Análises

Age of Mythology: Retold – Review

Sem todo a alarde que outras IPs ligadas às plataformas Microsoft tiveram nos últimos meses, um dos games mais esperados (ao menos por mim) a finalmente chegar no ecossistema PlayStation é Age of Mythology: Retold, versão modernizada do clássico jogo de estratégia em tempo real lançado em 2002, cuja atualização originalmente aos computadores e às plataformas Xbox em setembro de 2024.

Uma das maiores referências do gênero, conhecido pelos íntimos como RTS (ou Real Time Strategy), a franquia Age of Empires arregimentou uma multidão de fãs pelo mundo e tradicionalmente sempre esteve ligado ao modelo de gameplay com mouse e teclado. Chegar aos consoles já foi uma verdadeira revolução, e esta remasterização de um spin-off da linha principal se tornou rapidamente um ótimo exemplo de como adaptar a jogabilidade para os controles.

A versão que chega ao PS5 neste ano é, portanto, um port da que o Xbox recebeu no ano passado, com o mesmo sistema de interface testado e adaptado para consoles, e carrega consigo a DLC “Immortal Pillars” que traz consigo novas divindades e uma campanha extra que se junta ao conteúdo já bastante robusto da sua versão original.

Age of Mythology: Retold

Resumidamente, trata-se de um jogo de desenvolvimento, gerenciamento e conquista em tempo real tanto para se jogar sozinho como para encontros nada amistosos no PvP, que aborda povos antigos clássicos e suas respectivas crenças, aqui convertidas em efeitos de interferência direta no desenvolvimento de ações de conquista, defesa e outras façanhas com foco em conquistas e grandes batalhas.

Tal como seu irmão mais famoso, portanto, o jogo nos coloca na pele de grande líder histórico – que aqui tem seus elementos fantásticos baseados, claro, na mitologia daquele povo e consequentemente é menos ancorado em eventos reais – em missões com objetivos distintos, sempre voltadas à uma defesa territorial e o alcance de novos feitos contextuais no conflito com inimigos dos mais variados seja em terra, seja no mar.

Age of Mythology: Retold

Para isso, os veteranos desse estilo de jogo vão se sentir completamente confortáveis com a premissa: é necessário explorar recursos básicos, como ouro, madeira e alimentos, ação feita normalmente por civis úteis, ainda que frágeis, a serem treinados na capital de nosso território, uma vez que eles dão base para tudo o que vem depois.

Estas riquezas são utilizadas para o aprimoramento da nossa sociedade, permitindo a construção de moradias, estruturas públicas como templos, mercados, fazendas e coisas afins; e de edificações de cunho militar, como centros de treinamento de infantaria, arqueiros, melhoramento de armas, e assim por diante.

Age of Mythology: Retold

Esta dinâmica de se apropriar do ambiente e construir instalações diversas para melhorar a exploração de recursos e poderio de batalha é o centro de todas as tarefas mais específicas do jogo, e portanto são as primeiras coisas que cada missão inicial exige que aprendamos. Não dá para ir muito longe sem entender perfeitamente quem faz o que e quais os requisitos para aquilo. Deixar algo para descobrir depois é a receita do fracasso.

E para tal, a já citada interface adaptada é extremamente otimizada para um bom controle da situação, mesmo que obviamente não traga tanto dinamismo quanto o uso principalmente do mouse para seleção e movimentação de unidades. O bom e velho recurso das rodas de seleção são bem organizadas e fazem todo o sentido depois que nos acostumamos ao modo como as acessamos.

Age of Mythology: Retold

Alguns elementos gráficos, contudo, merecem um pouco mais de atenção para não ficarmos perdidos com tudo o que acontece em tela. Saber identificar corretamente cada instalação para fazer bom uso dela rapidamente é fundamental, já que muitas vezes precisamos tomar decisões rápidas para evitar danos maiores. O mesmo vale para os diferentes personagens, já que nem sempre é fácil encontrar um dentre um exército de anões, por exemplo, para levá-lo a um ponto determinado pela missão ativa.

