Análises

Puzzle Quest: Immortal Edition – Review

Há quem afirme – ou talvez só eu – que, depois de Tetris, nada mais nos videogames é original. E a tese, por mais extrema que possa parecer, não deixa de ter suas razões de ser. O princípio da combinação de pecinhas é simples, primordial, mas efetivamente funciona. É um formato que evoluiu, ganhou novos contornos estéticos e novas mecânicas complementares, mas em essência, é eterno. Candy Crush não nos deixará esquecer disso.

Provando que é um gênero que está para além do escopo mobile, onde encontrou e expandiu seu nicho, chega aos consoles de mesa e aos computadores Puzzle Quest: Immortal Edition, a versão definitiva de um clássico com suas quase duas décadas de história em diversas plataformas, contando com todas as expansões, atualizações e complementos lançados até então.

O jogo basicamente mistura as mecânicas de combate a partir da combinação de ícones – ou gemas, se preferir – iguais (na base de três, mas escalonando para quantas forem possíveis) com o desenvolvimento narrativo e a progressão de personagens de um típico RPG, nos colocando na pele de um dentre várias opções de herói cujo objetivo é a busca por expandir o reino e devolver os monstros e criaturas que infestam o mundo para a escuridão.

Para qualquer um que tenha experimentado o modelo de jogabilidade em diversos outros lugares, dos mais interessantes ao piores caça-níqueis disponíveis nas lojas virtuais de aplicativos para dispositivos móveis, nada aqui é um mistério. Os itens são divididos em formas e cores e é possível trocar de posição com uma gema próxima para combiná-las em linhas com no mínimo três itens iguais.

Dentro do sistema de batalha, a combinação gera mana específica daquele elemento (como fogo, água e ar) que, quando acumulados nos valores mínimos estabelecidos para magias de ataque e defesa, podem ser utilizados contra o inimigo, que fará o mesmo para tentar nos suplantar. O combate se desenvolve em turnos até que a barra de energia de um dos oponentes seja totalmente destruída.

Há gemas complementares no tabuleiro, como a com crânios que, combinados, desferem um ataque direto; estrelas que se acumulam à barra de XP; e moedas que se somam ao montante de dinheiro do nosso personagem. Ambos estes últimos exemplos serão necessários e muito úteis no momento de gerenciamento da progressão e evolução da campanha.

Combinações mais poderosas, com quatro ou mais gemas, garantem ainda um turno extra, sendo altamente recomendadas para uma vantagem diante adversários dos mais diversos, sobretudo os mais poderosos e de nível mais avançado. O uso de diferentes magias de suporte podem potencializar cada movimento, não só minando o inimigo, como trazendo alguns modificadores que tornam o campo de embate mais ou menos hostil.

Pelo lado de fora, todo o processo é bastante familiar na exploração de um mapa com pontos de interesse. Temos a nossa Citadela, onde recebemos missões e dialogamos com importantes figuras do reino, e outros espaços diegéticos em postos avançados, castelos a serem tomados e outros locais. São passagens que tratam da contextualização e dos motivos do conflito onde estamos imersos.

Cada uma destas localidades pode trazer suas próprias opções de comércio, como equipamentos e proteção, bem como um bar, local ideal para conseguir, de graça ou via um incentivo financeiro, informações importantes dos frequentadores. Pode haver ainda uma chance de missões secundárias e opcionais surgirem para aceitarmos ou não.

Por fim, há também a possibilidade de melhorias e construções novas em nossa Citadela, com torres de pesquisa (onde aproveitamos criaturas capturadas para desvendar novos movimentos especiais), forja (para criação de equipamentos novos e mais potentes), estábulos (onde podemos domar e treinar montarias exóticas) e outros. Cada nova instalação custa o dinheiro ganho dentro das batalhas e em recompensa por missões, então vale a pena investir.

Por sua vez, a gestão do nosso personagem pode ser feita a qualquer momento, trocando de equipamento quando conveniente, usando os pontos de experiência em atributos que favorecem a barra de vida, a força, a mana e mais, além de organizarmos as magias dominadas dentre que as que podemos usar nas lutas. Ainda temos que cuidar da montaria (que acrescenta um poder especial ao arsenal) e parcerias com membros da nossa party.

