Análises

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & the White Guardian – Review

Como fazer um jogo para celebrar uma franquia que já é, por si só, mais leve e descontraída que a esmagadora maioria? Esse é o grande desafio de Atelier Resleriana: The Red Alchemist & the White Guardian, mais novo título da franquia Atelier desenvolvida pela Gust e publicada pela Koei Tecmo, uma IP cuja popularidade vem crescendo justamente ao entregar títulos que oferecem jornadas mais leves e tranquilas em comparação com o que estamos acostumados a ver em JRPGs, mas sem deixar de contar boas histórias e constantemente mexer na sua própria fórmula de gameplay.

A última vez que a Gust se propôs a fazer um grande título com uma ideia de reunir diferentes protagonistas de títulos anteriores foi lá em 2019 com Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World com a grande diferença sendo o fato de que, enquanto lá tínhamos um simulador de construção de cidades tematizado, Resleriana é, tecnicamente, um título da série principal, seu 27° título de fato, e uma espécie de “sequência” ao título mobile Atelier Resleriana: Forgotten Alchemy & the Liberator of Polar Night, lançado em 2023 para celebrar o aniversário de 25 anos da série, cujos servidores internacionais inclusive já foram desativados.

A impossibilidade de acessar o título anterior não é um problema, no entanto. Já que, caso você não tenha tido contato nenhum com o jogo mobile, isso não irá afetar em muita coisa a sua experiência aqui. Embora a série tenha voltado a ter sequências mais diretas com Ryza e a subsérie “Secret”, aqui temos um retorno ao estilo mais clássico de manter o mesmo mundo, mas contar novas histórias, apenas mantendo alguns elementos em comum no estilo de jogo e trazendo personagens recorrentes de volta. Se você é um veterano aqui, pense em como as coisas funcionaram entre Atelier Sophie e Atelier Firis, por exemplo, e você terá uma boa ideia.

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian

Mas sobre o que é Atelier Resleriana: The Red Alchemist & the White Guardian afinal? O jogo gira em torno de dois personagens principais, com o jogador podendo escolher logo no começo qual dos dois irá controlar. Embora essa escolha não afete o desenrolar da história principal em si, já que os grandes momentos-chave sempre vão ter os dois envolvidos, alguns eventos mudam um pouco já que você os estará vendo de uma perspectiva diferente. É uma dinâmica que soará bem familiar para quem jogou Atelier Escha & Logy: Alchemists of the Dusk Sky ou Atelier Shallie: Alchemists of the Dusk Sea.

Aqui o jogador poderá controlar tanto a alquimista central da trama, a jovem Rias Eidreise, uma amigável e divertida aventureira que, durante a exploração de uma estranha masmorra, acaba encontrando um outro jovem aventureiro chamado Slade Clauslyter, que é basicamente um contraponto para Rias, sendo um guerreiro mais experiente, analítico e calmo em contraponto a personalidade mais “elétrica” da jovem alquimista. Ambos vem de uma cidade chamada Hallfein que foi afetada por um estranho desastre anos antes. Ambos acabam em um misterioso atelier situado dentro de uma caverna e, por motivações distintas, decidem trabalhar juntos nos esforços para restaurar a cidade e descobrir a verdade por trás de tudo que vem acontecendo.

Muito como o exemplo de Escha e Logy, a dinâmica entre os dois é o que faz o jogo brilhar. Por um lado, Slade, apesar de parecer sempre estupefato com a energia e empolgação de Rias, é seu maior apoiador, sendo inclusive o responsável por ela começar a fazer alquimia. Por outro, é o incansável otimismo de Rias que serve de combustível para que Slade entenda o misterioso bracelete que os permite viajar por diferentes dimensões e siga na jornada para entender o último pedido de seu pai antes de morrer, com o relacionamento entre os dois sendo a força-motriz da história.

