Análises

Ninja Gaiden 4 – Review

Ninja Gaiden é uma das séries que mais influenciou o gênero de ação e são jogos comumente comentados como melhores dentro do seu gênero. Após Ninja Gaiden 3, no entanto, a série entrou em um longo hiato e mesmo sua versão melhorada, Razor’s Edge, não foi suficiente para desfazer o estrago do terceiro capítulo na série. Somente agora, mais de 10 anos após NG3, a série recebe atenção novamente com Ninja Gaiden 2 Black, Ninja Gaiden Ragebound e a tão aguardada sequência Ninja Gaiden 4 que, para a surpresa de muitos, foi produzida junto a Platinum Games, outra grande desenvolvedora de jogos de ação com títulos como Bayonetta, Metal Gear Rising, Astral Chain, entre muitos outros.

Primeiramente, é necessário alinhar expectativas. Ninja Gaiden 4 é praticamente um reboot da série e têm uma dinâmica de combate completamente diferente dos títulos anteriores. O título foi produzido quase inteiramente pela Platinum Games e é particularmente notável que ele se parece muito mais com os jogos da produtora do que com os Ninja Gaiden produzidos pela Team Ninja. 

Eu considero que as filosofias quanto ao combate dos dois times são praticamente opostas: Team Ninja coloca um foco em derrotar os inimigos de maneira eficiente, independente se o jogador necessita de itens ou estratégias repetitivas. Platinum, no entanto, coloca foco em como o jogador derrotou seus inimigos com a “forma ideal” sendo sem tomar dano, sem itens e com combos variados. Apesar da dissonância entre filosofias, Ninja Gaiden 4 é uma junção extremamente satisfatória dos dois. Sendo mais enfático, Ninja Gaiden 4 é praticamente uma reinterpretação do que um Ninja Gaiden deve ser pelas mãos da Platinum. Se você espera uma sequência com as mecânicas de Ninja Gaiden 2 ou da dinâmica apresentada em Razor’s Edge, Ninja Gaiden 4 não irá atender suas expectativas. Dito isso, se souber aceitar Ninja Gaiden 4 como algo completamente novo, sem dúvida, é um dos melhores combates da atualidade e faz jus ao legado da série. 

Ninja Gaiden 4 tem um novo protagonista chamado Yakumo, um ninja do clã Corvo, cujo clã sempre trabalhou as sombras do clã Hayabusa. Ryu, protagonista principal da série, conseguiu selar o lendário dragão negro, no entanto, não foi possível matá-lo completamente e sua carcassa fez com Tóquio se tornasse um local poluído e perigoso. A missão do clã Corvo é eliminar o dragão negro de uma vez por todas e, para isso, eles devem primeiro liberar todos seus selos para então finalmente matá-lo. A história serve como pano de fundo para a ação, no entanto, ela desanda para o final do título com alguns eventos repentinos demais para resultarem em uma conclusão satisfatória. Ryu assume o papel de um coadjuvante e tem uma participação bem pequena no jogo, deixando bem claro que o foco está plenamente no novo protagonista. 

A parte mais importante de qualquer Ninja Gaiden sempre foi sua jogabilidade e NG4 mantém um combate rápido e bastante desafiador. Os comandos básicos de Yakumo são semelhantes aos Ninja Gaiden anteriores e isso traz um sentimento de familiaridade para veteranos da série, no entanto, as semelhanças param nesse nível mais superficial. As características da Platinum estão muito mais presentes como, por exemplo, um ritmo de combate mais rápido, uma importância muito maior para mecânicas defensivas, uma evolução focada no personagem e não nas armas e por aí vai.

A principal nova mecânica de Yakumo está em sua habilidade de sangue que altera a forma de uma arma. Por exemplo, a primeira arma de Yakumo é um conjunto de duas espadas e ao ativar a habilidade de sangue, suas lâminas se tornam drasticamente mais longas e são capazes de atingir uma área muito maior. Outras armas obtidas no decorrer da aventura tem transformações e mudanças mais interessantes, mas deixo para descobrirem as mesmas quando jogarem. Sendo um poder tão forte, os golpes utilizando a forma transformada consomem uma barra que é preenchida com o passar do tempo ou derrotando inimigos, especialmente pelo ataque de obliteração.

