O papel como hoje é conhecido teve origem na China e possibilitou uma série de avanços e manutenção da sociedade uma vez que registros e documentação se tornaram possíveis por conta de um produto durável e eficiente. Além da escrita, o papel é uma fonte de criatividade como os origamis bem como na decoração nas suas mais diferentes formas e cores que alegram e constroem uma vida única para os seres humanos.
Quando uma força sobrenatural chega no planeta Terra até uma residência de pessoas comuns e dá vida a um pedaço de papel branco e comum, uma jornada misteriosa de autoconhecimento se inicia em busca de sentimentos e faz com que os desafios de se lançar pelo mundo sejam justificados. A vida de uma folha composta de celulose pode ser perigosa caso não se saiba contornar as adversidades que possam surgir pelo caminho. Água, humidade, aspiradores de pó robóticos, eletricidade etc. podem destruir essa matéria delicada e arruinar os planos de conquista de uma existência mais plena e significativa.
A Tale of Paper é um projeto da Open House Studios que ficou em desenvolvimento por anos sob a responsabilidade de um pequeno grupo de programadores e chega ao PS4 trazendo uma proposta realizada com delicadeza que explora sentimentos humanos profundos no melhor estilo indie. Com visual bem trabalhado e trilha sonora adequada ao conceito, o título oferece uma experiência distinta de outros jogos do segmento à sua própria maneira por não se intimidar em fazer referências claras a outros jogos que podem ser considerados seus irmãos. Os comandos, entretanto, entregam pouca precisão tornando a jogabilidade “escorregadia”, o que pode ser um fator pouco apropriado para um game que foca no gênero plataforma e puzzle. Mesmo assim, o brilho de A Tale of Paper não é quebrado por um aspecto técnico ligeiramente inconveniente, pois a ideia e a criatividade se sobrepõem para falar de amor e a busca de si mesmo.
À primeira vista, o jogo consegue causar um impacto de estranheza por falta de detalhes sobre o enredo e pelo fato de que uma folha de papel misteriosamente ganha vida e sai em busca de algo que o jogador não sabe o que é. Essa forma obscura de iniciar uma narrativa pode causar uma sensação negativa se for mal trabalhada, mas no caso de A Tale of Paper, essa incógnita desperta interesse e curiosidade sobre o que está acontecendo e para onde se deve ir. Seguir em frente com um personagem sem nome e explorar cenários é o que o jogo permite fazer de início, mas ao decorrer da jornada, a flexibilidade de uma folha de papel é explorada sendo possível assumir outras formas para avançar pelos perigos.
Após compreender que seguir um rumo desconhecido é o destino a ser cumprido, a aventura começa a pôr as habilidades de pulo, plataforma e puzzle em ação desafiando o jogador a pensar possibilidades e, principalmente, a se adaptar aos controles. Com uma campanha relativamente curta, porém que dura tempo suficiente para não ser cansativa ou repetitiva, todos os elementos do game vão se reunindo gradativamente para ganhar coesão e sentido conforme o final se aproxima.
Um dos grandes destaques do título são a beleza dos gráficos, com um ótimo grau de resolução, e uma rica paleta de cores que transmitem uma sensação de realidade dentro da proposta do game. Começando dentro de uma casa tradicional, passando por esgotos subterrâneos, por telhados de apartamentos e até pela caverna de uma aranha assustadora, os ambientes investem em efeitos de luz e sombra além de texturas em alta resolução potencializadas pela diversidade das cores.
No segmento indie, prestar uma homenagem a grandes títulos do passado ou mesmo destacar plataformas e estilo que fizeram sucesso em outras décadas parecer ser uma aposta recorrente muito por conta da história e da identificação dos desenvolvedores por grandes clássicos. No entanto, em a Tale of Paper, esse conceito é tratado de outra maneira fazendo com que o jogo ganhe originalidade nesse quesito uma vez que a produção traz a identidade de outros indies que são considerados grandes obras feitas com menor orçamento que títulos populares.
