senti isso me incomodar um pouco mais uma vez onde a queda pode ter sido um pouco maior, mas que durou poucos segundos. Caso queira entender melhor sobre o framerate em Alan Wake Remastered, este vídeo da Digital Foundry faz diversas comparações.
Já a resolução também não chega a 4k em nenhum console em momento algum, sendo o máximo disponível de 1440p na nova geração. As melhorias de sombra, textura e iluminação ainda assim são incríveis ao se comparar com a primeira versão de Xbox 360. É importante ressaltar que para fazer este Remaster a versão utilizada foi a de PC, que já possuía algumas melhorias com relação a primeira. Infelizmente também não foi implementado HDR nem Ray Tracing. Gostaria que o jogo chegasse ao menos em 4k já que possui quedas ou então que fosse apenas 1440p mas que tivesse 60fps cravado sem qualquer queda, ou até mesmo ter opções de escolher priorizar qualidade gráfica ou performance. Realmente esperava mais de uma remasterização na nova geração.
Um ponto muito forte para mim, além da excelente narrativa, foi a imersão sonora. Joguei tanto usando caixas de som 5.1 como em fones de ouvido e a percepção espacial foi excelente. O sons acompanham muito bem sua câmera e posicionamento. Também fiquei feliz que o jogo não chegou com um preço cheio de 349 reais e sim por nem um terço disso, algo justo dado o tempo de jogo (aproximadamente 10h-12h de jogo base e + 5 de DLC) e por ser apenas um remaster simples de um game antigo (ainda assim o valor na PS Store infelizmente ainda é maior que em outras plataformas).
Caso você nunca tenha jogado Alan Wake e tenha tido a experiência de jogos da Remedy apenas com Control, em especial se for já no PS5, peço que crie poucas expectativas e entenda que a proposta deste título é um pouco diferente. Comece já com a certeza de que você não vai encontrar algo do mesmo nível técnico. Eu mesmo fiquei um pouco triste pois esperava melhorias no gameplay para ficar mais “atual” e parecido, porém nada foi mudado no que era. É comum que algumas pessoas ao jogar tenham a sensação de que o título já está datado atualmente por conta de mecânica antigas e pequenos bugs. De qualquer forma, caso queira conhecer o título, essa é a melhor versão do jogo que terá no momento.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Epic Games Publishing.
Veredito
Com uma remasterização que deixa a desejar com a falta de resolução, pequenos bugs ou performance 100% estável, Alan Wake consegue prendê-lo com uma excelente narrativa e uma história envolvente, fazendo com que a repetição do gameplay passe despercebida em diversos momentos. Ainda assim, se compararmos com o jogo original de 2010, com certeza esta é a melhor versão a se pegar para jogar no momento.
Veredict
With a remaster that leaves something to be desired with the lack of 4K resolution, minor bugs and a stable performance, Alan Wake manages to lock you in with an excellent narrative and an engaging story, making a repetitive gameplay go unnoticed most of the time. Still, if we compare it to the original release, for sure this is the best version to get to play at the moment.