Se há algo que eu realmente não esperava ver era um lançamento oficial da série Super Robot Wars no Ocidente. Por tantas décadas acessível para os fãs mais apaixonados por RPGs de Estratégia e animes de mecha apenas através dos lançamentos em inglês no Sudeste Asiático (ou em japonês para aqueles capazes de falar o idioma), ter o lançamento de um novo título aqui parecia quase impossível. Ainda mais um lançamento simultâneo no mundo todo.
Mas é exatamente isso que vemos aqui com a chegada de Super Robot Wars Y, o mais novo título da franquia da Bandai Namco que, embora não seja o primeiro título lançado internacionalmente (título que fica com Super Robot Wars 30 de 2021), é o primeiro a chegar oficialmente à plataformas PlayStation por aqui (o título de 2021 saiu apenas para Steam e Switch fora do Sudeste Asiático em inglês).
Esse novo título dá sequência ao espírito da série, trazendo uma nova narrativa girando em torno de algumas figurinhas carimbadas dos crossovers e alguns estreantes que chegam com um impacto mais do que digno da sua excelência. Afinal, a combinação fantástica de robôs gigantes de várias séries distintas, um bom gameplay e o foco em algo além do puro fanservice é algo que SRW faz muito bem e dá aulas para outras séries.
A história aqui gira em torno de dois protagonistas, Cross e Forte Tsukinowa. Eles têm acesso a um novo tipo de mecha conhecido como Lunedrache, tido como a melhor e mais poderosa criação da história dos mechas, algo especialmente útil quando um misterioso inimigo conhecido como Fuse resolve iniciar uma guerra em prol da dominação da Terra.
O ataque de Fuse é uma nova grande calamidade que só poderá ser evitada através da maravilhosa união entre diferentes heróis de diferentes franquias nessa batalha. Como em outros jogos da série, a escolha entre Cross e Forte (protagonista masculino e feminina) acaba alterando um pouco o fluxo da história, então, apesar de ser um RPG consideravelmente linear, você só conseguirá ver tudo que o título tem a oferecer se jogar ambas as narrativas.
Um ponto que cabe apontar aqui é que ela é, como em outros títulos da série, totalmente independente daquilo que foi visto nos títulos passados, então qualquer jogador interessado pode simplesmente pular aqui e ter uma boa experiência. Dito isso, o jogo faz referências claras aos acontecimentos dos animes/mangás apresentados aqui, então talvez você se sinta um pouco perdido. Ainda assim, o jogo traz um almanaque para consulta, o que ajuda a minimizar os possíveis impactos disso e, no geral, elas agem mais como pequenos easter eggs do que necessariamente algo que você precisa saber para compreender o que tá rolando.
Dito isso, a história de SRW Y talvez seja a mais clichê da série nos últimos tempos. Por um motivo, claro, já que ela entrega algo muito legal dentro do que se propõe, mas não espere grandes plot twists aqui já que as maiores revelações que ela tem a oferecer você conseguirá vindo de longe. Isso faz com que, apesar de ser muito boa, ela sirva muito mais como um palco que permite que personagens marcantes e icônicos como Lelouch e Suletta brilhem tanto por conta própria quanto, principalmente, pelas interações entre si.
Aproveitando a menção aos personagens, cabe dizer aqui que, após SRW 30 bater o recorde de maior crossover da história, SRW Y dá alguns passos para trás e entrega um elenco mais reduzido, mas ainda cheio de franquias importantes e personagens carismáticos. Há uma considerável presença de Gundam aqui, marcado tanto pelos clássicos como Zeta, SEED e Wing quanto pelo anime mais recente, The Witch from Mercury. Se juntam a ela como estreantes Macross, Getter Robo Arc, SSSS.Dynazenon e Godzilla Singular Point, além de algumas outras criações originais da série ao longo dos anos que estão presentes aqui.
Algumas outras IPs ainda farão sua estreia através de DLCs (como Kamen Rider Skull e The Brave Fighter of Legend Da-Garn), mas é um elenco bem robusto e interessante sem, necessariamente, exagerar na quantidade de séries. Algumas unidades presentes nos jogos anteriores fazem falta como Mazinger Z, Magic Knight Rayearth e Sakura Wars, mas o foco aqui é claramente em IPs da própria Bandai Namco, o que acaba limitando a presença de IPs assim, algo compreensível quando a troca parece ser a possibilidade da série chegar mais facilmente para um público maior.