Para os que desconhecem, o ataque de obliteração é uma mecânica central da série Ninja Gaiden desde NG2, onde é possível executar uma finalização em um inimigo que tenha perdido algum membro como braços e pernas (cabeças, dessa vez, matam de vez os inimigos). Nesse estado sem membro, os inimigos podem realizar ataques de maneira desesperada e causar muito dano ao jogador, portanto, há um elemento de risco caso os inimigos permaneçam vivos. Em NG4, os golpes de obliteração de Yakumo são mais brutais do que os que Ryu executava, no entanto, há uma variedade muito menor de finalizações se formos comparar com Razor’s Edge. NG4, felizmente, traz uma melhoria considerável na detecção dos ataques de obliteração e, melhor ainda, com todas as ação e animações, a câmera, milagrosamente, dificilmente se torna um problema para a visibilidade do jogador. 

Os ataques de obliteração também preenchem um outro medidor que, ao preenchê-lo completamente, Yakumo pode entrar temporariamente no estado de frenesi, no qual golpes carregados que utilizem sangue eliminam instantaneamente qualquer inimigo que não seja um chefe. É uma forma rápida e excelente de matar vários inimigos fortes e, também, causar muito dano contra chefes. O desafio é conseguir preencher a barra, pois ela diminui gradativamente caso o jogador não ataque ou finalize inimigos. 

Essa mecânica traz uma vantagem considerável em se jogar NG4 como Ninja Gaiden anteriores, ou seja, de forma bastante agressiva. Posso afirmar também que jogar de forma extremamente agressiva é uma forma extremamente rápida e eficiente de ser morto. Os inimigos continuam bastante agressivos, porém, ao contrário dos demais Ninja Gaiden, eles também defendem, defletem e desviam de golpes de maneira consistente. Esse é um comportamento bastante comum dos títulos da Platinum, mas em Ninja Gaiden, o inimigo mais próximo existente dessa dinâmica são os alquimistas em Razor’s Edge e que eram absolutamente terríveis de se enfrentar. Felizmente em NG4 há mecânicas suficientes para lidar com esse cenário. 

Ao contrário dos jogos anteriores, mecânicas defensivas são drasticamente melhores em NG4. Yakumo pode desviar de golpes antes de acertarem e isso causa uma diminuição na percepção do tempo e tem vários frames de invencibilidade, algo bastante semelhante com Bayonetta. Contra-ataques já existiam em NGs anteriores, mas aqui eles são drasticamente mais fortes e dependem somente de acertar o botão de defesa logo antes do golpe acertar Yakumo (semelhante a Metal Gear Rising). O jogador também pode definir o tipo de golpe no contra ataque sendo esse com ou sem sangue, forte ou fraco e até um tempo mais preciso resulta em uma variação mais forte. 

A dinâmica principal do combate pode ser simplificada em utilizar combos e mecânicas defensivas para remover membros dos inimigos e finalizá-los com golpes de obliteração que, por sua vez, preenchem consideravelmente a barra de sangue e frenesi que são utilizadas para causar dano elevado aos inimigos ou simplesmente eliminar grupos inteiros. O combate é bastante rápido e frenético, portanto, é necessário que o jogador se adapte em utilizar todas essas mecânicas de maneira simultânea a seu favor. Agir somente de maneira agressiva faz com que Yakumo sofra golpes poderosos de seus inimigos e também não é possível permanecer num estado defensivo por muito tempo, pois há um limite de quantos ataques Yakumo pode bloquear e os inimigos podem desferir golpes que instantaneamente quebram a defesa. 

