Com décadas de mudanças e lançamentos, a indústria dos videogames é algo que já nos entregou marcos ao longo desses anos que realmente mudaram a forma como os caminhos futuros foram definidos. Dos primeiros plataformas a ascensão dos metroidvanias, das corridas arcades aos simuladores, dos RPGs de 8 bits ao RPGs de ação cinematográficos e mais. São vários os exemplos de evolução que foram foram definidos por títulos de impacto que aprimoraram um gênero.
No início da fase dos jogos em alta definição, na geração do PS3 e Xbox 360 principalmente, o poder dos novos consoles foi suficiente para um salto não só visual em relação a geração anterior, mas também em novas tentativas e melhorias dos formatos já conhecidos. Pelo lado do PlayStation sabemos o impacto que teve Uncharted, jogo de ação da Naughty Dog, que mostrou poder e aperfeiçoamento do gênero. Mas mesmo antes dele, pelas mãos da Epic Games, Gears of War surgia como exclusivo do Xbox com um impacto imenso e impulsionando os jogos de ação e tiro em terceira pessoa com cobertura que exponenciou o estilo de jogos por anos à frente.
Com quase 20 anos desde o lançamento original, o impacto de Gears of War ainda pode ser visto em diversos jogos de ação ao longo desse período. Tendo refinado o estilo da câmera no ombro para jogos com foco na ação quase ininterrupta, sistema de cobertura dinâmica e combate onde inimigos usavam as mesmas ferramentas, o primeiro jogo da franquia foi um grande sucesso logo de cara e seguiu até mesmo ao chegar nos PCs. Agora, com as novas mudanças na publicação de jogos da divisão Xbox, a série chega pela primeira vez no PlayStation com sua versão Reloaded, sendo a mais completa e com maior repaginação visual até então.
Gears of War: Reloaded é a versão definitiva do jogo original, que traz Marcus Fênix voltando a ativa anos depois do primeiro ataque dos Locust contra a humanidade no planeta Sera. Com a coalizão humana tendo arriscado tudo para se livrar da ameaça e com pouco sucesso na causa, todos os soldados remanescentes são fundamentais para uma nova e desesperada tentativa de virar a guerra a favor dos humanos.
Com a reativação de Marcus nas forças da COG e o desenrolar dos eventos iniciais, o protagonista assume o controle do seu esquadrão e marcha como a última força na missão de tentar impedir o avanço dos Locust contra a última cidade humana ainda de pé. Com isso, avançar em território inimigo, enfrentar perigos distintos no dia e na noite, ir até o subterrâneo e na casa do inimigo, além de enfrentar grandes monstruosidades é só um pouco do que espera os jogadores aqui, principalmente aqueles que sempre ficaram no PlayStation e não puderam aproveitar a experiência antes em um console da Microsoft ou mesmo no PC.
Com uma campanha que pode ir de 8 a 10 horas, possuindo 4 dificuldades diferentes e já disponível para cooperativo em 2 jogadores desde o início, online ou em tela dividida, a experiência desse primeiro passo no universo ainda é algo incrível. A ação frenética em diversos pontos, armamento único e estilo de jogo que favorece a ofensividade mas também entrega a tática das coberturas é algo excelente quase duas décadas depois.
De certa forma, a estrutura do jogo segue praticamente inalterada, mas conta com alguns ajustes aqui e ali. Se você jogou o original vai perceber isso e que a essência é praticamente a mesma, apenas com adições de melhorias e sem novidades de peso exclusivamente para este lançamento. O sistema de reload ativo ao apertar novamente em certas janelas para maximizar sua arma continua presente e bem funcional. Além disso temos a clássica Lancer com serra acoplada que entrega um dos mais prazerosos finalizadores corpo a corpo dos jogos de ação, simplesmente partindo ao meio um inimigo. Toda a parte do gore visual, explosão de corpos e sangue se espalhando continua como marca registrada aqui.
