Análises

NBA Bounce – Review

Porque será que ficamos tão sérios? Houve um tempo não muitos anos atrás onde os videogames se permitiam mais desprendimento com o caráter realista dos esportes, algo que, parece, tem se perdido em uma indústria cada vez mais sisuda. Um jogo esportivo nos dias atuais, como o Madden NFL, o EA FC ou o NBA 2K, exige do jogador inexperiente, mesmo em seus níveis mais básicos de dificuldade, um conhecimento relativamente profundo tanto das regras em si quanto de comandos cada vez mais sofisticados e complexos.

Exatamente pelos pré-requisitos cada vez mais exigentes, é difícil convidar um familiar que pouco liga para uma lista interminável de comandos e jogadas para uma partidinha do que quer que seja, menos ainda uma criança que só quer apertar uns botões e ver no que vai dar. E é nesse vácuo que jogos como o NBA Jam deixaram no mercado onde entra a proposta de NBA Bounce.

Como um jogo de basquete diametralmente oposto ao nível de sofisticação da franquia que domina o mercado atualmente, ele busca na simplicidade da jogabilidade e no carisma de seus visuais o encanto para uma jogo familiar e casual, que pode ser apreciado por pais, filhos e avós sem barreiras especializadas. Em partidas no formato 3×3, as regras mais facilmente reconhecíveis estão lá, mas da maneira mais acessível que vejo em anos.

Assim, é possível arremessar, tabelar, marcar o adversário e até tirar onda em tocos incríveis, tudo isso com alguns poucos comandos instintivos a serem aprendidos quase que imediatamente. Não demora para que ousemos alguns alley-oop e outras enterradas performáticas sem o mínimo de esforço, curtindo a plasticidade que nossos personagens cabeçudos exibem em suas melhores jogadas.

A precisão dos arremessos, especificamente, fica por conta de uma barra que se carrega conforme seguramos o comando para chutar, e quanto mais distante do alvo, menor a janela para um tiro perfeito. Já interceptações, rebotes e assistências demandam uma leitura de timing mais sensível e menos visual, mas acaba funcionando pelo instinto ou pelo costume diante o adversário.

Desenhado com um objetivo muito claro, NBA Bounce tem em suas maiores forças, entretanto, suas mais evidentes limitações. A acessibilidade nos controles é proporcional a falta de profundidade da jogabilidade, então não adianta que o jogador queira variar muito sua estratégia ou busque emular uma partida mais tradicional, porque este nunca será o objetivo.

O maior problema disso está, curiosamente, na possibilidade do jogador querer se levar a sério demais e investir um esforço maior, porque o game não tem muito mais o que oferecer senão partidas amistosas no formato single-player ou multiplayer local (sem opções on-line), além de torneios de tiro curto, uma temporada que se limita aos jogos em si (disputados ou simulados) e ações sem muito compromisso futuro que, no máximo, liberam novos itens cosméticos e desbloqueáveis nem sempre convidativos.

Há, porém, um grande trunfo que aumenta muito a vida útil do jogo, sobretudo para quem tem mais gente em casa para uma bagunça. O Modo Festa (ou Cooperativo, como chamado na edição brasileira) transforma, de um modo sorteado a cada quarto, o conforto e o controle de uma partida convencional a partir de uma série de modificadores que podem ajudar ou atrapalhar (muito), de modo a tornar cada partida algo imprevisível.

Da cesta com uma tampa de privada que abre e fecha de tempos em tempos à uma bola que mais parece o Pikachu em dia de poucos amigos, a coisa fica bem caótica e se leva ainda menos a sério do que nos demais modos. É até possível excluir alguma das possibilidades antes a partida iniciar, mas bom mesmo e deixar rolar e ver o que acontece.

É um modo, porém, que se limita a partidas independentes e não pode ser acionado nem em torneios, nem na campanha da temporada em si, algo que seria muito bem-vindo para oferecer a ambos os modos uma sobrevida longeva. Uma pena, porque por mais que a baderna organizada funcione muito bem em disputas multiplayer, também poderia render uma variação maior nos modos para quem joga solo.

A escassez de conteúdo em modos de jogo, felizmente, não se repete na disponibilidade dos clubes pertencentes à NBA. Aliás, não há miséria na licença oficial da liga norte-americana, com a identidade visual de suas franquias totalmente presentes, incluindo escudos, uniformes e as estrelas do jogo, os mascotes em uma versão jogável que esbanja fofurice.

Sem contar com os jogadores mais conhecidos, as personagens humanas ficam a cargo de bonecos simpáticos, vários deles já pré-definidos, além de alguns desbloqueáveis, e da possibilidade de criarmos um ou mais novos avatares a partir de um construtor simples, mas bem diversificado. Cartunesco e cheio de opções disponíveis logo de cara, além de outras liberadas conforme jogamos, o editor cumpre muito bem o seu papel.

O visual do jogo, a partir desse pressuposto, esbanja carisma e se aproveita muito bem da amplitude de alcance dinâmico das cores em ginásios personalizados para cada time. Saturado, o jogo se apropria de uma texturização com solidez e pouca variância de contrastes na iluminação global, resultando em uma disposição artística que aposta no tom leve e despreocupado, reafirmando o foco na simplicidade e na diversão pueril.

Essa pegada transborda para o aspecto sonoro, com a sonorização ambiente que se aproveita de ruídos e efeitos reconhecíveis, bem como uma narração (somente em inglês) repetitiva, mas bem energética. Já as músicas que acompanham as partidas são agradáveis como as melhores trilhas dos anos 1990, sem nada que se torne realmente memorável, mas tudo muito coeso com a leveza proposta.

Como um todo, NBA Bounce é tão convidativo para os diversos perfis de jogadores que é improvável desagradar alguém, inclusive aqueles que exigem um pouco mais de desafio em seus níveis mais altos de dificuldade. Aliás, fica aqui a sugestão para o pessoal da Unfinished Pixel e da Outright Games olhar com carinho para o nosso bom e velho futebol para uma vindoura proposta assim, algo que faz muita falta no mercado atual.

A maior dificuldade deste jogo, contudo, será em manter a atenção a médio e longo prazo, quem sabe com conteúdo sazonal, parcerias com pessoas e personagens famosos, outras inclusões. Não sei se há planos para isso, mas sem incrementos, será um ótimo jogo para manter na HD para aquele domingo preguiçoso, mas não mais do que isso.

NBA Bounce está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch e PC (via Steam) com localização em legendas e menus para o português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Outright Games.

Veredito

NBA Bounce facilmente preenche uma lacuna do mercado atual por jogos esportivos menos compromissados com o realismo que domina as principais marcas do gênero. Mesmo com uma evidente carência de conteúdo a longo prazo, é carismático, encantador e de fácil assimilação por jogadores de níveis distintos, favorecendo a diversão boba em detrimento à imersão.

75

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