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian

É uma fórmula com a qual a série já havia trabalhado, especialmente a dinâmica entre os dois personagens, mas uma que é sempre funcional e ajuda a construir uma história bem agradável dentro do que Atelier sempre se propõe a entregar, não foge muito do que já foi visto anteriormente. Não espere nada que vai mudar sua vida, mas, enquanto ela durar, você irá se divertir e se interessar pelo que vem a seguir. Afinal, dois jovens pulando de dimensão em dimensão para desvendar novos mistérios e conhecendo personagens fascinantes é sempre uma fórmula de sucesso, especialmente quando envolve interações entre vários protagonistas marcantes.

Mas nem só de protagonistas um jogo sobrevive (ainda que, de certa forma, seja o que mais temos aqui) e, muito como se tornou tradição, o jogo entrega um elenco de personagens bem complementar e bem divertido. Dos moradores de Hallfein, como a jovem Camilla, chefe do projeto de restauração de Hallfein (e irmã mais velha de Rias), e seu assistente Randolf (que também entregam uma dinâmica bem parecida com a vista em Escha & Logy), aos personagens que irão fazer parte da sua equipe, é um grupo que vai se complementando bem ao longo da jornada. O que, convenhamos, era de se esperar já que grande parte dos personagens que irão se juntar à você são velhos conhecidos da franquia e um verdadeiro hall da fama da IP.

Rias e Slade serão acompanhados em sua jornada por nomes importantíssimos da história da Gust. A começar pelo retorno do poderoso Razeluxe Meitzen, o Raze, protagonista de Mana Khemia 2: Fall of Alchemy, título lançado lá no PS2, passando pela saudosa Willbell Voll-Ersleid, a bruxinha que se tornou personagem recorrente na subsérie Dusk, e duas das protagonistas mais amadas que a franquia já teve na forma de Totooria Helmond, a Totori de Arland, e Sophie Neuenmuller, uma favorita pessoal minha e a estrela da série Mysterious. É um elenco rico e cheio de personalidades bem distintas com habilidades distintas que se complementam bem. Ver Rias aprendendo alquimia com duas mestras bem diferentes é um ponto alto por si só e enriquece o sentimento principal do jogo que é de alegria e celebração.

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian

A medida em que você trabalha para reconstruir Hallfein e desvendar os mistérios por trás da misteriosa habilidade de viajar por diferentes dimensões que o bracelete do Slade, o Geist Core, oferece, diferentes personagens irão passar pela cidade (ou você os visitará em suas respectivas dimensões), trazendo perspectivas distintas para a jornada. É aqui que você terá contato com os personagens do Resleriana original, inclusive a alquimista que, tecnicamente, dá nome à série, a jovem Resna Sternenlicht, e seus aliados no Polar Night Alchemists, e protagonistas de todo tipo de Atelier que já vimos, dos mais populares como Ryza (e Klaudia), Plachta, Ayesha, Logy e Marie até alguns bem mais desconhecidos, como Heidi, da visual novel/simulador de namoro Atelier Elkrone, e Vayne do primeiro Mana Khemia.

É um elenco bem grande de personagens e um que faz com que a jornada vista aqui seja bem interessante e bem legal de se explorar. Cada novo capítulo trará algo novo, seja pela curiosidade de ver a interação entre personagens bem distintos, mesmo aqueles que já habitaram em crossovers anteriores, seja pela forma como o jogo vai explorando os seus próprios mistérios. O ponto alto é que, apesar da estrela principal do título seja esse espírito de crossover, isso não quer dizer que seu plot central deixe a desejar e, embora seja um título muito mais para fãs do que para novatos, ele ainda é um título acessível para eles, já que a ideia não é só um “olha o que eu fiz no meu jogo”, mas cada personagem visto aqui realmente vem para contribuir com a história da Rias e do Slade.

Outro ponto em que o jogo retorna para celebrar suas origens é em relação ao seu gameplay. Atelier Resleriana é um título com uma pegada bem mais simples e acessível, mesmo em comparação com outros títulos da série que já não são tão complexos assim. Não espere encontrar as batalhas em ritmo acelerado, o sistema de síntese mais robusto ou gigantescos ambientes de mundo aberto que passaram a se tornar mais comuns nos títulos principais da IP desde o sucesso do primeiro Atelier Ryza ou, especialmente, com Atelier Yumia lançado no começo deste ano.