A única questão negativa é que, em certos pontos, o peso da idade acabou chegando ao jogo. Para a campanha, o design de mapas com certeza já é datado em alguns pontos e deixa o sistema de cobertura não tão impactante como antes. Além disso, a carga narrativa e dramática é algo que só foi mais explorado nas sequências e o primeiro título hoje é visto como uma grande sequência de ação e nada muito diferente. Isso talvez reforce mais a intenção da época com jogos de ação mais crus e puros, sem muita disseminação do próprio gênero e inclusão de vários outros fatores.
Reloaded usa de base a Ultimate Edition já lançada aprimorada no Xbox One, mas agora com uma nova pincelada de aprimoramentos gráficos e visuais. Com 4k e 60 quadros por segundo na campanha, indo até 120 fps no multijogador, o título aprimora tanto a parte técnica quanto eleva ainda a remasterização já entregue antes na geração anterior. A Epic Games já não toma conta da franquia há anos, mas a The Coalition, estúdio criado pela Xbox exclusivamente para Gears of War, entrega um trabalho excepcional na Unreal Engine aqui.
Uma outra grande vantagem de Reloaded é trazer a experiência mais completa possível. Além da já citada campanha e suas opções, temos a inclusão de uma pequena parte jogável single player que não existia no jogo original de 2006, e também as diversas opções que o modo multijogador recebeu ao longo dos anos, como todos os mapas já lançados, assim como skins de armas e personagens jogáveis.
Em 2006, um grande impacto do jogo foi exatamente a porção multijogador. As partidas de 4 contra 4 eram febre no lançamento do Xbox 360 e algo que moveu um público que ansiava por algo assim até que o próximo Halo fosse lançado. Brutal e frenético, o multijogador foi um sucesso e, mesmo que talvez seja diferente do que foi almejado na época e já comentamos um pouco quando pude aproveitar a beta do Reload antes, continua divertido para os que curtem o estilo.
Talvez aqui, principalmente para mim, é mais um fator que mostra um pouco o peso da idade no jogo. Uma estrutura multiplayer de 2006 é algo completamente diferente dos moldes que temos hoje. Muito cru e praticamente entregando a mesma experiência da campanha mas agora contra outros jogadores, o modo é relativamente simples e tem como maior destaque a sua variedade de mapas.
A jogabilidade sempre vai ser o tradicional desespero de correr com shotgun em mãos e tentar tiros rápidos e sem mira enquanto rola ou esquiva entre coberturas numa expectativa de fugir de tiros inimigos. Mesmo com diversos modos de jogo e mapas variados, não espere um multijogador mais tático aqui. Apesar disso, o multijogador como um todo é uma opção divertida e complementa o pacote total mesmo sendo uma proposta diferente do aspecto atual. Serve muito até para suprir a ausência do modo Horde, que só foi chegar em Gears of War 2 e que obviamente não está incluso aqui.
Entretanto, há pequenos problemas quanto ao netcode e principalmente matchmaking. Em parte pode ser pela falta de jogadores antes do lançamento oficial, mas mesmo isso não pode ser desculpa para gerar times desbalanceados, com partidas de 4 contra 2 ou até mesmo de veteranos de nível alto contra novatos. Talvez algumas atualizações ajudem nisso, mas historicamente os matchmakings de todos os Gears da época sofreram com problemas similares.
Gears of War: Reloaded é a melhor versão possível de um jogo que se mostra atemporal e que foi responsável por impulsionar a onda de jogos de ação em sua época. Pequenos sinais de envelhecimento são normais para um título de quase duas décadas, mesmo tendo uma excelente melhoria visual e técnica. Quanto ao lançamento no PlayStation, o jogo facilmente pode angariar um novo público e que pode ficar interessado em mais, principalmente com um lançamento inédito da franquia já preparado para o próximo ano.
Gears of War: Reloaded está disponível para PS5, Xbox Series e PC com dublagens e legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 (no PS5 Pro) e foi realizada com um código fornecido pela Xbox.