Análises

Baby Steps – Review

Cair, levantar e seguir em frente. A frase muitas vezes usada em contextos motivacionais nunca esteve tão presente em um videogame como em Baby Steps. Idealizado por um trio de desenvolvedores independentes, e distribuído pela sempre irreverente Devolver Digital, o jogo conta com uma premissa engraçada, um forte tom de ironia e também uma das mecânicas de jogabilidade mais bizarras que já experimentei.

A história de Baby Steps gira em torno de Nathan, ou Nate, para os mais íntimos, um sujeito de 35 anos que leva uma vida sedentária, morando no porão da casa dos pais. Ele passa os dias jogado no sofá vestindo seu pijama esquisito, comendo porcarias, usando substâncias duvidosas e assistindo programas de TV.

Em mais um dia qualquer de sua existência patética, Nate é, por obra do destino, transportado de forma misteriosa para um mundo completamente desconhecido. Lá, ele logo percebe que a única maneira de deixar aquele lugar seria fazendo algo supostamente simples: colocar seus pés no chão e sair andando.

Baby Steps

Baby Steps faz uso constante de um humor sarcástico para criticar, de forma contundente, aspectos da sociedade moderna. Muitas das piadas têm um tom mais forte e não poupam o próprio protagonista, destacando traços marcantes de sua personalidade, como a aversão ao contato físico, o constragimento por não alcançar seus objetivos pessoais, o medo de ser julgado pelos outros e a dificuldade em criar laços de amizade.

Além disso, algumas cenas de nudismo são propositalmente exageradas, algo que chega a beirar o desconfortável — embora seja possível desativá-las nas configurações. Esse tipo de humor, no fim das contas, é bastante subjetivo. Quem aprecia piadas mais pesadas e absurdas pode encontrar em Baby Steps uma das experiências mais estranhamente engraçadas dos últimos anos. Já quem não se identifica com esse estilo, provavelmente vai se incomodar.

Baby Steps

Há também piadas mais leves, como a satirização sobre a ausência de um minimapa, o fato dos colecionáveis serem temporários ou a recusa do protagonista em usar sapatos. Esses detalhes, somados às animações de Nate andando de forma desengonçada ou caindo com seu traseiro avantajado apontado para o alto, ajudam a aliviar a frustração de uma jogabilidade que, embora desafiadora, pode se tornar desmotivadora ao longo da campanha.

Baby Steps pode até ser descrito como um simulador de caminhada e escalada, mas eu prefiro chamá-lo de um simulador de autotortura. A ideia é que você aprenda com seus erros, rindo das quedas e tropeços ao longo do caminho. Mas na prática, não é bem assim.

Toda a mecânica é baseada em alternar o uso dos gatilhos e apontar com o analógico para controlar, manualmente, as pernas de Nate. O jogo aproveita muito bem a função dos gatilhos adaptáveis do DualSense, permitindo ajustar o tamanho dos passos, posicionar os pés e ditar o ritmo da caminhada com mais precisão.

Baby Steps

Esse é um ponto importante, pois, ao longo da jornada por cenários repletos de obstáculos, será necessário interpretar não apenas as melhores rotas, mas também a forma mais adequada de avançar. Escalar uma pedra ou atravessar uma tábua estreita exige abordagens totalmente diferentes de simplesmente caminhar em linha reta por um terreno plano.

O mapa é completamente aberto e não há qualquer indicação direta de onde está o objetivo, embora ele geralmente fique no ponto mais alto de cada região. Há uma boa variação de cenários e biomas, com florestas, desertos, pantânos e muitos outros. Cada um deles conta com sua própria geografia, influenciando diretamente a jogabilidade. A liberdade de exploração é um dos pontos fortes do jogo, oferecendo oportunidades adicionais de interação com personagens, itens colecionáveis e até mesmo objetivos secundários.

Baby Steps

A direção de arte é competente, com cenários bem representados, bons efeitos de iluminação e até um ciclo de dia e noite. As animações dos personagens não estão entre as melhores, mas, de certa forma, combinam bem com a proposta despojada do jogo. Os movimentos elásticos e as reações de Nate ao cair, tentar se levantar ou até mesmo nadar mexendo suas pernas quase atrofiadas, estão entre os pontos mais divertidos.

O grande problema é que a campanha não é exatamente curta, e muitos cenários exigem uma boa dose de paciência para serem superados. A linha entre desafio e frustração é extremamente tênue, e pode se romper facilmente após passar muito tempo preso em um único obstáculo ou, pior ainda, ao ter que refazer um trecho inteiro por ter caído justamente quando estava prestes a superá-lo.

Baby Steps

E quando me refiro a “refazer um trecho todo”, quero dizer literalmente perder bons minutos se frustrando novamente com a mesma parte que você já havia passado. Um exemplo: certa vez entrei no jogo para continuar a campanha, e após uma queda, fui obrigado a repetir toda a seção anterior. No fim das contas, em uma hora de jogatina, mais da metade do tempo foi gasto apenas tentando voltar ao ponto onde eu tinha parado.

Essas situações são corriqueiras e vão minando a paciência do jogador ao longo do tempo. No início, esse ciclo de cair e seguir em frente é até engraçado, e a vontade de superar o desafio ajuda a manter a motivação. Mas a dificuldade vai aumentando gradualmente, e a graça logo dá lugar ao cansaço, especialmente quando você se vê refazendo pela décima vez um trecho após cair de um ponto alto do cenário.

Baby Steps

Com o tempo, a memória muscular faz com que a alternância entre os passos se torne mais natural. Isso também ajuda a entender como tirar proveito da física e qual é o posicionamento mais adequado de cada perna para facilitar a subida em um trecho mais íngreme ou a escalada de pedras. Porém, essa mesma mecânica pode prejudicar a jogatina em sessões mais longas. A melhor alternativa para aproveitar Baby Steps com certeza é em parcelas curtas. Assim, você minimiza a frustração e evita o cansaço causado por ficar apertando os mesmos botões repetidamente.

Outra característica bastante original do jogo é sua trilha sonora, que é gerada de forma dinâmica conforme o jogador explora os mapas. Ela é composta por sons do ambiente e da vida nativa, criando ritmos e batidas bem esquisitos, mas que combinam com sua proposta humorística, ainda que em alguns momentos possa resultar em barulhos incômodos ou repetitivos.

Baby Steps

Na parte técnica, o game roda sem maiores problemas de performance, mas engasgos ocasionais podem atrapalhar a experiência, especialmente durante momentos que exigem maior concentração para posicionar os passos com precisão.

Além disso, um erro grave de colisão no cenário prejudicou bastante minha experiência, fazendo com que o chão desaparecesse e eu despencasse livremente por um espaço vazio até uma região inferior do mapa. Isso me obrigou a refazer mais de duas horas de trechos difíceis, o que certamente comprometeu minha análise.

Baby Steps

No fim, Baby Steps é um jogo que certamente vai dividir opiniões. Fãs de humor ácido e de games que exigem paciência e dedicação podem se encantar com a liberdade de exploração, o desafio proposto e suas críticas ferrenhas à sociedade. Já aqueles que buscam uma jogabilidade menos punitiva provavelmente vão querer passar longe.

Baby Steps está disponível para PS5 e PC com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 (no PS5 Pro) e foi realizada com um código fornecido pela Devolver Digital.

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