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian

Atelier Resleriana: RW retorna às origens. Aqui as batalhas são por turno, com uma pegada bem similar à vista em Atelier Sophie 2. Cada personagem age na sua vez, com a ordem sendo determinada pela agilidade de cada um e sempre visível através de uma linha do tempo à direita da HUD, com certos turnos tendo efeitos especiais, como a recuperação de HP ou AP (bem similar ao visto na série Trails da Falcom). Cada personagem pode atacar e usar itens ou habilidades, com ataques recuperando AP que é o recurso utilizado para executar as demais possibilidades. O jogo vai introduzindo alguns sistemas bem legais ao longo das batalhas, como o Multi-Actions, que te permite manipular a linha temporal das ações, e o Item Mix, similar ao combo de habilidades e que te permite aumentar o efeito dos seus itens ao combiná-los no meio da batalha (algo bem justo considerando a quantidade de alquimistas na sua party).

Outra forma de recuperar AP (e mitigar o dano) é defendendo durante os ataques inimigos, algo que pode ser feito só apertando X durante o combate e que, se feito na hora correta, reduz drasticamente o dano (e aumenta bastante AP) ao se executar uma Perfect Guard, te forçando assim a se manter atento durante todo o combate e não só no seus turnos.  A estrutura em filas também retorna, com os seis membros da sua equipe dispostas em duas linhas, com o jogador podendo alternar entre elas durante as batalhas, incluindo um sistema especial que, ao quebrar a barra de stun do inimigo, te permite usar TP para realizar combos especiais que causam muito mais dano (e é uma ferramenta especialmente útil contra chefes).

Fora de combate, o bom e velho esquema de andar pelos mapas coletando materiais para serem utilizados durante o processo de síntese. Aqui o jogo mantém elementos que você já vai ter visto antes, com diferentes caminhos se abrindo ao longo do jogo à medida em que você ganha novas habilidades, e permitindo acessar novas áreas antes bloqueadas. Adicionalmente, o título traz um certo elemento de desenvolvimento de cidades como em Nelke, já que você pode investir os lucros dos itens criados e vendidos pelo seu atelier para ajudar na reconstrução de Hallfein.

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian

 

O processo de síntese talvez seja o mais simples visto na série em bastante tempo, sendo talvez a maior “decepção” dele, visto o quão complexo as coisas vinham se tornando (ainda que nada supere o sistema visto em Sophie), com o jogador basicamente só selecionando os ingredientes do menu e pronto. Há alguns elementos interessantes, como ingredientes que servem de catalisadores para criar novos itens e slots extras nas receitas que te permitem melhorar os efeitos de cada receita ao incluir itens “livres” nela e carregar certas características deles através dos Gift Colors. Não é necessariamente um sistema ruim, mas é relativamente secundário em comparação ao combate e exploração que acabam sendo o principal foco aqui.

Por fim, sobre a parte técnica, Atelier Resleriana: RW é um título bem agradável visualmente. Se você prefere uma estética mais colorida e alegre vinda da série, é exatamente o que vai encontrar aqui, ao invés da abordagem um pouco mais séria que Atelier Yumia teve. A trilha sonora é espetacular como sempre, algo que a Gust sempre acerta, e o jogo roda muito bem no PS5, sem qualquer grande dificuldade técnica. Aqui é bom apontar que o jogo foge levemente do estilo de outros títulos já que ele roda na Unity, um legado do Resleriana original, então era previsível que o jogo tivesse um pouco mais de problemas, mas não foi algo que encontrei.

No geral, Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian é uma excelente celebração de toda a história da série, servindo quase como uma segunda celebração do aniversário de 25 anos dela, mas sem deixar de entregar uma história independente divertida e envolvente, mantendo o tom mais leve e aconchegante, que traz aquele calorzinho para o coração, típico de todo bom Atelier. O sistema de síntese mais simples e a falta de legendas em português são pontos fracos do título, mas rever personagens icônicos é um ponto que sempre vai ser positivo para alguém que já vem há tanto tempo sendo um pouco mais feliz simplesmente por algo como Atelier existir.

Atelier Resleriana: The Red Alchemist & The White Guardian está disponível para PS5, PS4, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Koei Tecmo.

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