Vencedor na categoria indie da Gamescom 2018, Lost Ember propõe um universo sem civilização, com uma história sobre vingança, perdão e muita emoção na pele de vários animais em uma natureza livre.
Lá em 2014, a Mooneye Studios surgia, formada por alguns colegas de universidade. Com a unidade, os desenvolvedores viram uma oportunidade: pensar em algo grande. Foi aí que elaboraram Lost Ember e em outubro de 2016 criaram um Kickstarter para erguer fundos para o lançamento do jogo. Com uma organização impecável e transparente, logo alcançaram 300 mil euros (equivalente a mais de um milhão de reais) de apenas 100 mil estipulados.
O sucesso deu-se aos gráficos detalhados e coloridos e por mostrar uma história cativante e misteriosa sobre um Lobo em uma civilização tribal esquecida. A possibilidade de trocar de corpo e assumir a forma de outros animais na floresta criou não só uma curiosidade do público, como várias premiações ao redor do mundo, gerando surpresa e encanto pela qualidade do jogo indie. Mas, fique atento: é um jogo bonito, zero violência (você é um lobo e nem caça, por exemplo), tudo é colorido e você se transforma num beija-flor, numa história calorosa. Se sua pegada são jogos de aventura e ação, este não lhe serve.
Lost Ember fala de um período intocado pela humanidade, em que a natureza e a fauna desenvolvem ao redor de ruínas que já foram históricas. Os cenários são lindos e cada capítulo tem um mapa explorável, cheio de detalhes e cores vibrantes. Você é um lobo, rápido e ágil para correr pelas florestas, e recebe um poder único: a habilidade de trocar de corpo com o de outros animais. Dessa forma, é possível entrar em tocas pequenas, mergulhar dentre as ruínas das cidades, voar e alcançar lugares que não conseguiria na pele de lobo, sem esquecer das peculiaridades de cada animal: alguns não voam alto ou são lentos demais.
Claro que a escolha de trocar de corpo é sua, e inúmeras possibilidades são descobertas em cada animal que é feita a troca. Algumas trocas são necessárias para completar pequenos puzzles ou seguir no mapa adiante. Outras vezes, a troca pode revelar cogumelos e outras plantas colecionáveis, além de facilitar a localização de itens valiosos, como as memórias, que ajudam a entender os acontecimentos da linha temporal do jogo, e também os easter eggs. Em cada capítulo, novos animais surgem, tornando o gameplay bem variado.
Tudo no jogo é um mistério e conforme o gameplay vai evoluindo, você descobre o que aconteceu no passado e fez com que no presente não houvesse presença humana. Quando civilização, acreditava-se que existia vida após a morte, e que as pessoas boas, ao morrer, poderiam ascender aos céus na Cidade da Luz e terminar sua jornada como espírito, e as pessoas de má índole, ou que cometeram atos imperdoáveis, renasceriam no corpo de um animal, e teriam de cumprir sua vivência desta forma como penitência. Lost Ember, ou “brasa perdida”, é o nome das almas errantes que tornaram-se animais na reencarnação. Até que uma alma que se diz pura e que não subiu aos céus pede ajuda, e cabe a você, lobo, ajudar o errante a encontrar a paz. Nesta jornada todo passado é revelado, e tanto lobo quanto alma, buscam compreender o que fizeram para serem mantidos na Terra.
A história de ambos se entrelaça, e cada memória adquirida mostra novas situações que geram muitas reviravoltas, contando sobre vingança, perdão, assassinatos, religião e atenção às minorias. É aqui que deixo de falar sobre a narrativa. O “tchan” do jogo está na descoberta sobre as vidas passadas dos personagens, e não sou eu quem vai revelar. Sobre outros aspectos, a trilha sonora feita por Solid Audio Works (GTA e Red Dead Redemption), é pacífica e interessante, fazendo o jogo ser ainda mais agradável.
Tudo parece lindo e incrível (e é mesmo), mas vamos falar da performance. A queda na taxa de quadros por segundo (FPS) é tão gritante, que o jogo travou em muitos momentos. Joguei até o final três vezes (o jogo pode ser concluído em 5 a 6h dependendo dos colecionáveis) e em cada gameplay o PS4 travou completamente umas duas vezes.
A otimização foi péssima e apesar de bonito, não é um jogo difícil para rodar. A parte boa: o jogo salva automaticamente, em muitos pontos do gameplay, e impede que se perca muita coisa quando se acaba morrendo (cair de um lugar alto), ou quando o jogo trava. Há espaço para 3 saves distintos, o menu é rápido, e a configuração dos botões é simples. Infelizmente, em vários momentos também fiquei presa entre os polígonos do cenários.
Apesar de todos esses problemas, apenas me incomodei com as paredes invisíveis, presentes para limitar o mundo aberto e definir o abismo dele. Por vezes sobrevoei áreas inúteis e fiquei presa por um tempo até descobrir como voar de volta sem impedimentos. As paredes existem em todos os jogos, mas são irritantes quando impedem o avanço e circulação em locais comuns do mapa.
Apesar dos pesares, o jogo é uma ótima experiência e pode ser vivenciada com calma, aproveitando todo cenário e estrutura. Um toque genuíno, que melhora a experiência, foi a dublagem da alma errante que acompanha o lobo: a voz se assemelha à de um narrador, indicando o caminho ideal e contando cada vez mais sobre a história da civilização tribal, mas com um toque mais próximo e gentil, deixando o jogo menos silencioso entre um uivo e o som da correnteza.
Além disso, os desenvolvedores apontam que em breve será lançada a opção VR do jogo, que acredito que será perfeitamente adaptado e com certeza até lá a baixa performance poderá ser corrigida.
Veredito
Lost Ember é um vislumbre aos olhos e traz uma história emocionante, densa e peculiar. O silêncio do lobo em suas memórias foi muito bem traduzido na narrativa, que mostra uma realidade passível de perdão, vingança e angústia nas descobertas. Lost Ember deve ser jogado com calma, apreciando a vista, sobretudo os pequenos detalhes e os sons da natureza, desbravando a floresta com diversos animais. Só perde pontos no processamento e na variação da taxa de quadros por segundo, deixando a experiência cansativa.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Mooneye Studios.