Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed é um remaster do primeiro título da série que, originalmente, foi lançado em 2011 para o PSP e apenas no Japão. A série só começou a ser localizada a partir de seu segundo jogo, portanto, Hellbound & Debriefed marca a primeira oportunidade para que o público ocidental venha a conhecer as origens dessa bizarra e divertida série que é Akiba’s Trip.
A série Akiba’s Trip tem um conceito bastante incomum e presente em todos os seus títulos. De forma simples, vampiros ameaçam o bairro de Akihabara em Tóquio, localidade conhecida por ser um grande centro de cultura relacionada a jogos, animes, mangás e afins, cabendo ao protagonista e seus amigos enfrentarem essas criaturas para manter o bairro e a população de Akihabara seguros para continuarem aproveitando seus hobbies.
A literatura e lendas sobre vampiros indicam que eles têm muitas fraquezas: estacas de madeira no coração, cruzes, água benta, chicotes de uma certa família, temperos diversos e por aí vai. No entanto, sua maior fraqueza e que é consistente com várias lendas, é a luz do Sol e que, também, é a principal arma utilizada pelos protagonistas em Akiba’s Trip. Não é um conceito particularmente novo, Boktai no GBA utilizava de armas que eram energizadas pela luz do Sol. Os personagens em Akiba’s Trip, no entanto, preferem uma aproximação mais prática, pró-ativa e íntima, optando por utilizar de uma arte marcial única para despir os vampiros e deixá-los expostos à luz do Sol. Ao contrário de outras obras, vampiros são obrigados a caçar suas presas de dia já que, de noite, o bairro fecha todo seu comércio e o trânsito de pessoas é praticamente inexistente (dentro do jogo, apenas).
A jogabilidade é similar a um jogo de luta 3D, no qual você pode atacar as diferentes vestimentas de seu oponente categorizadas em chapéus, camisas e calças com ataques altos, médios e baixos e, uma vez que elas tenham tomado dano suficiente, despir seu oponente de suas roupas e deixá-lo apenas com suas roupas de baixo. Akiba’s Trip é um jogo extremamente inclusivo permitindo despir vampiros, humanos e “animais” independente de gênero, profissão ou classe social. Se há uma vestimenta presente na rua, ela pode ser removida. É também notável que é possível remover múltiplas vestimentas de maneira consecutiva, permitindo deixar um grupo inteiro de pessoas ao natural em questão de segundos.
É um sistema de batalha simples e, honestamente, divertido. Suas vestimentas têm seus próprios status de defesa e resistência e você pode usar uma variedade impressionante de itens como leques de papel, teclado, monitores, espadas de madeira, bastões policiais e muito mais. Minha arma de escolha foi uma panela, cuidadosamente elevada ao +99 para infligir máximo estrago no armário alheio. O título também tem um pouco do DNA de outra série da Acquire, Way of the Samurai, em que suas escolhas afetam a conclusão da história de maneira significativa e que os próprios NPCs tem rotinas simples, mas capazes de criar cenários inusitados como pancadarias entre NPCs que, usualmente, pertencem a diferentes facções como policiais, vampiros, agentes secretos, pedintes e etc. Abuse o suficiente dessa rotina e é possível pessoas da mesma facção lutando entre si. O Nu Fu também parece ser bastante disseminado no bairro, pois todos também lutam retirando as roupas uns dos outros.
A história revolve sobre o protagonista sem nome (literalmente, nanashi é sem nome em japonês) que foi transformado em um vampiro e recrutado pelos agentes para lutar contra os demais vampiros que atacam as pessoas em Akihabara. O interessante do título é que as escolhas do jogador alteram drasticamente o decorrer da história e mesmo suas pequenas ações tem algumas consequências na cidade. Você pode optar por se juntar aos vampiros, pode seguir fielmente junto aos agentes, agir como um meio termo entre os dois, agir como um agente duplo e por aí vai. Se você começar a atacar demais os vampiros e/ou civis ou ajudá-los, suas interações na cidade também irão mudar. No meu caso, houve um momento em que os vampiros ficaram extremamente putos e agressivos comigo enquanto a população de Akihabara me agradecia pelas side quests que tinha realizado.
De certa forma, é impressionante jogar um jogo do PSP no PS4, 10 anos após seu lançamento original, e se divertir com um conceito essencialmente bobo, mas bem executado considerando as limitações de sua plataforma original. No entanto, pensando no título como uma remasterização que está sendo vendido por quase o preço de um lançamento, é difícil recomendá-lo no momento.
A parte gráfica precisava mais de um remake completo do que um upscale, os modelos não são adequados para consoles e as texturas ficam simplesmente horríveis em uma TV grande. É bastante claro que alguns problemas técnicos como, por exemplo, a câmera são um legado do PSP e que realmente afeta a experiência no PS4 já que existirão vários momentos onde é impossível enxergar qualquer coisa na tela. Alguns de seus sistemas também foram, naturalmente, melhorados em suas sequências e é particularmente agravante que essas sequências já estão disponíveis no console e por preços mais acessíveis, fazendo deste um produto ainda mais dedicado à uma base de fãs já definida. Em suma, não foram feitas melhorias (ou, pelo menos, não de maneira significativa) no título que possam justificar seu preço.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela XSEED.
Veredito
Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed é um título divertido e até impressionante considerando suas origens, mas um que necessitava mais de um remake do que uma remasterização.
Veredict
Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed is a fun and even impressive title considering its origins, but one that needed more of a remake than a remaster.