E se tudo isso parece tão complexo quanto os jogos de RPG e Action RPG mais sofisticados do mercado, a boa notícia é que gerenciar cada um destes aspectos é simples e intuitivo, algo que vai se apresentando aos poucos durante o progresso na campanha. São menus bastante diretos, sem floreios ou informações pesadas. Em questão de dois ou três cliques, tudo está preparado e pronto para seguir adiante contra o próximo monstro.

Puzzle Quest: Immortal Edition, para novatos de primeira viagem ou para aqueles que já conhecem a franquia de outros tempos, não foge à regra e tem uma interface de navegação e administração bastante amigável e minimalista, característica típica de jogos para telas menores e interações de toque. No controle, não parece ser tão rápido, mas é tranquilo e confortável, algo que poderia ser ainda mais afável se houvesse uma localização ao menos dos textos em português brasileiro.

O maior problema aqui é que com as vantagens de sistemas mobile, vem também suas limitações. O jogo é imensamente repetitivo e sua campanha, que agrega uma infinidade de conteúdos lançados para sua versão original ao longo dos anos, tais como Challenge of Warlords, Revenge of the Plague Lord e The Legend Returns, é bastante arrastada. A mínima variedade de gameplay se dá pelos ajustes nos golpes especiais, algo que é ínfimo diante o todo.

Isso significa que mesmo fãs confessos do modelo vão acabar, mais cedo ou mais tarde, esgotando o interesse nas partidas, principalmente em sessões mais alongadas. Piora o fato de que além das missões principais e complementares, há encontros aleatórios com inimigos no meio do caminho, arrastando uma simples caminhada em disputas que levam bastante tempo cada, principalmente quando nos arriscamos nas dificuldades mais elevadas.

O mesmo vale para os minigames de forja de equipamentos ou de treinamento de montarias, que se aproveitam das mesmas mecânicas com levíssimas modificações. Criar um item raro ou épico é um martírio, com tarefas que podem se estender para algo além da meia hora cada. Aquela espada ou aquela armadura que realmente importam estão entre as dificuldades Very Hard e Insane, e perder o trabalho de 40 minutos porque não há mais jogadas possíveis não é das coisas mais agradáveis para uma madrugada, acredite.

Pelo lado positivo, toda a construção visual é bastante elegante, com belas ilustrações, uma boa diversidade de amigos a serem recrutados e de heróis a serem escolhidos, e também de adversários a serem enfrentados. Há muitas magias diferentes a serem aprendidas e leva tempo até termos um set equilibrado que atenda plenamente nosso estilo de ataque, preparação e defesa. E tudo isso pode ser degustado sem uma sensação de urgência latente, com calma e parcimônia.

Em outras palavras, não é uma experiência de imersão permanente, e pode ser muito melhor aproveitado em doses homeopáticas. Minha experiência foi muito mais valiosa quando decidi jogar poucas partidas entre outras coisas. Mesmo com a necessidade de explorar o game intensamente pela demanda do review, posso dizer que o game se tornou mais proveitoso quando emulei a forma como eu jogo no meu smartphone: naqueles 20, 30 minutinhos de bobeira nos intervalos.

É, por fim, uma atualização pragmática, um grande compilado que busca reencontrar seu público cativo ou, quem sabe, novos adeptos nas mais diversas plataformas de mesa. É bonito, polido e bastante equilibrado, salvo quando pesa demais a mão em elementos periféricos, como a fundição de novos equipamentos ou nos encontros descartáveis com mais um troll aleatório no meio do caminho.

Com a expectativa no lugar certo, Puzzle Quest: Immortal Edition é um excelente expoente de um gênero que não parece tão volumoso nos sistemas mais pesados quando comparado à quantidade assombrosa de clones genéricos nos celulares e tablets. A repetitividade exaustiva de seu modelo de jogo é, porém, quase componente intrínseco ao seu sistema de progressão, e precisa ser considerado ao se decidir embarcar ou não na proposta.

Os elementos de RPG que dão substância ao encadeamento de confrontos não chega a encher os olhos, sobretudo em plataformas que contam com outras excelentes narrativas e mitologias, mas funciona a contento como aquela desculpa esfarrapada para a próxima jornada. Ao resgatar um clássico, o jogo está muito distante de renovar o gênero, e não tem qualquer intenção disso. Funciona como deveria, reafirmando a premissa que inicia esta análise, o que por vezes parece ser o copo meio cheio, e por outras, meio vazio.

Puzzle Quest: Immortal Edition está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch e PC sem legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela 505 Games.

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