Miles Edgeworth. Se há algum personagem em toda a saga Ace Attorney tão ou mais carismático que o genial Phoenix Wright, Edgeworth talvez seja esse personagem. Afinal, de um dos mais ferozes rivais que o advogado de cabelo pitoresco já enfrentou, com sua rivalidade sendo tão afiada quanto a amizade de infância que os dois têm, com o arco de evolução dos dois sendo intrinsecamente ligado desde o primeiro jogo da série.
Natural então que, quando a franquia passou a seguir novos caminhos e lançar diferentes spin-offs baseados em seus personagens, o procurador Miles Edgeworth foi um dos escolhidos para capitanear seu próprio jogo. Lançados para Nintendo DS, com o segundo jogo sendo exclusivo do Japão até aqui, Ace Attorney Investigations: Miles Edgeworth e Ace Attorney Investigations 2: Prosecutor’s Gambit chegam agora ao PS4 através da Ace Attorney Investigations Collection.
Embora ainda exista algum tempo até podermos dar o nosso veredito final sobre toda a coletânea, nós tivemos a oportunidade de jogar, à convite da Capcom, os três primeiros capítulos de AAI: Miles Edgeworth e os dois primeiros capítulos de AAI 2: Prosecutor’s Gambit, o que já trouxe um gosto bem interessante do que podemos esperar de ambos.
Ambos os jogos te colocam no papel do procurador Miles Edgeworth no processo de investigar cinco casos diferentes em busca de revelar o verdadeiro responsável por cometer os assassinatos. É o primeiro título a colocar o jogador do lado da acusação e não como um dos advogados de defesa, explorando muito mais sobre alguns eventos importantes do passado do Miles que foram citados ao longo dos jogos da série principal, mas também tendo um arco central que liga os cinco casos que o envolvem.
O principal diferencial aqui é que você controla o Miles durante fases de investigação, nas quais é possível andar pelo cenário integrando com diferentes pontos dele para revelar novas provas ou deduções que podem ser conectadas para revelar maiores detalhes por trás do caso. Além, é claro, da já conhecida parte do interrogatório no qual você irá usar as provas coletadas para apontar contradições nos testemunhos e ir aos poucos se aproximando cada vez mais da verdade.
É um sistema bem simples e funcional que não só incorpora aquilo que os veteranos da série já estão acostumados a ver em outros Ace Attorney, mas traz também um sabor que faz o jogo ter sua própria identidade, muito mais condizente com o próprio Miles Edgeworth. Afinal, se o Phoenix Wright é um belo dum artista, improvisando e blefando seu caminho pelos tribunais, Edgeworth é muito mais centrado e lógico, analisando cada pequeno detalhe para revelar a verdade por trás de cada caso.
Isso ajuda bastante a humanizar o Miles, mostrando um personagem bem diferente do arrogante procurador enfrentado lá no primeiro Ace Attorney, ainda que siga sendo bastante seguro de suas capacidades, ele parece ter uma conexão mais humana com cada um dos casos. Talvez pelo primeiro deles ocorrer justamente na sala do Edgeworth isso já fique bem claro, mas o jogo como um todo é um ótimo passeio não só por referências ao passado (fãs da franquia vão se deliciar com todas as participações vistas aqui), mas também pela forma como constrói os seus personagens de forma independente, notoriamente o detetive Gumshoe e a jovem ladra Kay Faraday, além, é claro, do protagonista.
Embora o primeiro jogo tenha colocado suas garras em mim com gosto, a verdadeira jóia do pacote é o lançamento de Ace Attorney Investigations 2: Prosecutor’s Gambit, sendo localizado pela primeira vez para o Ocidente. A longa espera de 13 anos até esse evento fez parecer com que o jogo jamais chegaria por aqui, sendo um dos mais frequentes jogos citados em listas de “melhores jogos não-localizados” desde então, mas, se os dois primeiros capítulos são algum indicativo, talvez estejamos de frente a um dos, se não o melhor jogo da franquia.
Em termos de gameplay, AAI2 é bem similar ao primeiro jogo, com uma importante adição: a presença da mecânica de “Mind Chess”. Ela funciona quase como um minigame quando algo, até então raramente visto na série, acontece: uma testemunha se recusa a falar. Através dela, o interrogatório toma uma literal forma de um tabuleiro de xadrez. O jogador então precisa alternar entre questionar e ouvir para ganhar vantagem na discussão e então partir para a ofensiva, dar o “xeque mate” e vencer a fase.
É uma pequena adição, mas uma bem divertida e desafiadora, com os confrontos ficando progressivamente mais desafiadores nesses dois primeiros casos. Eles também não ocorrem com tanta frequência assim para se tornarem cansativos, então é uma mecânica que funciona exatamente como deveria, trazendo um novo sabor a algo que já era bem funcional sem estragar a já muito bem equilibrada dinâmica do primeiro jogo.
Essa mesma questão é vista também no trio de personagens centrais da história, com Miles, Gumshoe e Kay tendo uma dinâmica muito bem estabelecida, ainda melhor no segundo jogo, especialmente após ver todo o desenvolvimento dela ao longo do primeiro. Embora o primeiro jogo seja muito construído sobre a ameaça de um cartel de contrabando sem uma figura central, algo bem funcional ali, o segundo jogo já traz um antagonista mais claro, o juiz Verity Gavèlle, ajudando a dar um tom e sabor melhores a ele.
No geral, sem entrar em maiores detalhes ou informações sobre os jogos, algo que será mais explorado em nosso review futuramente, Ace Attorney Investigations Collection tem tudo para ser um excelente pacote pelo que vimos até aqui. Os cinco casos que pudemos jogar são bem interessantes, os novos gráficos dessa remasterização são lindos e os jogos em si são de altíssima qualidade. Se você é fã da franquia, precisa ficar de olho em Ace Attorney Investigations Collection quando o jogo sair para PS4, Xbox One, Switch e PC no dia 6 de setembro.
Preview elaborado no PS5 (jogo de PS4) com um código fornecido pela Capcom.