Em um artigo escrito para a revista japonesa de estilo de vida feminino An An (via VGC), Hideo Kojima disse que assistiu recentemente ao filme Rokunin no Usotsuki na Daigakusei (Seis Universitários Mentirosos), de 2024, e que isso o fez refletir sobre suas entrevistas de emprego anteriores.
No texto, Kojima explicou que, quando começou sua busca por emprego em 1985, queria uma carreira criativa, mas estava em desvantagem porque havia um acordo entre empresas e faculdades, segundo o qual alunos promissores poderiam ser “comprados” e contratados rapidamente após a formatura.
“Como formado em artes liberais por uma universidade particular de segunda categoria, sem clubes esportivos, sem estudos no exterior e sem conexões, eu estava em considerável desvantagem na minha busca por emprego”, disse ele.
Embora ainda quisesse uma carreira criativa, Kojima percebeu que não podia se dar ao luxo de tirar um ano de folga ou fazer uma pós-graduação. “Não tive escolha a não ser mentir para mim mesmo e começar a procurar emprego”, disse ele.
Kojima lembrou que grandes empresas rejeitavam suas candidaturas com base apenas no nome da universidade que ele queria cursar e, quando conseguiu participar de entrevistas em grupo, “quando contei ao entrevistador que escrevo romances, fui recebido com risadas”.
Mentir passou a fazer parte do processo, disse Kojima. “Em algumas grandes empresas, se não lembrassem do seu nome na sessão informativa da empresa, você não passava para a próxima fase de seleção, então tinha que fazer perguntas inusitadas para chamar a atenção”.
“Todos não tinham escolha a não ser esconder quem eram e se adaptar à empresa, agindo como um camaleão. Essa falsa vida cotidiana estava muito longe da busca por um emprego dos sonhos”, explica.
Por fim, Kojima conseguiu uma entrevista com um fabricante de equipamentos médicos, onde revelou ao gerente de RH seus verdadeiros sentimentos. Para sua surpresa, o gerente de RH lhe disse: “acho que você se encaixa melhor em uma área criativa, Kojima. Vá em frente”.
Kojima disse que o conselho o convenceu a restringir sua busca às indústrias de jogos e brinquedos, para encontrar um emprego que melhor se adequasse ao seu sonho. “Eu não precisava mais mentir”, disse ele. “Falei sinceramente sobre minhas experiências passadas, os romances que escrevi e meu histórico criativo, e mostrei a eles meu portfólio de trabalhos e livros de ideias”.
É claro que isso acabou levando Kojima a ingressar na Konami em 1986, o que resultou em uma série de títulos icônicos, incluindo a série Metal Gear.
Kojima concluiu seu artigo apontando que tanto entrevistadores quanto entrevistados mentem durante o processo de entrevista, mas diz que sua experiência com o gerente de RH e o gerente de equipamentos médicos o ensinou a ser honesto nessas situações.
“Desde o meu segundo ano no mercado de trabalho, estou do lado das entrevistas”, disse ele. “Sou eu quem ouve as mentiras dos alunos. No entanto, os entrevistadores também mentem. Isso porque eles não estão apenas expressando suas opiniões pessoais, mas representando a empresa. Uma entrevista é um lugar onde as mentiras se encontram”.
“No entanto, eu não minto. Não porque represente a empresa. Eu interajo honestamente com os alunos. Também dou conselhos para aqueles que não são adequados para a função. Assim como o gerente de RH, cujo nome não lembro mais, que mudou a minha vida”, conclui.