Para selecionar grupos, há alguns facilitadores. Basta usar o direcional analógico para selecionar todos os soldados ou todos os camponeses sob seu comando, ou usar uma seleção em área para pegar um certo agrupamento. Mas conjuntos um pouco mais complexos demandam paciência para identificar e escolher sujeitos individualmente.

Age of Mythology: Retold

Outras automações são extremamente úteis para evitar o microgerenciamento cansativo. Podemos, também por uma roda de opções, estabelecer o foco na exploração de recursos, sem precisar ficar mandando um a um dos pacatos cidadãos para as minas ou para florestas. Não dá para descuidar, porque não raro, eles decidem buscar coisas nos lugares mais esdrúxulos, às vezes até passando por território inóspito, mas há um alívio em não precisar mandar manualmente um construtor que terminou o trabalho fazer outra coisa.

Tais ações administrativas, por mais que estejam já bem desenvolvidas em produções modernas, ou até mesmo superadas, como comentei na análise de Sid Meier’s Civilization VII alguns dias atrás, ainda se provam muito funcionais aqui sobretudo para aqueles de nós que acompanhamos de perto o desenvolvimento deste gênero já tão combalido nos últimos anos. Talvez tenhamos cansado um pouco disso, mas quando cuidar das pequenas coisas é algo bem feito, faz toda a diferença para o conjunto da obra.

Age of Mythology: Retold

Tudo para que estejamos, afinal, muito bem estabelecidos para o aspecto preferido de grande parte do público que adentra este universo, que são as tretas, principalmente as de grande escala, com exércitos adversários. E mesmo que possa parecer simples e datado para os dias atuais, mais de 20 anos depois do seu lançamento, Age of Mythology: Retold mantém sólido um sistema inexoravelmente eficaz e divertido.

Seja na defesa de território, posicionando nossas unidades em pontos estratégicos, seja partindo para a iniciativa de invasões às terras alheias, o comando das unidades em conjunto ou em suas especificidades é um verdadeiro deleite. Chegar aos portões hostis com uma tropa de infantaria descendo a porrada na resistência no corpo-a-corpo enquanto os arqueiros estão bem posicionados para um suporte à distância não perde a graça nunca.

Age of Mythology: Retold

Trazer a cavalaria para um efeito mais devastador é empolgante, sobretudo quando ela pode ser composta também por centauros. As criaturas mitológicas – que custam mais recursos por um bom motivo – são o tempero que o modelo de batalha precisa e aquilo que faz de Mythology o meu “Age of” favorito, já que levar um gigante de gelo para o campo ou usar um pégaso para reconhecimento de terreno é o toque de fantasia que mundos assim precisam.

Não é só essa a diferença em relação à linha Age of Empires, felizmente, e um aspecto que traz bastante diversidade a cada nova investida é a devoção a cada umas deidades disponíveis, estas que nos concedem alguns favores de acordo com a sua natureza. Se há por um lado os que nos abençoam com cura, proteção e suporte, outros nos ajudam castigando quem ousa se opor ao nosso poder.

Age of Mythology: Retold

São três deuses principais (ou no caso nórdico, quatro, porque um deles foi lançado posteriormente ao jogo original) por civilização, os quais dão acesso a outras divindades menores conforme avançamos em nossa jornada, todos com o seu conjunto de melhorias possíveis tanto na disponibilização de unidades mitológicas a serem evocadas dos templos de adoração quanto nas tecnologias a serem desenvolvidas para nosso benefício.

A soma das escolhas entre para quem jurar sua fé e o estilo do jogo adotado resultam em experiências múltiplas e bastante equilibradas. Você pode ser mais cauteloso, fortificar sua cidade e acumular riquezas, recursos e população até estar totalmente amparado para partir em campanha de uma vez só, usando poderes de suporte e resistência; pode partir para o embate contínuo, atacar antes de ser atacado, e ir esgotando seu inimigo com a fúria divina; ou ainda qualquer mistura entre estas duas posturas. 

Age of Mythology: Retold

Originalmente, são quatro panteões representados: grego, atlante, nórdico e egípcio, que ganham o reforço das divindades chinesas no conteúdo de expansão. Cada povo tem suas particularidades e ações, muitas das quais são comuns entre eles, mas outras que precisam ser compreendidas para que nos apropriemos delas em nosso benefício.