Possuir um repertório desse tipo de jogo pode fazer com que o game seja interpretado mais efetivamente já que tanto referências pontuais como referências mais sutis podem ser percebidas durante toda a campanha. O mistério de Limbo, a solidão de Journey, a busca incessante de Brothers: A Tale of Two Sons, a versatilidade de Unravel, entre caraterísticas e mecânicas de títulos diversos, estão presentes como inspiração para a criação do jogo sem parecer uma cópia barata e mal explorada. Neste sentido, aqueles que em sua vivência gamer dispõem desse repertório poderão perceber nuances mais finas que forma uma essência mais elementar.
No que diz respeito à trilha sonora, o jogo da Open House Studios se destaca fortemente por trazer composições sólidas e alinhada aos diversos acontecimentos que a narrativa apresenta. Uma diversidade de tons e melodias podem ser escutados com o intuito de provocar sensações no jogador uma vez que a busca pelo amor e pela existência são postos à prova a todo momento. Da calmaria de se estar em um ambiente seguro ou passando pela tensão dos perigos, A Tale of Paper oferece uma experiência auditiva tocante com emoções que vão guiar as partidas até o final juntando visual e música em uma bonita mensagem de reflexão humana.
Os comandos podem ser considerados desalinhados em relação aos outros aspectos técnicos por não permitirem um maior grau de precisão em relação aos botões que são pressionados. Tendo por perspectiva principal o gênero plataforma, desempenhar os pulos com destreza faz parte do desafio que esse tipo de jogo proporciona, mas no game os comandos falham em diversas situações gerando imprevistos e incertezas quanto ao próximo movimento.
A movimentação do personagem de papel não é completamente sincronizada com a força aplicada às alavancas e nem os pulos são suaves e certeiros como esperado. A sensação dos comandos é de que parte da força aplicada é perdida juntamente com um minúsculo atraso na resposta. Correr e pular entre plataformas mais distantes pode gerar mortes inconvenientes mesmo quando o desafio é mais simples. Soma-se a esse fator a presença de paredes e espaços invisíveis que bloqueiam algumas partes do cenário e empurram o protagonista para uma outra posição. Existe uma dúvida a respeito da jogabilidade de A Tale of Paper no sentido de questionar se a programação dos controles foi executada desta forma para ampliar os desafios de plataforma ou se os controles necessitam de um polimento apurado para promover partidas mais fluídas.
Apesar de conter alguns deslizes em um fator técnico essencial, os comandos não são falhos em sua totalidade e também apresentam aspectos positivos como a execução das diferentes formas que o personagem pode assumir com botões rápidos e bem adequados em momentos chaves. Os puzzles são funcionais, com um nível de dificuldade razoável em relação à lógica e aos comandos que devem ser executados. Vale destacar que a jogabilidade se torna mais uma questão de adaptação do que uma particularidade entregue de forma pronta como acontece em outros indies. Mesmo assim, a delicadeza e a sutileza para tratar de sentimentos não são desmerecidas e valem a aventura em busca de um sentido maior para a vida, mesmo que esta vida seja feita de papel.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Gammera Nest.
Veredito
Tendo por base identitária as mecânicas e as propostas de outros títulos indies, A Tale of Paper é um jogo que se destaca pela maneira como aproveita o melhor desse segmento sem as famosas homenagens a grandes títulos do passado. Com o objetivo de promover uma experiência voltada às sensações humanas, os fatores técnicos como gráficos e trilha sonora se destacam para aguçar os sentidos permitindo uma reflexão sobre o que é amar e a busca do eu próprio.
Veredict
Based on the identity of the mechanics and proposals of other indie titles, A Tale of Paper is a game that stands out for the way it makes the best of this segment without the famous tributes to great titles of the past. In order to promote an experience focused on human sensations, technical factors such as graphics and soundtrack stand out to sharpen the senses, allowing a reflection on what it is to love and the search for the self.