A tecnologia blockchain avançou muito com o passar dos anos, chegando a diversos setores, incluindo a indústria dos videogames. Embora tenha enfrentado cerca resistência no início, tanto por parte dos jogadores quanto dos desenvolvedores, a blockchain está sendo integrada em vários jogos. E isso está permitindo a criação de novas funcionalidades, como a propriedade de ativos digitais e a comercialização de itens virtuais.
A blockchain oferece uma série de benefícios para os videogames, especialmente quando aplicada à propriedade de itens digitais, como skins, personagens e armas. Através do uso de tokens não fungíveis (NFTs), os jogadores podem possuir, vender e trocar itens dentro dos jogos de forma transparente e segura. Um dos exemplos dessa integração é o estúdio Redcatpig, que está desenvolvendo o jogo HoverShock, com lançamento previsto para 2024.
Nesse jogo, os jogadores poderão adquirir drones e skins baseados em NFTs, que poderão ser comercializados dentro de um mercado virtual utilizando tanto criptomoedas quanto moedas fiduciárias. E essa é apenas uma das muitas notícias de criptomoedas e sobre projetos inovadores envolvendo blockchain no mundo dos jogos. No entanto, um dos desafios para os estúdios que integram a blockchain nos jogos é a resistência dos próprios jogadores.
Muitos jogadores ainda veem a blockchain e os NFTs com ceticismo, associando-os a práticas predatórias de monetização. Segundo Marco Bettencourt, CEO da Redcatpig, um dos maiores obstáculos é educar tanto os desenvolvedores quanto os jogadores sobre como a tecnologia pode, de fato, melhorar a experiência de jogo, sem comprometer a diversão. Ele ressalta que os jogadores não precisam entender os detalhes da blockchain, mas sim perceber os benefícios diretos, como a posse real de um item virtual.
Especialmente no Brasil, essas tecnologias estão associadas a práticas predatórias de monetização, como a implementação de loot boxes e outros métodos que visam a maximização de lucros sem agregar valor à experiência do jogador. Essa percepção se intensificou após a queda brusca no valor dos NFTs em 2022, quando o mercado despencou em cerca de 97% devido à crise no mercado de criptomoedas. Como resultado, muitos jogadores passaram a enxergar os NFTs como uma moda passageira ou um esquema de especulação financeira.
Crescimento do Blockchain nos jogos no Brasil e as iniciativas do governo
O Brasil, com uma base de jogadores que ultrapassa os 95 milhões de pessoas, sendo o terceiro maior mercado de games do mundo, está adotando a blockchain no setor de games. De acordo com dados da Newzoo, o mercado de games no Brasil movimentou cerca de US$ 2,3 bilhões em 2023, e parte desse crescimento é devido à adoção de tecnologias novas como a blockchain.
Além disso, várias startups brasileiras têm explorado essa tecnologia, criando plataformas que permitem a compra e venda de ativos digitais dentro de jogos. A Bayz, uma startup de São Paulo, tem trabalhado diretamente com jogos baseados em blockchain, permitindo que os jogadores ganhem criptomoedas através da jogabilidade. Isso mostra que, apesar da resistência inicial, há um mercado interessado em explorar as possibilidades oferecidas por essa tecnologia.
O governo brasileiro também tem começado a prestar atenção no potencial da blockchain para a indústria de jogos. Em 2023, o BNDES anunciou um fundo de R$ 400 milhões destinado a financiar iniciativas tecnológicas no Brasil, com foco em blockchain, inteligência artificial e jogos digitais. Isso para incentivar startups e empresas a integrarem essas tecnologias em seus modelos de negócios.
Um exemplo similar pode ser observado em Portugal, onde o consórcio eGames Lab está trabalhando para integrar a blockchain nos jogos, promovendo o desenvolvimento de projetos com financiamento público. O objetivo é usar a blockchain como uma ferramenta para os jogos, mas também para estratégias de marketing e expansão internacional do setor.
Embora a blockchain tenha muitas vantagens, a indústria de jogos ainda precisa superar alguns obstáculos para garantir a adoção generalizada dessa tecnologia. A reação negativa de jogadores e a dificuldade em educar o público sobre os benefícios da blockchain é uma das barreiras a serem superadas. Empresas como a VEU, especializada em soluções de IA e blockchain para jogos, está com dificuldade de introduzir a tecnologia sem alienar sua base de usuários.
Esses usuários muitas vezes estão mais preocupados com a experiência do que com a tecnologia em si. Além disso, um estudo aponta que 59% dos entrevistados associam jogos de blockchain com esquemas fraudulentos, como Ponzi. No entanto, com cada vez mais estúdios adotando a blockchain, é provável que essa resistência diminua, assim como aconteceu com outras inovações tecnológicas no passado.
Mas o ecossistema brasileiro de blockchain conta com aproximadamente 181 startups focadas em soluções cripto, sendo que 46,4% dessas estão concentradas em São Paulo. E o conceito de propriedade digital, em especial, pode transformar o mercado de jogos, permitindo que os jogadores tenham mais controle sobre seus ativos e que novos modelos de negócios, como o play-to-earn, ganhem força.