Em termos de gameplay, você deve imaginar exatamente o que vai encontrar aqui. SRW adota uma estrutura simples e de fácil aprendizado, organizada em missões e “intermissões”. Nas missões, o jogador se desloca para uma cidade ou área espacial específica, onde enfrenta grupos de inimigos em batalhas por turnos. O sistema de combate é um RPG Tático, seguindo o padrão da franquia, no qual as unidades são movimentadas por um mapa quadriculado, similar a um tabuleiro de xadrez ou damas.
SRW Y segue a tradição da franquia de ser notavelmente mais acessível que outros títulos do gênero, mas não deve ser considerado fácil. Embora não haja permadeath, os inimigos priorizam consistentemente as unidades mais fracas, exigindo atenção constante aos movimentos, mesmo com as ferramentas de mitigação de erros fornecidas pelo jogo. O modo normal e até o hard são bem fáceis de manejar para os jogadores mais experientes, mas há um Very Hard bem mais desafiador e um modo easy para os novatos.
Um ponto que sempre merece elogio é que cada mecha possui ataques únicos e animações distintas que recriam muito bem os ataques vistos nos animes no estilo SD (Super Deformed) da franquia. Embora algumas unidades sejam claramente mais poderosas que outras, usar esses golpes potentes virá com limitações vinculadas à, energia ou moral. A energia é o recurso fundamental, sendo exigida pela maioria das ações. Cada unidade começa com uma quantidade base de EN (que pode ser aumentada com upgrades), e ataques mais fortes consomem grandes porções dela.
A moral é um sistema um pouco mais complexo. Cada unidade inicia com 100 de moral, que pode variar entre 50 e 150. Níveis mais altos (ou mais baixos) de moral concedem bônus (ou penalidades) aos atributos, e certos ataques só se tornam acessíveis ao atingir patamares específicos. A moral pode ser elevada através de habilidades (ou spirits) ou ao derrotar inimigos. Os Spirits Commands, são uma mecânica que retornam dos jogos mais recentes (introduzido lá em SRW X) e são habilidades que podem ser ativadas em combate usando Spirit Points (SP). Os pilotos começam cada partida com aproximadamente 25% da barra de SP carregada, e pontos adicionais são ganhos a cada rodada (o ganho pode ser ampliado com habilidades passivas ou comandos de aliados).
Essas habilidades variam desde acertos críticos garantidos ou maior facilidade nas esquivas até a recuperação de vida e redução quase total do dano recebido. O uso estratégico desses Spirits Commands é crucial, já que várias das missões basicamente exigem que você use e abuse delas estrategicamente para conseguir vencer.
A grande novidade desse jogo fica por conta dos Assist Links. Através dele, outros personagens dos animes podem se vincular às suas unidades e, através disso, prover algumas novas habilidades que são bem úteis em combate. A maioria delas são habilidades passivas ou habilidades de cura, mas cada uma traz um impacto grande no desenrolar do combate e usá-las também é algo bem importante para conseguir vencer os desafios que o jogo irá te entregar.
Por fim, sobre o sistema de evolução, ele é exatamente como os veteranos devem se lembrar e muito dentro do que se esperaria do gênero, sendo algo bem direto ao ponto. Ele se baseia em recursos obtidos ao derrotar inimigos e completar missões. Dinheiro é usado para melhorar unidades, comprando pontos em diversas categorias; XP é para aprimorar pilotos, adquirindo e equipando habilidades. É improvável que você consiga maximizar todos os recursos em sua primeira campanha, pois o jogo incentiva o uso do New Game+ com ambos os protagonistas.
Contudo, mesmo upgrades básicos facilitam bastante a progressão. Se a dificuldade persistir, há um modo de combate automático, embora não seja muito eficaz e game overs sejam comuns com ele. Cabe dizer ainda que o estilo gráfico SD da franquia é bem legal e se encaixa com a proposta vista aqui e a inclusão de canções originais das séries presentes no jogo o torna imperdível para fãs de robôs gigantes. Embora um desafio maior fosse bem-vindo, a vasta quantidade de fanservice, das belas animações de combate aos diálogos, compensa qualquer falha.
Dito tudo isso, Super Robot Wars Y é um título que mais do que faz jus ao nome que carrega, sendo um prato cheio para os fãs de animes com mechas e de RPGs de Estratégia. É um título bastante extenso, especialmente se você considerar os dois playthroughs, missões extras, DLCs, chefes opcionais e outros elementos. O cuidado em oferecer uma experiência coesa e duradoura é digno de elogios e irá agradar aos mais apaixonados pelo gênero sem qualquer sombra de dúvidas.
Super Robot Wars Y está disponível para PS5, Switch e PC. O jogo não possui legendas em português. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Bandai Namco.