Indonésia, zona rural do interior, final dos ano 90. Um casal de namorados, Atma e Raya, está nos momentos finais do ensino médio e tendo de passar pelas incertezas de qual carreira seguir ao sair do colégio quando estranhos eventos passam a acontecer anunciando um possível fim do mundo. Detentores de poderes sobrenaturais, Atma e Raya devem explorar a cidade para descobrir o que está acontecendo e colocar um fim nisso. Essa é a premissa de A Space for the Unbound, uma aventura slice of life, desenvolvido pela Mojiken Studio e publicado pela Togen Productions e Chorus Worldwide.
Apesar de parecer ser um jogo com uma história simples, A Space for the Unbound traz como principais temas a ansiedade, depressão e desejo de suicídio. Assuntos delicados, mas que através de uma trama envolta de mistérios, vai nos ajudando a compreender como uma pessoa que sofre de tais doenças enxerga o mundo e de como sua mente funciona. Acredito que esse é um dos games com a melhor representação visual do que é a depressão e de como ela pode afetar a vida de alguém. É tocante a maneira como os desenvolvedores vão apresentando os sintomas e indícios, nos fazendo refletir sobre as atitudes que temos com o próximo e de como nossa maneira de agir pode afetá-los, mas também nos ajudando a abrir os olhos e identificar possíveis sinais de que uma pessoa não está bem.
Como já dito, Atma e Raya estão longe de serem jovens comuns. Ele possui o poder da Dimerversão, que é a capacidade de entrar dentro do coração das pessoas e ver aquilo que as afligem, seu medos, e ajudar a acabar com eles. Enquanto Raya tem um poder muito mais complexo, algo como ser capaz de dobrar o espaço/tempo para moldar o mundo segundo suas vontades.
A gameplay de A Space of the Unbound é bem simples consistindo em explorar a cidade e seus habitantes através de interações e diversos diálogos interessantes e, em alguns momentos, bem divertidos. Durante a exploração será possível colecionar itens que vão de tampinhas de garrafas a figurinhas de chiclete, acariciar animais e ainda cumprir com alguns objetivos opcionais. Em determinadas situações, Atma poderá usar seu poder de dimerversão para ajudar os habitantes enquanto vamos descobrindo mais sobre a vida deles e sobre a trama. Em outros momentos, o jogo irá apresentar pequenos minigames que consistem em apertar os botões na sequência que aparecem na tela ou no momento certo. Estes estão presentes na dose certa e em nenhum momento se tornam cansativos ou repetitivos. Além deles, também teremos dezenas de puzzles para solucionar e aqui é um dos pontos em que o game mais brilha. Os puzzles, em sua maioria, são simples e intuitivos, mas existem alguns que acabaram sendo um pouco mais desafiadores, fazendo com que eu chegasse a anotar as etapas das possíveis soluções em um caderno. Isso me trouxe lembranças do final dos anos 90, em que detonados não eram de tão fácil acesso e passávamos alguns dias quebrando a cabeça para solucionar um puzzle nos games.
Por falar em relembrar os anos 90, A Space for the Unbound acerta em cheio ao nos transportar de volta para essa época. A atmosfera do game é muito convidativa e em alguns momentos lembra as presentes em filmes de Makoto Shinkai como Your Name e Wheathering with You. Grande parte disso também se deve ao seu magnífico visual em pixel art. A cereja do bolo fica por conta da trilha sonora. Composta por Masdito “Ittou” Bachtiar, as músicas de A Space for the Unbound carregam todas as emoções que o game quer passar, desde melodias relaxantes e aconchegantes, até aquelas envoltas em mistério e tensão.
Mesmo com tantos elogios, o game tem pequenos problemas na sua localização para o português brasileiro, mas nada que chegue a atrapalhar. Já para os caçadores de troféus, a presença de uma seleção de capítulos para ir em busca dos coletáveis restantes é algo que viria a calhar.
Em suma, A Space for the Unbound é um daqueles games que vai muito além de um simples jogo tornando-se uma experiência. É um título que abraça o jogador e nos convida a refletir sobre quem realmente somos nos mostrando que a felicidade, talvez, possa estar nas coisas mais simples e de que a vida, apesar de tudo, vale muito a pena ser vivida.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Chorus Worldwide.