Pode parecer tudo muito complexo, mas o jogo faz um excelente trabalho em acostumar os jogadores com suas mecânicas e o primeiro chefe é uma verdadeira verificação da habilidade do jogador. Em minha experiência, eu iniciei o jogo na dificuldade difícil e o primeiro boss simplesmente me destruiu até eu entender a importância das mecânicas de defesa. Após algumas tentativas, fui capaz de alternar melhor entre combos e contra-ataques e, com isso, praticamente anulei toda a estratégia de ataque do chefe e ele tornou-se muito mais fácil de derrotar. Essa foi uma experiência consistente com todos os demais chefes e desafios do jogo, onde meu domínio das mecânicas foi aumentando e o nível dos desafios também aumentou de maneira bastante adequada. O resultado é que, pela primeira vez na história da série principal, Ninja Gaiden é um título com combate justo e bem equilibrado. 

Como um fã de longa data de Ninja Gaiden, iniciei o jogo na dificuldade difícil e logo me encontrei apanhando horrores logo nas primeiras fases e, portanto, não recomendo que outros fãs de longa data da Platinum ou da Team Ninja façam o mesmo, exceto se estejam procurando um desafio bastante punitivo. A razão para isso é que as dificuldades mais elevadas foram pensadas principalmente para New Game+, uma característica presente nos jogos da Platinum, mas não nos Ninja Gaiden anteriores. Ao fechar o jogo, você mantém suas armas, habilidades e melhorias, o que torna as maiores dificuldades mais manejáveis e, ainda assim, bastante desafiadoras. 

Falando em melhorias, NG4 também segue o molde comum dos jogos da Platinum. Não é possível melhorar armas como nos anteriores e, ao invés disso, é possível obter novos golpes e mecânicas compradas nas lojas do jogo. Como é característico da Platinum, há mecânicas extremamente importantes trancadas no início da aventura, no entanto, em NG4 o ganho de moeda avança de maneira extremamente rápida e o jogador é capaz de desbloquear praticamente tudo de maneira muito rápida. 

Consequentemente, o jogo inteiro é melhor equilibrado do que seus predecessores, porém senti que as armas obtidas mais para o final da aventura eram drasticamente melhores do que as do começo, o que diminui a usabilidade do arsenal de Yakumo. Outro ponto negativo é que Yakumo tem um arsenal aceitável de armas, no entanto, Ryu só tem acesso a sua dragon sword e a quatro ninpos (magias) e isso é muito pouco, mesmo que seja um personagem secundário no jogo. Além das armas, Yakumo também pode equipar uma variedade de amuletos que garantem efeitos especiais como defesa e ataques melhorados, absorção de vida dentro de determinadas condições e por aí vai. É uma forma simples e inteligente de customizar um pouco o personagem para se adaptar ao estilo do jogador. 

O jogo é dividido em capítulos e, ao final de cada um, é colocado um ranque para o jogador que depende da técnica, tempo, número de abates, número de itens utilizados e mortes. Ao contrário dos demais jogos da Platinum, o uso de itens não acarreta uma penalidade tão grande, sendo possível utilizar até quatro itens sem ter uma diminuição nos pontos ao final do capítulo (não utilizar nenhum garante um bônus). NG4 é bastante generoso com itens, sendo que esses podem ser obtidos por lojas, tesouros ou em missões opcionais que são disponibilizadas nos pontos para salvar o jogo. As missões do jogo envolvem usualmente encontrar um item ou derrotar um grupo de inimigos que está em um caminho alternativo.

Além dessas missões opcionais, também há portais que levam ao purgatório que são, essencialmente, arenas isoladas para combate. Essas arenas dão uma quantidade considerável de moedas e é possível optar por diminuir a vida máxima de Yakumo antes do combate para obter ganhos ainda maiores. NG4 tem uma quantidade considerável de conteúdo opcional e boa parte é liberada no New Game+. 

Ninja Gaiden 4 está disponível para PS5, Xbox Series e PC com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Xbox Game Studios.

Veredito

Ninja Gaiden 4 é um audacioso novo começo para a série trazendo uma nova dinâmica para o combate, mas que faz jus ao legado da série. Pode não ser o Ninja Gaiden que fãs de longa data estavam esperando, mas é um jogo excelente e um dos melhores títulos de ação da geração.

90

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