Por exemplo, a civilização grega tem como premissa que os camponeses comuns são responsáveis por todas as construções, desde as casas e muros mais simples aos maiores prédios daquele tempo. Por sua vez, os nórdicos utilizam guerreiros para algumas obras dedicadas ao combate, como torres de vigilância e coisas do tipo. Detalhes que não mudam drasticamente o modus operandi do todo, mas que são importantes quando transitamos de uma campanha para outra.

Age of Mythology: Retold

Aliás, uma ótima qualidade dentre os modos single player é a possibilidade de iniciar qualquer uma das campanhas disponíveis quando o jogador quiser, sem qualquer necessidade linear, tampouco de encerramento de outras já em desenvolvimento. Eu posso, por exemplo, começar pelo ponto de vista atlante, jogar 20% ou 30%, aí variar para a versão chinesa, depois retornar para a anterior de onde parei, e assim por diante. 

Além de serem levemente distintas em lógica, ideologia e dinâmica de gameplay, estas diferentes aventuras são marcantes pela variedade estética de povos (incluindo vestimentas, cenografia e costumes) e cenários, que conseguem transitar por entre ambientes aquáticos, descampados pouco confortáveis, florestas verdejantes ou montanhas nevadas, dentre outros, de um modo bastante natural e bem feito.

Age of Mythology: Retold

Com melhorias audiovisuais significativas em relação à sua primeira versão, algo já esperado (e clichê) quando vemos mais um produto remasterizado chegando ao mercado, o cuidado com a produção passa sobretudo por atualizações que melhoram o carregamento do jogo, a fluidez das animações e a valorização do bom uso da saturação. Age of Mythology: Retold é vívido e não tem vergonha de exibir todo e espectro de cores intensas que este mundo fantástico pede.

Nem tudo parece tão atual assim, e os modelos humanos (e humanoides) ainda carecem de expressividade e personalidade, mas para algo que é experienciado na sua quase totalidade à distância, isso não chega a ser um incômodo. Até porque a compensação presente nos efeitos de luz e partículas está especialmente presente, fazendo com que os castigos e benesses oriundos dos nossos protetores sejam um espetáculo à parte.

Age of Mythology: Retold

Não se pode deixar passar o fato de que toda a releitura do aspecto sonoro agrega mais valor ao conjunto, com acompanhamentos musicais que valorizam o tom épico do game. A adição da dublagem para o nosso português, junto com a boa localização também de textos e legendas, é louvável, com vozes conhecidas e interpretações tão afetadas (às vezes canastronas) quanto o estilo artístico do jogo exige e, para nós brasileiros, aumenta muito a qualidade de vida de um produto que merece ser compreendido em sua totalidade para ser apreciado como merece.

Embora o jogo esteja longe do refinamento técnico do que veio depois, incluindo o mais recente Age of Empires IV, ou do dinamismo quase claustrofóbico da série Starcraft, não há dúvidas que o estilo old school de se fazer um bom RTS transborda de cada detalhe do game, que acerta algumas arestas mais grosseiras de sua versão original, o aprimora para os consoles – uma herança bem-vinda da versão de Xbox lançada seis meses atrás – e dá uma nova chance para que ele encontre outros públicos que, por ventura, ainda não o conheciam, ou retorne aos velhos conhecidos para um novo encontro nostálgico.

Age of Mythology: Retold

As duas décadas desde seu lançamento original amadureceu o game de uma forma robusta, e no estado atual, Age of Mythology: Retold é equilibrado o suficiente para abarcar diferentes modos de atuação do jogador. Tal como para o bom vinho de Dionísio, os anos fizeram muito mais bem do que mal para o game, que carrega sim algumas marcas do tempo, mas que mantem uma ótima forma.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Xbox Game Studios.

Veredito

Inoxidável, Age of Mythology: Retold chega maduro ao PlayStation 5, trazendo consigo toda a qualidade de sua celebrada versão original, junto com todas as melhorias técnicas e de qualidade de vida de uma boa remasterização muito bem adaptada ao sistema de comandos do console. Com aventuras épicas dignas dos tempos áureos dos clássicos RTS, é uma recomendação fácil tanto para veteranos quanto para novos entusiastas do gênero.

90

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